No texto sobre Indústria Cultural o filósofo Adorno se propôs pensar criticamente a cultura de seu tempo. Indústria cultural não é um termo isolado, mas é a forma contemporânea de produção da cultura. A ideia de Indústria aplicada a cultura também é alusivo ao fato de que não só houve a “Revolução Industrial” nos modos de produção de bens (roupa, sapato, perfume, carros, carroças….)
O outro tema do texto é em que sentido a Xuxa, rainha dos baixinhos, é um exemplo muito importante dessa indústria entre nós Brasileiros.
Imagem do blog Mulheres e Homens bem resolvidos |
Voltando ao texto de Adorno sobre a Indústria Cultural, para ele essa indústria é “pornográfica” e “puritana”. Aparentemente os assuntos são opostos, mas podemos notar que eles andam juntos.
Nos finais de 80 e início de 90 a rainha dos baixinhos entrou em cena. Depois de atuar como “modelo”, ela acabou “arrumando” um emprego (trampo) “maio dá hora”, isto é, muito bem remunerada.
Vestindo-se com roupas curtas e ladeada pelas paquitas, Xuxa naturalizou a ideia: “o que é bonito é para se mostrar”, isto é, a “putificação” (termo do cantor Lobão) da mulher brasileira, começando quando ainda são crianças.
É claro que há um sutileza. Xuxa não é promotora da pedofilia na modalidade combatida pelo Datena, o arauto do cassa ao pedofilo e incentivador do Estado de excessão ou marcial, na medida que insinua que “bandido” deve “levar chumbo” e não julgado por um juiz/judiciário.
Retirado de http://barradascomunicacao.wordpress.com |
Talvez a putificação seja mais subproduto, pois será injusto e calunioso dizer que Xuxa é promotora da pedofilia. Xuxa nunca veiculou objetivamente algo do gênero; e mesma a pessoa dela não faria isso; seu filme pornográfico é outra história, outro contexto.
A questão a ser posta talvez seja “em que medida aquelas suas roupas e paquitas não produziram efeitos colaterais?”. Toda a gestualidade das suas danças, todo o fetiche que se tornaram as “paquitas”, com “colans”(um tipo de biquine e maiô), aquelas caças grudadas no corpo, mostrando toda a “sinuteta” do corpo feminino e, de certo modo agussando ainda mais os “púberes”. Esse contexto, planejado por profissionais da comunicação e promovido por uma das maiores emissoras de televisão da época, a Rede Globo, não era mero acaso. Tinha como propósito impor no Brasil a cultura do consumo de massa. Era preciso associar a Xuxa a brinquedos, sapatinhos, batons, “banbolês”; o imperativo era consumir.
Esse assédio não havia encontrado institucionalmente uma resistência. A fundação do Instituto Alana é essa reação da sociedade civil organizada. http://alana.org.br Uma instituição dedicada e com recursos financeiros para atuar juridicamente contra os assédios do consumo às crianças. Xuxa é comprovadamente assediadora de crianças para o consumo. Suas “sandalinhas de sautinho” para crianças de 6 anos de idade está interferindo objetivamente nas meninas da pré-escola. Elas não correm e brincam mais na hora do recreio; com saltinho não dá. As roupinhas semi-eróticas da Xuxa, da Eliane ( a dos dedinhos, com uma roupinha curta) é uma erotização das infância.
Xuxa portanto fez muito mau na medida em que serviu e foi o ponto visível de uma estratégia Indústrial: cria no Brasil rual uma mentalidade de consumidores de massa.
Xuxa não é cultura, é cultura de massa, fruto da Indústria Cultural. Ela é pornográfica no sentido de que a erotização é a forma mais eficiente de liberar o consumo, de fazer as pessoas desejarem e ter apetites da mesma ordem do sexo pelo novo celular ou o tênis mais da moda(na minha infância era o Nike).
Enquanto isso, outra faceta da cultura de massa tem sua materialização nos jornais policiais. Cidade Alerta é um marco da outra face da cultura de massa, o puritanismo. Onde o bandido deve ser linchado, o bandido é o sanguinário; o pedofilo deve ser morto brutalmente, (apedrejamento, linchamento; violação do seu corpo para que ele possa pagar….)
Retirado da Wikipedia |
O puritanismo também tem longa história. A narrativa é mais um boletim da delegacia e do pronto socorro. Aliás, quando peguemos os milhares de “jornalzinhos” pelo interior do Brasil, podemos observar claramente que os “amadores” de comunicação tem para si que jornal é narrar os boletins da policia local.
Para finalizar essa onda de puritanismo temos as Igrejas da Televisão. É padre “saradão” e pastores bonitões. Todos exaltando um bem estar que é travestido nas roupas bonitas, nas físico agradável, na eterna juventude. Entre eles Malafai é o baluarte da cassa aos homossexuais. Se arrogou o direito legislativo e quer transformar uma conquista em crime. É a face do facismo aliado a religião, coisa que dá calafrios, pois na base do nazismo, do facismo, etc…. são esses os elementos fundamentais para as barbaridades.
O que ninguém quer saber é que os puritanos são os maiores pornográficos.
Espera-se desses atores que eles possam repensar suas posições. Analisar em tempo e ver se as repercussões de suas ideias gera o que eles mesmos desejam. Ao contrários dos puritanos, não esperamos que sejam linchados, mas que sejam enquadrados dentro das invenções da democracia.
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