Introdução à Filosofia

Introdução à Filosofia

Introdução à Filosofia Maçônica

 

Prof. Me. Cídio Lopes de Almeida

amf3

 

Notas a edição de 2020

O presente texto pedagógico foi elaborado no contexto de cursos presenciais feitos em São Paulo, Capital, no bairro do Butantã. Na atual edição, em 2020, em plena pandemia de Covid19, fizemos correções de ordem gramatical, além de ligeiras correções conceituais. O trabalho foi direcionado a pessoas interessadas em maçonaria e outras formas de agremiações semelhantes. Sempre procuramos justamente mostrar como há conteúdos compartilhados com várias outras práticas de formação humana, nunca sendo algo exclusivo dessa ou daquela sociabilidade certas técnicas pedagógicas, certos temas de filosofia. Na atual edição o contexto de nossas atividades docentes se desprende da sociabilidade maçônica e com isso fazemos dois movimentos importantes. A construção de método próprio, fruto de longos anos de nossa prática docente, como a oferta de formação descolada dessa ou daquela sociabilidade, ofertando justamente nossos serviços de formação a qualquer um que assim estiver interessado.

 

 

 

1. Introdução à Filosofia Maçônica

Falar de Maçonaria nos dias de hoje pode não ser uma tarefa fácil. A profusão de dizeres, frases, que se encontram veiculadas nos mais diversos meios de comunicação, sobretudo a internet, só auxilia mais a confusão.

O ponto de partida para nossa conversa nesse curso de Introdução à Filosofia Maçônica tem como referência, então, o que chamamos cultura de massa ou cultura feita para as massas. Será daí que teremos de partir para se compreender melhor o que é essa sociabilidade que tanto desperta o interesse das pessoas ao longo de vários anos e, sem dúvida, a mais de três séculos. Sem compreendermos o que é a cultura de massa, podemos correr o risco de continuarmos a não entender nada de Maçonaria. Esse vírus, esse modo de vida, aliás, pode até mesmo afetar membros já iniciados nessa sociabilidade.  

 

 

2. Cultura de massa

Sobre cultura de massa podemos começar a caracterizá-la por ser um tipo de cultura recente. Ela é estribada no consumo. Toma o centro do tecido social a ideia de que é o consumo de bens e mercadorias que deve ser o centro do cometa. A qualquer outra dimensão da pessoa humana aí envolvida resta as partes externas do cometa e, infelizmente, as coisas que são próprias do humano costuma ocupar a cauda do cometa, ou seja, vão a reboque do centro que é o consumo.

Parece simples, mas vamos nos deter ainda um pouco, para de fato poder compreender o que é esse fenômeno no qual vivemos. Ao reduzir todo a vida social à ideia e as praticas do consumo, algo no âmbito do humano também muda. O modo como se vê a vida, como nos relacionamos uns com os outros e por aí vai. Certamente já conhecemos a dura realidade, por exemplo, que aflige os jovens e que podemos sintetizar na frase: para ser alguém, eu tenho que ter alguma coisa.

Parece apenas um trocadilho de palavras, bonita, mas que não diz nada. Explicando de outro modo, então, na sociedade do consumo o importante é TER. Ter um carro, roupas, poder e dinheiro. No raciocínio da sociedade de consumo, então, é importante ter um carro para arrumar uma namorada; ter um bom emprego para comprar roupas, aparelho de som; nessa sociedade nem mesmo se faz a pergunta e onde fica o SER? Essa pergunta, aliás, parece ser estranha, pois o TER é confundido com SER e, portanto, as pessoas lhe olham já de lado quando se dúvida dessa verdade.

Em uma cultura que em que é estranho fazer a pergunta pelo SER, pois o TER é o que vale; uma outra coisa na subjetividade também se modifica. É o propósito que se tem para com a vida. Esse propósito nós podemos chamá-lo de VONTADE. As pessoas passam a desejar, ter vontade em ter coisas como se fosse isso o mais importante. Esse desejo é tão insuflado pelas mídias que ele fica superdesenvolvido. Fica maior que o próprio corpo da pessoa. Fica viciado em querer as coisas que são ofertadas pelas promoções, pelos cartões de crédito, a ponto de quando já tem algo, ignora esse algo, e já se fica de olho em outras coisas.

Esse indivíduo passa uma vida toda procurando ter, mas não sabe usufruir o que tem. Ele compra um belo carro, um que tenha o maior número de cavalos, só para dar “cavalinho de pau” na avenida onde os jovens se reúnem. Ele nunca se pergunta se o carro com tanta potência de fato será útil para ele SER.

