Maçonaria desfazendo o mito

Maçonaria desfazendo o mito

Maçonaria desfazendo o mito

Como citar esse artigo:

LOPES DE ALMEIDA, C. Maçonaria desfazendo o mito. AMF3: São Paulo, 2019. Acessível em:https://amf3.com.br/maconaria-desfazendo-o-mito/

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MAÇONARIA

Desfazendo o mito

Prof. Me. Cídio Lopes de Almeida, MM.

 O fenômeno social maçonaria sobrevive, sem esforço da própria sociabilidade maçônica, a mais de século, e sua fama e disseminação é movido pela propaganda “boca-a-boca”. Porém, se é o sonho de consumo de muitos propagandistas essa força de disseminação orgânica e sem esforço da própria interessada, esse “disse-me-disse” pode gerar também uma imagem negativa do que é de fato Maçonaria. Antes, a palavra maçonaria deriva do francês “maçom” ou mais específico “franco-maçom”. Maçom é o nosso “pedreiro”, e “franco” (franca) era o tipo de pedra com a qual esse trabalhador executava o seu serviço muito popular na “baixa idade média” da Europa. Pelo fato de terem que ir onde estava o trabalho, ao contrário dos “servos” que eram fixados num dado lugar, receberam entre os ingleses a ideia de “livres” (free) daí termos os “freemason”, algo como “pedreiros livres”.

 

 

1.     Segredo

 

Esse é tema mais procurado na internet sobre maçonaria. Qual é o segredo? E talvez esse desejo tenha tanta força por ser algo inerente à pessoa humana; o desejo de saber é sempre uma percepção de que algo pode ser desvendando. Sem esse desejo podemos dizer que até mesmo os processos escolares perdem força. Se noto que há algo a ser conhecido, tal percepção me mobiliza a ir atrás. Quando o contrário acontece, a pessoa que não consegue ser tocada pelo misterioso, se perde a vitalidade, o desejo de saber fica ausente. Ou quando não se consegue apresentar o “mistério” a ser desvendado de forma apropriada, o que é o papel do bom professor, vemos o desinteresse das pessoas em aprender algo. Origem de todo fracasso escolar.

 

Em torno do “segredo” maçônico se vende muito livros e, muito recente, muita “iniciação” em “maçonarias” caça níquel, existente aos montes em São Paulo, Rio de Janeiro e em vários lugares do mundo “ocidental”.

 

Aqui reside o maior problema da maçonaria. Não há um “segredo” magnânimo e não adiante dizer que “escondo” algo. O que há é um “mistério” e sobre ele falarei mais adiante. Mantendo-se no problema do “segredo”, se ele é o que leva muita gente à maçonaria, ele é o responsável por fazer com que o curioso vá embora na mesma velocidade que chegou.

 

Se o desejo do segrego não for transferido pelo prazer em cultivar o mistério que subjaz a existência humana, a maçonaria se tornará qualquer coisa e, como tal, não durará no tempo.

 

A estratégia do segredo talvez seja apenas no sentido de tomar algo corrente para levar a pessoa a algo que é de fato. Se esse processo não for conduzido adequadamente, a curiosidade irá perder força. E se é a curiosidade o motor que te move para a maçonaria, sem ele você se verá frustrado e engando.

 

O vulgo ama esse aspecto da maçonaria. Ele rende acessos nos canais do Youtube ou nos Blog’s.

 

Para um projeto de Loja maçônica é preciso afastar o mero curioso e estar atento à pessoas que mesmo movidas por uma curiosidade vaga, consiga dar passos significativos e, sob o olhar de um maçom, consiga demonstrar que será alguém capaz de sair de um estado menos elaborado do que é maçonaria para seu cerne; para o que de fato perdura ao longo do tempo.

