Sexo e Igreja

Sexo e Igreja
Prof. Me. Cídio Lopes

(aula particular de filosofia e teologia)

P.S.:*

A ideia é pensar um
pouco sobre essa dimensão natural do ser humano e de um monte de bichos; e o
olhar em especial será posto em como uma espécie de mamíferos desconstrói ou
reconstrói sobre o que seria o natural.
De fato, nós
humanos, segundo as várias ideias filosóficas sobre o assunto, somos uma
construção. O nosso natural se aproxima daquilo que Aristóteles chamou de uma “segunda”
natureza. Nesse sentido, a sexualidade humana de fato não é uma submissão à uma
física que faz parte de nós como pessoa, isto é, dado efeitos químicos/físicos
temos comportamento tal.
Nesse ponto não entramos
no cio, um circuito biológico dos demais mamíferos não-humanos.
Posto que de fato
nossa sexualidade não está submissa ao puro biológico, mas enquanto humanos, já
aqui fazendo coro à algumas correntes filosóficas sobre o que é humano, já nos
caracterizamos por uma certa ruptura com o mecanicismo da química/biologia/física
inerente aos corpos, passemos às Igrejas.

A sexualidade no seio das Igrejas é uma educação para doença ou, para ser
objetivo, existem frases que propõe uma vida sexual impossível de ser “natural”,
mas estereotipada. Tudo bem que a condição humana seja uma construção, e nesse
sentido não faz sentido reclamar que a Igreja esteja indo contra o “natural”.
Mas diríamos que há um limite nessa invenção do humano. Não voamos, fazemos avião.
A sexualidade de fato não é igual a de uma cabra, mas não conseguimos de todo
negar essa pulsão, portanto fazemos uma convenção. Arrumamos um jeito social de
vivenciar essa química a qual por mais que procuremos superá-la ou dar arranjos
a ela, ela irá continuar em nós.
Nesse sentido, a repressão
da sexualidade e sua vinculação a algo sujo e pecaminoso, constrói uma complexa
rede de problemas psíquicos entre a juventude, chegando mesmo a ceifar a
inteligência de muitos, pois atos normais, como a masturbação e o desejo
sexual, são tratados como pecado. Não se deseja com isso propor como
alternativa o exagero de tudo que é privado. A reflexão é indicar que é
necessário um outro lugar para esse aspecto da nossa condição de humanos.

A prática da Igreja Católica é não falar e por isso torna o tema ainda mais
delicado de ser tratado. Ademais, a construção do celibato como marca
fundamental do clero da Igreja Católica Romana, não convence nos dias atuais e,
se tomarmos o livro “Pecado e Danação” (Le Gofe), também não convencia já lá na Idade Média. 

Estratégias metafóricas em
apregoar que as freiras são “Esposa de Jesus” ou a fixação dos homens
pela “virgem” Maria nos parecem apenas acentuar o problema e ser uma
forma de não falar. São dinâmicas que acabam por produzir o efeito de “idiotizantes”
nos seus cultores, que tem o efeito prático de afeminar/maculinizar e incentivar a
homossexualidade de ambas as partes. E aí temos outro tema relevante, em nosso
entendimento o ser homossexual é um estado; outra é uma prática que não só
encaminha para ideias de “homossexualização”, para garantir um celibato de
interesse a estruturas eclesiásticas, mas para também não se assumir como
homossexual ou mesmo hétero. Portanto, uma cultura do não dizer.

Isso não implica, como em geral os defensores da moral pensam, uma defesa do
sexo animal; sem compromisso; do ficar; como costuma ser o estereotipo que se
produz sobre o que seja a juventude “rebelde”. A sexualidade humana é
deverás distinta do animal. A questão é, portanto, pensar dois parâmetros que
não nos leva a lugar algum, a repressão ou a liberação total.

Ser homossexual também não é problema, vale repetir. Contudo, para garantir o
celibato não se deve cultivar uma plêiade de gestos, termos, palavras, que “homossexualize”
o candidato à vida eclesiástica. Quando o Malafaia, estereotipo de burrice
douta, comete o crime de satanização da homossexualidade, ele confunde um monte
de coisa. Dizer que há homossexuais não é educar para a homossexualidade. Muito
menos militar para que haja mais homossexuais. Admitir que há a opção não
implica que eu seja ela; e dizer que ela existe não é tentação para que eu
seja. Outro perigo do “malafaismo” é confundir “liberdade”
de imprensa com possibilidade de atentado contra minorias. A lição mais
simples, lá da pré-escola, é que você tem liberdade até chegar na outra
liberdade, do seu próximo.