Nesse novo modo de ver a vida surge um novo indivíduo. Ele tem desejos que satisfaça apenas aos olhos, que seja agradável, que deixe os olhos fascinados. Uma outra coisa que chama a atenção dele é o que agrada a garganta ou ao paladar: comemos até ficarmos gordos. Comemos todo o momento, comemos por ansiedade, comemos quando vamos a praia, comemos quando vamos ao shopping. Por último, outra esfera que muito chama a atenção na cultura de massa, é o apelo ao sexo. Uma dimensão básica da pessoa humana e que é usada como um recurso infalível para quem pretende vender produtos a serem consumidos. Em quase tudo, na sociedade do consumo, o sexo, a mulher bonita, é utilizado para vender e consumir.  Esses pontos, o olho, o paladar e o sexo, são fundamentais para a cultura que se organiza a partir do consumo e será esse jeito de SER que afetará e empobrecerá o ser humano na cultura de massa ou de consumo, pois ser humano é antes de tudo Ser.

Esse indivíduo, portanto, terá como propósito de vida algo que em muito expressa esse consumismo externo. No seu interior, irá lhe agradar as coisas rápidas e que não delonguem muito tempo. Coisas que não agradam aos olhos, a garganta ou ao sexo, não serão tidas em alta. Esse mesmo indivíduo, também, não consegue ficar muito tempo fixado em algo, pois acostumado com as ofertas da televisão, dos outdoors, ele fica tão excitado com as várias possibilidades que acaba não se dedicando a nada. A internet é um exemplo disso, quem não conhece o poder da internet perde tempo com ela. Sua ambiguidade consiste em poder nos levar a lugares longínquos ou a lugar alguma.

É nesse contexto do indivíduo consumista que atualmente se prolifera os comentários sobre a Maçonaria. Isso não quer dizer que em outras épocas não existissem problemas. Lá pelo ano de 1780, só para pegar uma data, as superstições, os medos dos fenômenos naturais, os governos de extrema desigualdade social, constituíam um grande problema a ser enfrentado pela Ordem Maçônica. Nos nossos dias, apesar das promessas de democratização do conhecimento, da universalização do acesso a educação, enfrentamos problemas de falta de conhecimento. Acrescenta-se a isso os traços do indivíduo consumista que descrevemos acima. Constituindo assim, além da falta de conhecimento, o individuo consumista um problema a ser tratado e superado pela Ordem Maçônica.

Como dito, por um lado temos um indivíduo que deseja muito, pois assim as mídias o obrigado todos os dias, todas as horas, e entre as suas esferas de desejos encontra-se, também, questões ligadas ao sobrenatural. Poderes capazes de passar por cima das regras sociais para, então, lhe ofertar a realização dos seus maiores desejos. Como muitas das vezes as vias normais são demoradas, e até impossíveis, apela-se para qualquer coisa. Aí temos duas instituições que são procuradas, uma é a Igreja e outra a Maçonaria. Nessas duas instituições teremos quem tira proveito disso, mas nas duas será sempre problemático um indivíduo que procura respostas imediatas e materiais.

Nesse confronto do interesse imediato, do indivíduo que ainda não conseguiu tomar consciência das artimanhas da cultura ou sociedade de massa acaba não compreendendo o que seja a Maçonaria. Na Maçonaria o que mais apresenta-se como problema é a necessidade da pessoa comum em ter resultados imediatos, sendo os propósitos dessa sociabilidade algo a longo prazo. Nesse sentido, a filosofia maçônica, como todos os conteúdos da Escola AMF3, que ofertamos na forma de cursos, começam por dissuadir esses engodos da sociedade de consumo e, depois, por fornecer os caminhos para uma vida que passa a ser vivida como um PROPÓSITO. Aqui o propósito, ou a VONTADE será tratado e estimulado a se portar de outro modo.  Com a proposta do nosso método AMF3 desenvolve-se nas pessoas uma VONTADE que rompe com o imediato no seu sentido negativo de ser algo descontextualizado. O imediato continua a existir, mas ele é subordinado a um projeto de longo tempo. O método trágico, como técnica simbólica de formação, propõe justamente esse roteiro que nos auxilia a equacionar ter e ser; sem colocar  Ser como sendo o mais importante, mas justamente ensinando a equilibrar as duas dimensões.

Parece simples, e muita das vezes as pessoas que adentram na sociabilidade não conseguem captar esse segredo; por isso nos dedicarmos certo tempo nos métodos AMF3 justamente para despertar de modo adequado a vontade adequada. Sem VONTADE nada caminha.