 

Para cultivar essa ideia do segredo, como porta de entrada para o “mistério”, a maçonaria até mesmo utiliza uma série de pequenos truques “secretos”, como sinais, toques e palavras. Contudo, logo se verá que se trata de algo “simbólico” e que ninguém deve considerar além disso. Segredo em nossos dias quem detém de fato são os Estados, os sistemas financeiros, maçonaria é apenas uma questão simbólica e que se você for um leitor atento, logo encontrará tudo isso na internet ou em livrarias de livros usados, o nosso “sebo” brasileiro.

 

2.     Mistério

 

Se há algo cultivado na maçonaria é o mistério. O que é mistério? Por mistério podemos dizer que é a percepção de que nossa existência humana é permeada de coisas desconhecidas de nossa consciência. E que por mais que eu explico quem sou, onde estou, algo escapa a essas explicações, porém eu continuo a percebê-las; digamos que algo que eu ainda não consigo dar nome, mas que sempre me toca. E a essa incógnita, que apesar de sentir não consigo dar nome, chamo de mistério. 

 

O mistério da maçonaria é exclusivo dela? Não. Se fizermos a leitura de filósofos como Plotino, Porfírio, Platão, Marcílio Ficcino, Pico Della Mirandola, Bergson, Hadot, entre outros, logo veremos que o assunto é mais amplo e, inclusive, mais bem tratado por esses pensadores do que certos livros vulgares sobre maçonaria. Para ampliar nossa percepção, podemos ainda ter como referência místicos cristãos como São João da Cruz, Edith Stein, entre vários outros, e também veremos aí como esses temas de mistério e mística são amplamente tratados; e que na maçonaria em geral são apenas rudimentos populares dessa mística cristã. Se nos atermos um pouco mais, notaremos que na própria “missa” católica, em dado momento há a expressão “eis o mistério da fé”, lá pelo momento da “consagração da hóstia”. Indo ainda mais fundo, a palavra “sacramento”, muito utilizado no contexto da comunidade católica, nada mais é do que uma “parte visível de algo invisível”. O mistério maçônico é exatamente isso, nada mais.

 

O que há de especial na maçonaria, portanto, é que ela consegue numa agremiação (sociabilidade) cultivar esse mistério de uma forma específica. Ela não se propõe a ser uma Igreja, mas uma associação filosófica ou nos termos da antropologia, uma sociabilidade. E tem feito isso ao longo dos últimos 300 anos. Ela tem uma metodologia que vem sendo testada ao longo desse tempo. Ela possui um “jeito de fazer” que “misteriosamente” persiste ao tempo. Entre vários tópicos desse mistério, e que é sua força, destaco seu caráter “democrático e republicana” de se organizar e perdurar no tempo. Afastando com isso a ideia de “líder” ou “guru”, sendo radicalmente um projeto coletivo.

 

O “segredo” da maçonaria é revelado ou percebido quando olhamos para a história dela e vemos que apesar de todos os limites humanos, esses mesmos humanos conseguem se congregar em torno de princípios que vão além das necessidades imediatas. Tem tudo para não ser isso, pois olhando de modo “cético” para nós como humanos, com frequência somos levados a crer que os interesses mais rasteiros, imediatos, limitados, viciados, seriam os que prevaleceriam sobre qualquer outro propósito altruísta. Essas ideias ditas elevadas ou na contramão dos interesses imediatos, são muito bem expressas nos movimentos culturais do Humanismo Renascentista (lá da península itálica por volta do 1450 a 1500), ou do movimento Iluminista (algo por volta de 1600 a 1800). Períodos culturais nos quais podemos notar o esforço humano em construir modos de sermos que consigam superar aspectos naturais em nós como humanos, que são dito como sendo apenas a faceta animal de nosso ser.

 

O segredo nesse sentido consiste no fato de não conseguirmos explicar de modo racional por que uma atividade humana rompe com o que é mais óbvio e vai para outro rumo. Segredo no sentido de fugir a uma explicação racional.