Por fim, a tônico do cristão não é a mesma do “malafaísmo”. Os “malafaístas”
esquecem que Jesus criou algo muito radical: conversão do pecador e o perdão
dos seus pecados. Mesmo considerando a própria lógica do cristianismo, sem
discutir aqui que classificar homossexualismo é um problema, vemos que o “malafaísmo”
é uma corrente radical e fundamentalista. Um cristão teria a paciência com
aquilo que ele julga como errado; ele teria a clareza para si dos seus valores
e saberia conviver com aqueles que ele não considera “certo”. O
cristão ama o pecador, mesmo que abomine o pecado. Isto para utilizar a própria
lógica do cristão para descartar a via do “malafaísmo”; mas podemos também
recorrer as conquistas do Estado de Direito Democrático para garantir que se
respeite opções que só implicações na vida pessoal das pessoas. Sem repercutir
no conjunto social e por isso, cada um decide em privado como deseja ser.
A sexualidade na Igreja
não se restringe à eclesiologia, aos padres, freiras, irmãos, etc. Decorre
desse núcleo profissional, de pessoas que dedicam suas vidas à vida religiosa,
diretivas para a formação de crianças e jovens. E os efeitos sentidos na parte
central da Igreja também ecoam aqui. Se entre os próprios membros o que vige é
um certo silêncio e o uso de metáforas inócuas surgem apenas para continuar não
falando, essa realidade chega na formação dos novos cristãos católicos. E
suponho que entre as várias denominações cristãs entre nós brasileiros não seja
algo muito distinto.

Do silêncio se
produz “ruídos” que funciona mais como tampões. Sexo é bom e segundo nossas
construções sociais ele, seguindo algumas invenções sociais, pode e deve ser
cultivado. E se deve ficar atento em que sentido todo um palavrório da igreja
acaba por produzir angústia nas pessoas e, nessa esfera, exercer poder sobre
elas. A medida ou a balança a ser pensada deve ser essa; em que medidas tais
ideias controlam as vidas? Controle entendido como submeter a vida privada das
pessoas ao controle de uma Igreja. Outros aspectos da sexualidade a serem observados
vinculam a efeitos físicos, como as DST, e amorosos no sentido de que o sexo
humano não se dá de modo mecânico, mas exclusivamente no contexto da existência
humana que é essencialmente vínculos. Portanto, a graça da sexualidade humana é
que ela precisa necessariamente contribuir com esse “ser” que é no puro “circuito
de vínculos”. Nesse sentido essa prática pode contribuir ou destruir esse “modo
de ser” do ser humano. O balizador, portanto deverá ser desenvolvido por aí.

P.S.:
O texto foi editado em 13/10/18. Fizemos correções e ampliamos algumas ideias. A ideia do texto não foi e não é uma crítica alheatória na forma como pensamos que a Igreja trata o assunto, portanto um tema que só exista na cabeça do autor do presente texto. O esforço é tomar um ponto o qual observamos enquanto membro “leigo” e tentar indicar, de modo breve, uma saída para ele. As ponderações sobre o que é um comportamento acerca do tema sexualidade na Igreja não pretendem ser verdade absoluta e não ignora que existam pessoas eclesiásticas bem conscientes desses desafios no interior da Igreja. E que tais desafios de pensar e criar uma prática pedagógica/pastoral são decerto de várias lideranças religiosas. Portanto, o tema e suas dificuldades não estão nas mãos dos reliosos que podem deicidirem para onde ir de modo mágico. O tema da sexualidade tem questões inerentes a ele e o desafio de superar tais quadros, que julgamos problemático, não tem fórmula pronta, para aplicar de modo mágico e todo estará resolvido. Nesse sentido, ponderar é compartilhar, ao lado de líderes religiosos, tentantivas de superar um problema, que tem a autoria desses prolemas inerentes ao tema e não a esse ou aquele padre, bispo, freira. 

Agradeço aos mais de 26 mil leitores. Estendo os mesmos votos aos futuros leitores. 



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