            Ainda sobre a vontade, só para exemplificar, como em nossos dias é difícil se concentrar em alguma coisa. A sensação, por exemplo, é de que tentamos nos concentrar, mas uma força nos puxa para fora e nos dilui em meio a um turbilhão de coisas. A palavra concentração já nos diz muito. Ela se refere a algo, um composto, que se aglutina, condensa. A palavra oposta pode ser dispersão, que também diz muito: algo que se torna rarefeito, que se distancia de seus iguais (anteriormente próximos). Vivemos, então, em uma época que a imagem detona nosso ser, justamente por ser pela imagem uma forma muito eficiente de adentrar em nossa subjetividade fazendo com que nos dispersemos, não é a única, os sons musicais também têm muito eficiência. O fato é que não conseguimos ficar com nós mesmos, somos invadidos por milhares de representações que vem de todos os cantos e não conseguimos processar nossas ideias, fruto de nossa lavra, sem intervenção alheia.

Enfim, é nessa encruzilhada que nos encontramos para falar de sociabilidade no geral e da maçonaria em específico. De um lado temos a cultura de massa, como a descrevemos em linhas gerais acima, do outro temos a Maçonaria e as demais sociabilidades, que ainda vamos falar, mas que tem na ideia de VONTADE ou propósito seu principal instrumento contra a cultura de massa ou de consumo. Será no tratamento dessa vontade, desse propósito para a vida que se articulará toda a estrutura Maçônica e das demais sociabilidades. Parece simples, mas a coisa tem vários desdobramentos que não se esgotam no pequeno texto que se apresenta. Ele constitui apenas uma parte e um esforço para divulgar o legado maçônico, o qual somos admiradores, para pessoas que tem interesse apenas em conhecer os princípios filosóficos dessa sociabilidade ilustrada, sem necessariamente participar dela. Por várias vezes tivemos dúvidas em fazer um curso de Filosofia Maçônica ou de sociabilidade para não-maçom leigos no geral, mas observamos que com isso, os oportunistas encontram espaço livre para assediar as pessoas bem-intencionadas que desejam fazer parte de coletivos humanos pautados por filosofias de vida. Deixando ainda espaço para que cultores das mais variadas superstições se coloquem como se fosse efetivamente paladinos dessa ou daquela sociabilidade.

 

 

3. Simbologia da Maçonaria: Semiótica e Filosofia

Apresentado o contexto no qual vai se desenvolver nossas reflexões, passemos, agora, a elementos de ordem simbólica. Existem, basicamente, na arte de ensinar, dois modos: um é quando se faz o uso da voz e de vários artefatos visuais e sonoros para se transmitir um dado conteúdo. Outro modo é a utilização de elementos outros para que alguém compreenda algo. Esse outro elemento não é exclusividade da Maçonaria, podemos notalo em todas as sociabilidades filosóficas. Para além dessas sociabilidades, o teatro, por exemplo, faz muito uso dele. Trata-se do próprio corpo com forma de se transmitir conhecimento. Sobre esse método, ele também é usado em uma metodologia educacional chamada “Escola Waldorf” e ele se caracteriza, portanto, por utilizar outros aspectos inerentes a pessoa humana para construir e transmitir conhecimento, nomeadamente todas os recursos ofertados pelas artes.

Acerca desse método de aprendizado, costumamos dizer que nós humanos aprendemos por várias outras vias e não somente pela via racional. Quando a mãe na infância coloca a criança no colo e canta uma cantiga ela está transmitindo uma série de conhecimentos que irão aflorar no adulto. Quando a criança participa do teatro na escolinha ela está em meio a uma fabulosa aprendizagem de si. Isso não é magia, são apenas técnicas pedagógica e psicológicas.

Assim na Maçonaria, como noutras sociabilidades, faz-se uso de atividades que se aproximem ao teatro ou a liturgia de uma Igreja Católica Romana. Essa liturgia é uma fonte rica de ensinamentos. Ela é composta por símbolos e gestos que irão vagarosamente fortificar e fazer com que a VONTADE do indivíduo se manifeste de modo ordenado. Mas o que é ou que são os símbolos. Vamos falar um pouco sobre isso.

