Xuxa já esteve melhor na mídia. Tendo abusado dos recursos
estéticos para apresentar-se como rainha dos baixinhos descobriu um novo
meio de reposicionar sua imagem agora que as rugas já lhe são
indisfarçáveis num rosto que lembra máscara de carnaval.
A ex-modelo, que começou sua carreira como acompanhante de
personalidades famosas e posando para revista de mulheres nuas, num
tempo de ditadura militar e acentuada rigidez moral, colou sua figura na
do rei do futebol Pelé.
Como chegou até a ele só os “books” de casas noturnas
poderão revelar, mas o fato é que tendo chegado a Pelé e aparecido em
capas de folhetins de celebridades – que vendiam então bem mais que hoje
– como loirinha do rei, foi mais fácil aproximar-se de outro dos
famosos, de quem se dizia recorrer a figuras femininas para dissimular
publicamente sua homossexualidade: o piloto Ayrton Senna.
Morto o corredor e dispensado o jogador, dado a forte rejeição
demonstrada pela classe média para quem se apresentava, ficou fácil para
a garota, mediante o uso de gestual circense e completa alienação (e aí
entra o seu talento) transformar-se num dos ícones da televisão
brasileira para o público infantil, com incumbência de preparar toda uma
geração para tornar-se telespectadora das novelas da Globo.
O papel nefasto representado pela agora conhecida Rainha dos Baixinhos,
termo grotesco que ela mesma cunhou para referir-se a crianças, é parte
expressiva da deseducação a que foi submetida a população infantil nas
últimas décadas, transformada em consumidores precoces e aves de
repetição dos slogans da emissora.
Não é possível entender o domínio ideológico da Rede Globo de Televisão sobre diferentes públicos sem entender como atuaram seus peões para manipular corações e mentes de diferentes idades. Xuxa
foi uma falsa criança-adulta, forjada pela emissora para obter
audiência a qualquer custo, mesmo que ao de imbecilizar milhões,
expondo-os, dessa forma. a ação de aproveitadores do mundo real.
Não bastasse o veredicto dos fatos, Xuxa tem contra si um peça
acusatória que prefere manter oculta aos olhos do grande público mesmo
que ao preço de milhões de reais pagos ao seu detentor, o produtor de
cinema Aníbal Massaine, apresentado a ela por Pelé quando a modelo
tentava a carreira de atriz pornô. Trata-se do filme Amor estranho amor, de 1982, em que a apresentadora protagoniza cenas de sexo com um adolescente.
Por essa razão espanta que a secretária de direitos humanos da
Presidência da República, Maria do Rosário, conceda status de
exemplaridade a apresentadora Xuxa depois que essa, em novo golpe
publicitário na mesma emissora que a erigiu como falso mito, tenha vindo
a público declarar-se vítima de abuso sexual.
Se vem ao programa de maior audiência da TV para falar de abusos,
apenas o faz para fazer parecer mais humana a face da emissora que a
projetou, no intento de retirar o peso que recai sobre a empresa de
haver ganhado bilhões de reais manipulando crianças e sobre ela mesma,
Xuxa, de haver contribuído para a erotização de comportamentos infantis,
isso sim contributo maior que tudo à propagação de abusos contra a
infância em nosso País.
Mas o que mais chama a atenção no caso das declarações de Xuxa é o
fato de a apresentadora ter tomado a iniciativa de mostrar-se defensora
dos pequeninos exatamente quando a ação que lhe move o produtor do filme
para a exibição da película, retomada desde 2010 por motivos
pecuniários, estar prestes a ser julgada na cidade do Rio de Janeiro.
Luiz Cezar é economista, linguista, mestre em
Cultura, mestre em Tecnologia (todos pela USP) e master em Gestão
Econômica de Projetos pela GV.
Texto publicado no Jornal Correio do Brasil acesse aqui
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