 

No mistério está a chave para se compreender a maçonaria, como a vida cristã no geral. Um maçom que compreende esse cultivo e até mesmo faz a experiência de momentos intuitivos de contato com o mistério da vida, nunca deixará esse estado. Uma vez “iniciado” nunca se deixa de sê-lo. Porém, se tal estado psíquico não for alcançado, as “trombadas” do cotidiano e mesmo o bom uso da razão, logo irá lhe demonstrar por várias vias que o melhor será se ocupar de outras coisas. E com isso deixar de participar de “mais uma agremiação”.

 

3.     A BUROCRACIA

 

Posto as questões de “segredo” e “mistério”, vem na sequência as coisas de ordem práticas ou concretas necessárias para que se crie o “lugar” (kora) propício para que indivíduos possam “ser” e “estar” em contato com esse “mistério”.

 

Nesse ponto também a maçonaria desenvolveu vários recursos. Para que se desenvolva alguma disciplina, se concebeu um local de reunião (templo); uma estrutura para a reunião ter um início, meio e fim (ritual). Uma memoria para que não se repita certas coisas e se lembre de outras (ata reuniões;). Um regulamento para que as coisas funcionem (Leis maçônicas). Uma filosofia para que se reúna para debater conteúdos filosóficos no sentido de saberes passíveis de serem meditados e transformados em parte do meu modo de “ser” (instruções).

 

 

3.1. Loja, Templo, Grande Loja, Grande Oriente.

 

Em todo grupo se constrói um palavreado que só os “entendidos” sabem seu significado. Assim, na cultura militar temos seus termos, na Igreja haverá uma terminologia, etc. Na maçonaria não seria diferente. Passemos a algumas dessas palavras.

 

Loja é o grupo de pessoas que se reúnem. Tendo no mínimo de sete pessoas e tradicionalmente sem um limite máximo de membros. Sendo nossa apreciação de que haja no máximo de trinta pessoas; motivado por uma série de argumentos que apresentaremos em outro momento.

 

A palavra Loja tem uma origem histórica, mas nesse momento vale sabermos que se trata de um conjunto de pessoas, os membros. A Loja não é um lugar físico, mas o coletivo de pessoas. E essa é a parte mais relevante da maçonaria, é a base, o fundamento, onde maçonaria de fato acontece.

 

Templo é o lugar físico onde a Loja se encontram; no Brasil as reuniões podem ser uma vez por semana ou uma vez por mês nas Lojas vinculadas à Inglaterra. O Templo maçônico tem algumas variações de modelos, mas todos serão um lugar discreto, reservado, sem janelas (com ar condicionado). Em todo Templo temos também uma área destinada a confraternização, isto é, uma área destinada a se tomar um café, comer um lanche, fazer um churrasco, em épocas de comemoração. Nesse salão de recreação é o local que recebemos nossos familiares próximos (Esposa, filhos, etc) e futuros maçons.

 

Podemos afirmar que a Loja é o núcleo mais importante da maçonaria, pois é nele que o coletivo de pessoas tem contatos regulares e como desdobramento se terá os sentimentos de fraternidade. O Templo é importante, mas uma convivência fraterna, humilde e harmoniosa é o ambiente necessário para a maçonaria se desenvolver. O Templo pode ser feio, mas as relações humanas precisam ser belas, caso contrário tudo se acaba.

 

Os termos Grande Loja e Grande Oriente confundem as pessoas em geral. Uma Grande Loja nada mais é do que a junção de várias Lojas. Para fins de administração e expansão da proposta maçônica para todo um território, se faz necessário uma burocracia estruturada e muito bem administrada. Isso ocorre na figura da Grande Loja que nada mais é do que uma
“Sede Regional”. Todos os membros das Grandes Lojas precisam estar vinculados à suas Lojas de origem.

 

Grande Oriente é uma expressão do meio maçônico e equivale a Grande Loja. Contudo, porque “oriente”? Dentre os vários “rituais” maçônicos, todos mencionam a ideia de que a humanidade começou a “oriente” do ocidente. Soma-se a isso, fatos como o “sol” vem do oriente para o ocidente. Nesse contexto se criou a metáfora de que toda Loja é um “Oriente”, isto é, um local que replica de modo simbólico esse “oriente” mítico de onde vem a sabedoria.