 

3.1. Semiótica

Semiótica é, sinteticamente, a ciência que estuda os signos (não me refiro a signos do zodíaco nesse caso específico). A significação, a representação, a interpretação das coisas abstratas e concretas através do uso de figuras representativas. A própria linguagem, as letras, as palavras são signos utilizados para representar. Imagine se eu quisesse lhe falar sobre o monte Fuji, localizado no Japão. Se eu não pudesse falar, gesticular, mostrar fotografia do monte ou usar qualquer outra forma de comunicação para isso, certamente nunca eu conseguiria fazer com que você entendesse do que se tratava, a não ser que eu levasse você ao local ou trouxesse o local até você, o que é impossível. Todavia eu falo, escrevo, tenho fotos, e esses modos de comunicar são representações, são signos. Então eu não preciso fazer com que a montanha venha até onde estou para mostrá-la a você: basta usar suas representações, a saber, o nome (Monte Fuji) ou a fotografia do monte. Para Peirce, um dos pais da Semiótica, há três tipos de signos: *Ícone *Índice *Símbolo O ícone é a coisa, o objeto, ser etc., representados por uma cópia similar ou não similar a eles. Por exemplo: a fotografia (cópia similar) do Monte Fuji. Ou uma réplica em miniatura do monte. Ou ainda um desenho, pintura… O índice, como a palavra explica, é o ÍNDICE da coisa, objeto, ser etc. É o que os representa de forma mais “íntima” ou aproximada. Por exemplo: uma mecha de cabelo cortada é o índice de uma pessoa. O cheiro de churrasco é índice de que estão a assar carne. A fumaça é índice de fogo. O símbolo, por outro lado, é todo o signo que fora convencionado, combinado. Ouvimos muito a expressão “símbolo sexual. O indivíduo denominado como símbolo sexual foi assim convencionado, combinamos e achar tal como sendo o símbolo, por vontade de muitos ou poucos. Trocando em miúdos, esse tipo de status foi imposto. Placas de trânsito são signos impostos, porém não deixam de ser ícones e índices. As placas designando os banheiros masculino e feminino são símbolos, inventados para a necessidade de INDICAR os banheiros aos seus usuários conforme seu gênero. Porque essas placas são ícone, índice e símbolo? Bom, são ícones por que representam os sexos feminino ou masculino através do desenho. São índices por que indicam que aqueles locais são banheiros, e nossa sociedade ocidental as reconhece assim. São símbolos por que houve uma convenção para que aquelas placas representassem os sexos masculino e feminino.

O ícone, que mantém uma relação de proximidade sensorial ou emotiva entre o signo, representação do objeto, e o objeto dinâmico em si; o singo icónico refere o objeto que denota na medida em que partilha com ele possui caracteres, caracteres esse que existem no objeto denotado independentemente da existência do signo. – Exemplo: pintura, fotografia, o desenho de um boneco. É importante falar que um ícone não só pode exercer esta função como é o caso do desenho de um boneco de homem e mulher que ficam anexados à porta do banheiro indicando se é masculino ou feminino, a priori é ícone, mas também é símbolo, pois ao olhar para ele reconhecemos que ali há um banheiro e que é do gênero que o boneco representa, isto porque foi convencionado que assim seria, então ele é ícone e símbolo;

O índice, ou parte representada de um todo anteriormente adquirido pela experiência subjetiva ou pela herança cultural – exemplo: onde há fumaça, logo há fogo. Quer isso dizer que através de um indício (causa) tiramos conclusões.

O símbolo, “é um signo que se refere ao objeto que denota em virtude de uma lei, normalmente uma associação de ideias gerais que opera no sentido de fazer com que o símbolo seja interpretado como se referindo aquele objeto”. Exemplo disso é a aliança de casamento, que rapidamente associo ao que denota, a instituição casamento.

Acerca da semiótica os conceitos básicos são os que apresentamos acima e pode-se dizer, também, que todo símbolo ou signo ao ser apresentado para alguém desperta algo no interior das pessoas. Se observarmos uma imagem na televisão de uma comida, ou sentirmos o odor de algo que habitualmente nos servimos, provavelmente nosso corpo terá uma cadeia de efeitos não mais meramente representativos, mas reais e físicas.

Nesse contexto semiótico todos os símbolos utilizados na Maçonaria têm um propósito, como em toda sociabilidade ou religião que também utilizam símbolos. Tem uma finalidade formativa e estão trabalhando para fortificar a VONTADE da pessoa. Qualquer outra fantasia é mera fantasia, ou seja, pessoas que não entendem nada de nada, mas se dispõe a falar de Maçonaria ou de símbolos Católicos, diz que se trata de algo demoníaco, satânico. Dizemos com toda certeza, a única coisa demoníaca é a falta de conhecimento desses pretensos cristãos, que não contribuem em nada; nem mesmo para a fé que diz proferir.

Mas alguém poderá objetar: bem esses símbolos podem ser utilizados para divulgar coisas ruins. Sim. Infelizmente isso procede. O nome maçonaria por ser presente no orbe terrestre pode ser utilizada para finalidade diversas dos princípios filosóficos que habitualmente é constituída. Em grandes centros urbanos como Nova York, São Paulo, podemos encontrar alguns indivíduos desequilibrados que de modo inconsequente fica fazendo experiências estranhas, dizendo-se representantes de “ordens” a, b, c.

Voltando ao nosso propósito, pelo tamanho da Maçonaria no Brasil, cerca de 150mil membros, esses tipos excêntricos se concentram nas grandes cidades e mesmo aí são expurgados desse grupo. E o que fica é de fato todo uma simbologia que se propõe formar homens, e consequentemente suas famílias, honestos, preocupados em levar uma vida que vá além da mera mercadoria, mas que tenha valores não materiais em jogo.

Ainda sobre os símbolos e ícones, nós utilizamos muitos símbolos para facilitar a formação das pessoas. Esses esquemas visuais são convenções, portanto símbolos, que auxiliam, por exemplo, na formação moral do indivíduo. O poder dessa técnica reside em ser simples, não permitir confusões, portanto, as pessoas mais simples até as mais ilustradas irão falar e pensar sobre o mesmo tema. Seja ela de São Paulo, Capital ou de Cruzeiro do Sul no Acre, temos a mesma base visual que nos orienta na formação. Ao reunir em um método de formação a simplicidade, a pertinência dos temas, coerência no que se diz e prática, e o conteúdo filosófico, os efeitos externos irão fazer a diferença. O mesmo pode-se notar em outras Instituições como as Igrejas. Que tem um rito, tem lastro social, e uma base filosófica comum que é a Bíblia, no caso de pensarmos o Ocidente e a cristandade.

No caso da Maçonaria e de todas as sociabilidades elas não são religião. Ela não procura se religar (Latim: religare) com algo superior. Seus sistemas filosóficos são modos e propósitos de vida. O religar das religiões difere da ideia de princípios filosóficos. No caso da sociabilidade mais conhecida no Brasil, a Maçonaria, será comum que seus membros estejam vinculados à uma tradição religiosa, sendo em maior número as cristãs, mas também islâmica, afro-brasileiras, etc.

As sociabilidades e a maçonaria em específico não concorrem com essa ou aquela Igreja. No caso da Maçonaria tem-se ao menos duas vertentes. A que existe no Brasil exige que a pessoas seja alguém que creia nu deus. Modelos em França, preferem nem mesmo se imiscuir nisso, deixando isso a critério de casa pessoa e como instituição se declarando sem opção, justamente para deixar isso a cargo de cada pessoa.

Posto que não é uma religião, sobre os símbolos que se utiliza para fazer o esclarecimento das pessoas, o fim fundamental de uma sociabilidade filosófica, o mais conhecido é o compasso e o esquadro. Mas utiliza-se outros, como o prumo, o nível, a colher de pedreiro, entre outros. Mais adiante, na história da Maçonaria iremos compreender porque se utiliza esses símbolos da construção civil como mote de formação. Todos esses instrumentos, que sempre são expostos são utilizados como metáfora na formação moral das pessoas. Por exemplo, o esquadro lembra a retidão moral que deve ter o maçom ou o membro de uma dada sociabilidade, o prumo que ele deve ser justo.

Vale uma digressão sobre moral no contexto das sociabilidades. Essa preocupação difere das Igrejas. Não se preconiza um vigia do comportamento alheio, um sensor moral ou um modelo no estilo religioso. A moral aqui é aquela consente na sociedade das pessoas e que será sempre objeto de reflexões, pois de fato vivemos segundo parâmetros comportamentais. No caos não há vida, apenas na ordem. E essa ordem é sempre debatida, aperfeiçoada, mudada, pelos viventes de uma dada cultura. Nisso diferem a palavra moral no contexto das sociabilidades e da maçonaria em específico.

Essas metáforas, anteriormente citadas do esquadro, compasso, prumo, constituem a formação no campo da ação, portanto da moral. Nota-se que um tema puxa outro. Ao compreendermos o que é o símbolo e sua ação sobre a pessoa humana, compreenderemos, então, o porque utilizamos símbolos. Esses símbolos são carregados de um conteúdo, convencionado, que é a parte filosófica da Maçonaria. E como se faz necessário pensar no comportamento humano primeiro, antes de passarmos a outros temas. Primeiro precisamos cuidar das formas de como as pessoas se relacionam. Precisamos decidir quem ascende a luz, quem apaga a luz, quem limpa a cozinha, etc.

 

3.2. Filosofia

Sobre a filosofia a que no geral as sociabilidades tomam para si como modelo não é outra, é a mesma que hoje se cultiva nas Universidades. O que ocorre é que o não-profissional de filosofia não consegue se localizar na totalidade do que seja a filosofia universitária e quando tem contato com aspectos desse pensamento nessa ou naquela sociabilidade pensar se tratar de coisas diferentes.