 

Com isso, é comum terminarmos textos dizendo Or.’. de São Paulo. Ou seja, oriente de Luanda, etc.  

 

Grande Oriente nesse sentido é o equivalente a Grande Loja. Ademais, ficou vincado na tradição inglesa, precisamente em Londres, o uso do termo Grande Loja, pois foi lá que houve a junção de Lojas já existentes formando a Grande Loja Unida da Inglaterra, que hoje consegue ter uma articulação internacional, isto é, o sistema de Grande Loja consegue ter relações de reconhecimento com as várias Grandes Lojas espalhadas pelo mundo.

 

Já Grande Oriente ficou vinculado à França. Existem várias possíveis explicações, mas podemos notar que em França sempre houve grandes interesses pelo “oriente”. Napoleão, por volta de 1800, representa um ponto máximo disso, com sua famosa expedição pelo Egito e todo o frenesi cultural em torno de um “saber” mágico, misterioso, potente, vindo desse Egito mágico no imaginário do século XIX.

 

 

3.2.Iniciação

 

A iniciação é um ato simbólico. Igual a um casamento ou batizado na Igreja. Da mesma forma que a “solenidade” na Igreja não será responsável para que seu casamento “dá certo” ou por você levar uma vida cristã, o mesmo é a iniciação. Aliás, o temos também é utilizado na comunidade cristã. “Iniciação á vida cristã” e se trata do mesmo fundamento filosófico e teológico.

 

Da mesma forma que a solenidade de casamento tem variações de acordo com a Igreja, na maçonaria temos quatro tipos de ritos. Sendo o mais breve e de pouco simbolismo o rito de origem inglesa/USA. De outra perspectiva em termos simbólico, temos o Rito Escocês Antigo e Aceito que é carregado de símbolos e ritualística.

 

O Rito Escocês Antigo e Aceito – REAA é praticado pela maioria das Lojas no Brasil, diria sem medo de errar que por 90%. Outros 9% pelo Rito de York ou rito da Marca. E o restante por outros ritos (R. Brasileiro, R. Moderno ou Francês, R. Schroeder, R. Adhorinamita).

 

Um ponto comum entre todos os ritos é que todos eles terão uma história em comum, o que varia é a forma de “explicar”.

 

O rito é um recurso teatral para auxiliar a pessoa a se colocar em estados mentais capazes de pensar a vida sob uma ótica da totalidade da realidade. Como o nome diz, ele é simbólico, e, portanto, é um auxílio. O rito é uma estratégia de exercício para que o espírito vá se colocando em situações favoráveis a perceber estados espirituais que fogem à vida cotidiana. Esses estados são aquilo já mencionado sobre mistério. Não se propõe “ver” nada além disso. A missa católica é um rito que tem o mesmo propósito. Aliás, o REAA é considerado em sua estrutura de início, meio e fim muito próximo à missa católica.

 

Como prática histórica, se faz uma cobrança financeira para se entrar na maçonaria, como em qualquer clube de “desporto” (Clube Paineiras, Clube Pinheiros, Minas Tênis Club, etc) . Hoje no Brasil as Lojas Históricas têm valores variados, que podem ficar entre 4 a 15mil reais. Esses valores sevem para pagar gastos atinente à iniciação e, muito relevante, servir como critério de afugentar curiosos aventureiros. Pode não parecer um problema, mas é muito desagradável os curiosos e fofoqueiros, eles não se comprometem com nada, inventam histórias; e só ficam na superficialidade da vida.

 

Esses valores monetários pertencem à Loja e só o coletivo decide sobre ele. No geral esses valores são utilizados para se fazer algum tipo de “benemerência” (Doação de medicamentos, cadeiras de rodas, etc.) ou para promoção de algum evento cultural para familiares da Loja. Com o tempo a Loja, no seu coletivo, faz planos de “ação beneficente, promoção cultura e assistência” e faz a gestão coletiva desses valores que por ventura pertence ao caixa da Loja.