Alguém pode, nessa altura, se perguntar, então não há segredo? Fiz um curso de filosofia maçônica para saber que o que eu procurava estava acessível em qualquer livraria ou biblioteca? Sim e não. No caso da maçonaria, suas sistemáticas filosóficas absorvem pensamentos de um Confúcio, dos filósofos pré-socráticos (século V a.C., Grécia Antiga), de Sócrates, de Platão, de Aristóteles, entre vários outros. Mas existe algo que cursando um curso de filosofia normal não se terá acesso. Acerca desse mistério, e não segredo apenas, falaremos ainda mais adiante, mas o fato de conter sistemas filosóficos ordinários na maçonaria não a esgota, pois soma-se um conjunto de práticas formativas da pessoa que são quase singulares, pois até os métodos também são compartidos com correntes pedagógicas ordinárias.

AMF3 como Escola de Filosofia prática propõe justamente essa junção de várias metodologias e na interseção de todas elas é que brota a novidade.

 

3.3. Filosofia? A final o que é isso?

Segue nesse CD do curso de Introdução à Filosofia Maçônica e às sociabilidades ilustradas material pedagógico sobre filosofia. Procurei fazer mapas conceituais para auxiliar as pessoas não habituadas com a Filosofia a se interessarem por ela. Contudo filosofia é algo que vai além do óbvio. O modo de ver da filosofia questiona profundamente a sociedade ordinária em que vivemos. Não quer dizer que ela seja uma forma de ser infeliz, de modo algum. É apenas uma forma do humano estar sempre vivendo, vivo. Viver é isso, ter perceção de que se vive; essa constante pensar sobre a vida pode soar cansativo. Por isso o aviso de que tal desânimo é normal e fórmula é devagar, sem pressa.

O desafio de estudar filosofia é que ela diferente do que é habitual, mas para superar essa surpresa é que entra nós professores.  Nosso esforço é justamente conduzir de modo prazeroso quem chega nessa senda de conhecimentos. Fazer dessa jornada algo prazeroso, sedutor e compreender as implicações positivas que tal saber nos lega.

Filosofia é, portanto, um jeito de pensar diferente. É pensar sobre o pensar. Provavelmente pode-se dizer: “uai, eu já penso!” Sim, todos nós pensamos no dia-a-dia, mas pensar sobre o próprio pensar não se trata apenas de um trocadilho de palavras, é algo profundo. É como se o seu próprio olho conseguisse ver o seu olho vendo. Ufá.

Inicialmente dá um nó na cabeça, imagina, um olho que se vê a si vendo? E logo já queremos desistir. Lembra sobre a VONTADE, pois é, nessa hora é que vemos que nossa vontade pode está quase apagada. Observamos o quanto a cultura que nos dispersa acaba por retirar nós de nós mesmos. Mas não desistamos, aliás, se já estamos fazendo um curso de Filosofia Maçônica e sociabilidades ilustrada é sinal que algo já existe de diferente. Algo de filosófico já se encontra na pessoa que procura tal conteúdo cultural, fato que julgamos ser importante.

Ainda sobre a filosofia, ela se caracteriza por pensar, pensar. Pensamos, por exemplo quando o pensamento deixa de ser pensamento para ser ato; e não mais pensamento. Aliás, esta é mais uma outra característica da maçonaria, da AMF3 e das sociabilidades ilustradas: seus métodos não são apenas ideias, pensamento. Tem como proposta tornar princípio compartilhado com outras pessoas, com estudantes, etc. Aliás, vale lembrar, na Antiga Grécia e por muito tempo no contexto do Império Romano, existiam as Escolas Filosóficas que justamente tinha todas as características do que hoje denominados de sociabilidade.  

O filósofo, tanto o que estuda numa universidade quanto o que faz parte de uma sociabilidade, é aquele que sabe o quanto é pequeno seu conhecimento perante a vastidão do universo e de Deus. Nossos sistemas de pensamento é muita coisa, quando olhado da perspetiva do humano, mas é ínfimo quando observado da perspetiva do universo.

A filosofia no contexto das Escola Filosófica e das sociabilidades tem ainda uma outra característica. O filósofo não se contenta em discutir os assuntos, escrever textos, mas, sobretudo, procura praticá-los. Essa postura nos remete a seguinte reflexão o que é moral e ética?

 

3.3.1. Ética e moral: a diferença da filosofia maçônica e das sociabilidades

Para explicar de modo rápido vamos ao exemplo primeiro. É comum no Brasil falar de futebol. Então tomemos ele. Existem aqueles que jogam futebol e aqueles que comentam sobre. Pois é, os que jogam então praticando, nesse momento, não fala muito, joga-se. Depois do jogo é que vem os comentários de como foi o jogo. Aí se fala dos lances, dos erros, por aí vai. Na tv isso toma os horários nobres. 