 

3.3. As sessões maçônicas

 

Uma sessão maçônica é o momento de reunião durante a semana. Nelas se tem um horário fixo para começar e terminar. Após o término, se faz um recreio que damos o nome de “ágape”, momento fraterno no qual se faz um “lanche”. No Brasil se come pizza (o que engorda), toma-se moderadamente cerveja, café, etc.

 

Durante as sessões, toda ela seguindo o ritmo do manual, o que gera um ritual, se faz leituras nas quais se rememora os motivos para os quais estamos ali; além de leituras de trabalhos sobre filosofia maçônica que os membros são convidados a fazer; O trabalho maçônico consiste em ler temas filosóficos, bíblicos, e discorrer sobre eles; no estilo escolar mesmo. Esses temas estão todos nos manuais do Rito que se adota. Adiciona-se a esses temas a especificidade simbólicas da maçonaria, para fixa-los na memória, que no geral é toda uma simbologia oriunda da construção civil.

 

Existe três tipos de seção. Dedicada a cada grau de formação e as mesmas são distribuídas segundo agenda da Loja.

 

3.4. Graus Maçônicos

 

Esse é outro tópico que gera muito confusão no público em geral. O cerne da maçonaria são 3 graus. Aprendiz, Companheiro e Mestre. Nesses três momentos de formação está tudo que comporia a maçonaria. Todo conteúdo necessário está contido neles. Eles se chamam de simbólico pelo fato de utilizar símbolos na instrução. Todo símbolo comporta múltiplos significados. Assim, se lhe mostro uma “pedra” (pedra de construção) sem trabalho algum, ali no seu formato bruto, podemos transpor essa figura para outras esferas. Tal como, associar a pedra bruta aquele aspecto rude que há em cada um de nós e que, ao trabalhar essa pedra bruta, devemos passar a outro estágio, lapidando essa pedra. Como podemos ver, a pedra bruta é um símbolo e dele podemos fazer associações. A Igreja Católica utiliza largamente a mesma técnica simbólica de formação, quando, por exemplo, chama Jesus de “cordeiro”. A maçonaria apenas copiou essa estratégia, utilizando largamente símbolos da construção civil medieval para tal. O que confunde até mesmo maçons é que nos símbolos há muita indicação de conteúdos a serem estudados e trabalhados. E se você não for procurar as indicações, fica a ideia de que eles não estão contidos nos 3 graus simbólicos.

 

Então porque se fala de maçom grau 33? Como se fosse o papa da maçonaria? Vamos explicar. Você pode encontrar a expressão maçonaria simbólica e maçonaria filosófica.

 

Por maçonaria simbólica são os 3 graus acima indicado. Por filosófica, tem uma variedade segundo o “material didático” (Ritual) adotado. Se for o Rico Escocês Antigo e Aceito, aí sim falaremos dos 33 graus. Sendo os 3 primeiros da parte simbólica, Aprendiz, Companheiro e Mestre, e os outros 30 da maçonaria filosófica.

 

A maçonaria filosófica é um complemento ou aprofundamento dos 3 graus. E há algumas diferenças nesses percursos de formação. Se no R.’. E.’.A.’.A.’. ficou mais conhecido com seus 33 graus, o Rito Moderno tem apenas 14. O Rito de York 7 e o Rito Schroeder (alemão) apenas os 3 simbólicos.

 

Mas há outros ritos com muitos graus, porém não são aceitos na Maçonaria Histórica do Brasil. Dentre eles temos noticias do ritual chamado egípcio, praticado por algumas maçonarias não-históricas, que vão aos 90 graus.

 

O que importa é que a base da maçonaria são os três graus. E para progredir nesses graus, se exige que o novato, no grau de Aprendiz, leia, faça trabalhos escritos, faça apresentações orais, e na vida “profana” estreite a convivência social com outros irmãos.

 

Em maçonaria se utiliza muito os termos vida “profana” e vida “maçônica”. Trata-se de um clichê de área ou um trejeito maçônico. Por vida profana estamos falando das coisas cotidianas, da vida social para além das relações maçônicas. Por vida maçônica são os assuntos restritos a Loja, Grande Loja, etc. Deve-se, contudo, tomar o devido cuidado para não compreender a vida cotidiana sob uma ótica de apreciação negativa, o que é um equívoco, pois o maçom é e deve ser alguém apaixonado pela família, pela vida da comunidade onde vive.

 

3.5. Paramentos

 

Numa missa o padre usa “umas roupas diferentes”? Podemos chamar essas roupas de paramentos litúrgicos. O mesmo ocorre na sessão maçônica. Para tornar o momento solene, portanto carregado de simbolismo, utiliza-se sempre algumas “roupas” próprias, que habitualmente chamamos de paramentos. Tomando o Rito Escocês, é recomendado terno preto, camisa branca, gravata preta, etc. Se for a tradição ligada às Grandes Lojas, de influência inglesa, faz uso do azul marinho.

 

O terno é uma vestimenta padrão e básica. No momento da sessão se utiliza algumas “alfaias”. Seria adereços feito em pano, que se coloca sobre os ombros, os punhos, etc. Sendo o “avental” o mais importante e peça fundamental da nossa tradição. O avental simbólico faz alusão ao adereço de proteção utilizado pelos pedreiros. Em termos simbólicos ele tem outros significados.

 

O efeito prático e pedagógico é tornar um momento humano em algo singular, solene. Que demanda atenção máxima, que demanda um palavreado respeitoso e elevado. E por esse e outros estratagemas da pedagogia maçônica é que faz dela uma “metodologia” muito eficiente em aglutinar pessoas. Algumas pessoas procuram ver nesses “rituais” coisas de outro mundo, mas para profissionais da pedagogia e das ciências da educação é muito simples e historicamente contextualizado tais estratégias que propiciam um ambiente eficiente e eficaz no ensino.

 

Na igreja católica as várias agremiações marianas também usam paramentos. São fitas que se colocam sobre os ombros no momento em que se “celebra a santa missa”. Os Arautos do Evangelho, uma associação de católicos, utilizam roupas, fitas, etc., como paramentos litúrgicos como forma de criar um contexto externo e visual capaz de propiciar o clima mais favorável à sua fé.

 

 

4 . SER MAÇOM

 

Ser maçom é o que mesmo? Para o senso comum, para as pessoas simples, é ser alguém poderoso. Se um maçom assim pensar, estará no lugar errado ao menos duas vezes. A primeira, ele logo verá, é que o espírito de ajudar ao próximo ou de humanista da maçonaria em nada fala de como conseguir poder, mas de como servir. Em segundo lugar, a pessoa que não conseguir romper o olhar do senso comum e vulgar em nada estará preparada para ser maçom. Esses são os dois motivos de exclusão de candidatos que batem às portas da maçonaria.

 

4.1. Falsa maçonaria

E muito simples de saber o que é um projeto não-maçônico. Se houver promessa de “poder” e toda “lorota” de que sua vida vai mudar material e financeiramente, esse é o maior sinal de que pessoas que não compreenderam maçonaria estão lhe vendendo fantasias.

 

            4.2. Propaganda sobre maçonaria

Pode parecer estranho que um grêmio composto por pessoas não goste de fazer propaganda de si. Ter como estratégia ser discreto e até mesmo dissimular o interesse daqueles que apresentem interesses por fazer parte dele. Contudo, com poucas explicações, logo perceberemos que a divulgação maçônica deve ser algo discreto. Essa estratégia pode ser lida de duas maneiras. Num primeiro olhar, podemos dizer que algo que ocupa lugares estratégicos não precisa se propagar como as demais mercadorias. Noutra perspectiva, mais elaborada, se o objeto do grêmio for lidar com a subjetividade das pessoas; se o desafio dela for exercitar semanalmente na superação de traços mesquinho da condição humana; se o desejo dela for “combater os vícios, dominar as paixões”, por essa natureza ela deseja ser bem discreta. Ninguém precisa saber dos aspectos que julgo fraco em mim mesmo; a minha (nossa) subjetividade não está aberta em praça pública. Ela é aberta a poucos, precisamente a pessoas as quais cultivamos vínculos fraternais e que mesmo no seio de uma associação dessa natureza esse processo leva tempo, muito tempo. Nada menos que 20, 30 anos de caminhada.