Pois bem, podemos notar que há diferença entre jogar e falar de futebol. No caso da Ética e da Moral a coisa funciona do mesmo jeito. Quando se faz uma boa ação, ajuda uma senhora/senhor idosa/o a atravessar a rua, nesse momento estamos sendo morais. Não estamos ali refletindo sobre ajudar ou não a senhora, mas na ação. Por outro lado, quando deixamos de fazer a ação e nos colocamos a pensar sobre ela estamos fazendo ética. A ética, portanto, é o comentário, é quando paramos para refletir sobre a ação de ajudar a senhora. Claro que a ética não fala de qualquer ação, mas fala sobre aquelas ações que nos diferencia dos demais animais. Ser solidário, por exemplo, ser fraternos, dizer que todos os seres humanos são iguais, que tem liberdade, todos esses assuntos são tratados pela Ética.

Em um curso normal de Filosofia Acadêmica, discute-se apenas a Ética, mas não está em questão se o professor prática aquilo ou não. Aliás, na relação de um curso superior ninguém se mete na vida do outro. É claro que existem alguns procedimentos básicos, os quais se você não seguir a polícia lhe prende. Mas as grandes questões humanas ficam apenas nas discussões. O que não ocorre com a Maçonaria, as sociabilidades e a Escola AMF3. Se defendemos a liberdade de expressão iremos a campo para tal. Se defendemos que as pessoas devem ser iguais, vamos fomentar questões de Direitos Humanos, se cremos no poder da sociabilidade como forma de promover o melhor de cada pessoa, lá estamos promovendo e fomentando a formação de novas sociabilidades.

Essas práticas morais não se restringem toda a ação da maçonaria ou AMF3. Temos ainda a ação política, que deve ser segundo certos princípios morais e éticos, e o conteúdo místico. Por política não se está a falar de partido político, mas de toda ação humana em sociedade que visa empreender algum objetivo pessoal e coletivo.

 

 

3.3.2. Mística nas sociabilidades: o que é místico?

Se estamos em época da imagem, quando falamos em místico pode ser que a primeira figura a nossa mente seja de um velho barbudo, vivendo em alguma montanha. Vestido de uma túnica. Contudo, ser místico é ser alguém que vê a vida de uma outra forma o ver aspectos da vida que passam desapercebido pelas pessoas no geral. Como o filósofo, o místico olha para a vida de forma diferente. O místico procura sentir aquilo que não se apresenta aos nossos sentidos sensórios. Restritos apenas ao sentido da razão, da intuição. A filosofia não fica fora dessa área de saber, ela também se dedica a refletir sobre o que o místico se ocupa. O objeto da mística e da filosofia, portanto, consiste em notar que para além das coisas ordenadas do pensamento sempre há algo além. Ludwig Joseph Johann Wittgenstein (1889-1951) se dedicou a falar desse silêncio, daquilo que está para além da linguagem. Ele não foi o único, mas é uma referência.

A mística também consiste em algo estranho, mas só porque não estamos acostumados a lidar com isso. Para apontar um caminho pensemos o seguinte: se você pega uma semente de abacate e a coloca na terra daí alguns dias ela brota. Simples. Será mesmo simples? Antes da semente brotar você poderá olhar para ela e não verá aquela árvore que depois de posta na terra irá brotar dela. Então onde está aquela árvore? Pois bem, teremos que concluir que há um mistério? Há uma força presente na semente que a faz um dia ser árvore. Para nós nos dias de hoje existem palavras que logo pretendem explicar isso. Seja da biologia ou da própria filosofia de Aristóteles. Mas a questão é que há um grande mistério nisso, desvendando pelas ciências, mas que ainda persiste algo inexplicável.

Sobre esse grande mistério, que será objeto do místico, outro fato que nos deixa surpresos é o céu que fica sobre nossas cabeças. Quantas vezes por mês notamos a lua? Já parou para pensar que o universo é um grande mistério e que estamos no meio ou imerso nele sem notar tal feito assustador?

Pois é, o místico é esse indivíduo que nota tudo isso é fica encantado. Ele também nota as forças que tem origem nesse universo e incidem sobre nós. Ele vai bem mais longe do que os cientistas, que apesar de belas descobertas, ainda tem muito por descobrir e traduzir as novidades em cifras humanas.

Nesse sentido, as sociabilidades, dentre elas a mística maçônica, também se insere nesse contexto de cultivo desse mistério que ronda a vida humana. O risco dessa dimensão é a superstição, ou seja, agora tudo é tratado como sendo algo poderoso. Não é o nosso caso. Temos, por exemplo, consciências dos signos do zodíaco não como ele se apresenta nos jornais. Mas como signo de algo. Eles representam a posição do sol e de outros astros sobre a terra, é algo simples, mas que no geral temos total desconhecimento disso. Não se trata de mágico perigoso; é só olharmos as águas do mar em dia de lua cheia e veremos um grande mistério se revelando para nós.

Acerca da mística, trata-se de assunto carregado de complexidade. Simplesmente por existir coisas que não se diz. Não porque não queiramos dizê-las, mas simples porque essas coisas serem “indizíveis”. E aí que surge um outro tema sobre a Maçonaria e algumas sociabilidades. O segredo maçônico. Segredo que é próprio do universo, do próprio processo pedagógico do conhecimento humano, mas que por motivos sociais a maçonaria acaba por encampar esse lugar da instituição secreta.

 

3.3.3. Segredo e Mistério

Todas as sociabilidades têm segredos e mistérios. Ainda que os segredos tenham hoje em dia mais uma conotação de discreto e não mais secreto. Para melhor apresentar o argumento tomemos o seguinte: em uma relação de casamento existem seus segredos. Por mais que sejamos casados e saibamos o que se faz dentro do lar e que isso seja parecido universalmente, não saímos por aí dizendo o que fizemos dentro de nossa casa. Se fizermos isso estaremos acabando com nossa intimidade e com a relação. Aliás, se assim procedermos vamos dilapidando o lado humano e bonito que há na relação. Até ao ponto de se tornar algo degradante para o casal e a família.

Vejamos, o fato de não contarmos o que ocorre dentro de casa não implica que sejamos seres maus, ardilosos. Esse silêncio, pode, infelizmente, ser perigoso quando o indivíduo não “tem nada na cabeça” e procura encobertar com isso sua violência com a família. Mas esse mesmo “silêncio” é algo sagrado e reconhecido pelo Estado como sendo fundamental para que a família seja saudável. O direito a privacidade.

Nesse aspecto é que é o silêncio ou segredo maçônico existe, dentro os outros. Ele apenas nos interessa e não deve ser dito por aí. Essa discrição se dá como estratégia pedagógica de formação de um grupo fraternal, empenhado em pensar em tema da filosofia que diz respeito a nossa condição de pessoas; não para falar da vida dos outros, mas para tratar de temas que nos são relevantes, sobre nossa própria condição. Falar dessas coisas por aí é perder seu tempo ou permitir que pessoas ignorantes, que não entendem nada sobre nada, criem chacotas, dê risadas. Aliás, são esses que ardem de curiosidade, mas não passam daí. 

Para se precaver desses curiosos, as sociabilidades criam a cultura do discreto, do intimista. A prova disso é que se pode adquirir livros os mais variados sobre qualquer sociabilidade em nossos dias.

Essa é a parte do segredo e que se desfaz rapidamente quando se sabe que todas as atas de qualquer sociabilidade se encontra registrada nos órgãos de Estado destinadas a tal. Aliás, essa discrição é mesmo resguardada pelo próprio Estado; quando o Estado não permite ver sua declaração de Imposto de Renda, mas ele sabe tudo sobre você, podemos dizer que é o mesmo princípio que se aplica às sociabilidades.

A outra palavra é mistério. O mistério é o que nos une. É pelo mistério que usamos os segredos. Exatamente para preservar e cultivar esse mistério. Acerca desse mistério pouco pode ser dito, pois mesmo que se quisesse não seria possível. Mas podemos dizer que ele é a mesma coisa que Deus. Ou, quando na tradição judaicocristã, deus diz algo evasivo: eu sou o que, podemos dizer que são formas de resolver um problema: como dizer o indizível?

Alguns livros procuram dar um contorno sobre o mistério de uma sociabildiade. Mas o que eles fazem é apenas um contorno e nada mais. O melhor caminho é começar a caminhar, também, para poder perceber esse grande mistério. 

Esse mistério, como já dito acima, faz parte da vida; é o céu estrelado sobre nossas cabeças. É o que de fato faz a vida existir, depois que esgotamos as explicações da biológica, da física, ainda ficará um algo mais. E será essa percepção que consiste no mistério.

 

 

Para citação acadêmica:

LOPES DE ALMEIDA, C. Introdução à Filosofia Maçônica. 2a ed. São Paulo: AMF3. 2020. Acessível em  ___/___/_____ <http://amf3.com.br/introducao-filosofia-maconica>

 


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