 

            4.3. Discreta e não secreta

As atas das reuniões maçônicas são de conhecimento do Estado. A Maçonaria é uma sociabilidade filantrópica, filosófica e fraternal. Nela não se discute ilicitudes ou qualquer coisa do gênero. No geral ela é registrada nas instâncias governamentais que cuida dos registros das pessoas jurídicas. Sendo uma Loja maçônica uma pessoa jurídica de direito privado e com finalidades de propagação cultural, convívio fraternal recreativo e assistência social. Não há segredo e o Estado acompanha movimentações financeiras, patrimonial, etc. Sociedade secreta nos países ocidentais são proibidas.

 

4.4. Benefícios em ser maçom

Na filosofia contemporânea se discute o fato de que a nossa “consciência” só é em função de outras consciências (Vicente Ferreira da da Silva, entre outros). Nossa existência individual só é possível na medida em que ela se relaciona com outras. Sem entrar aqui nessa explicação, o coletivo de uma Loja maçônica permite que esse fenômeno ocorra. A Loja maçônica possui toda uma estrutura que propicia as condições para que esse coletivo de pessoas possa cultivar um tipo de consciência, aquela apregoada pelos movimentos culturais como humanismo, iluminismo e seus desdobramentos em nossos dias, isto é, como humanos temos propósitos existenciais que rompem com os aspectos biológicos que nos compõe, para manifestar aspectos outros que não o puramente material.

 

O erro básico que pode motivar “ser maçom” é pensar que uma vez nesse clube as “portas lhe abriram”, sobretudo no sentido de contatos privilegiados. Tal ideia é muito restrita, para não dizer simplista, pois se consideramos a inciativa privada, tais contatos podem sim ser feito a partir da maçonaria, mas nunca como sendo seu foco. Como se diz num ditado brasileiro, “quem vai com muita sede ao pote, pode quebra-lo”, assim pode ser esse interesse em maçonaria. Se for só isso, certamente será frustrante.

 

Noutra perspectiva de se ter contatos, deve-se ter claro que desejar ter informações privilegiadas no que toca a assuntos de Estado, constitui, na grande maioria dos ordenamentos jurídicos, crime de “tráfico de influência”. E se associar para tal, constitui já noutro crime. Logo, é certo e líquido que tais propósitos não serão realizados na maçonaria.

 

O foco de uma Loja deve ser a condição humana em geral e dos humanos em particular que a compõe. Devemos cuidar dos nossos limites e humildemente compartilhar nossas forças. Jamais cuidar da “vida alheia”, incluindo a dos irmãos. No máximo se caminha junto, mas cada um precisa caminhar sua jornada pessoal.

 

            4.5. Problemas na maçonaria

Fazer negócios entre irmãos é a fórmula perfeita para dissolver um grupo de pessoas que ali se aglomeraram para outros fins. Se o grupo mau conhece o que é ser maçom e logo já atropela as coisas para falar de outras; o resultado serão pessoas que não entendem de maçonaria; e pouco entendem de negócios. Apesar da simplicidade e clareza esse é o fato mais corrente nas Lojas maçônicas novatas.  E consiste no principal fator que acaba com Lojas.

 

A pior pessoa é aquela que “entende mau algo; que diz entender algo que nada sabe”. Antes de qualquer coisa temos que ter claro: “pessoas livres decidem se juntar, de modo totalmente livres”. Portanto, nada prende as pessoas nesse grupo, elas podem ir embora a qualquer momento. Manter o grupo consiste numa tarefa exigente, manter o grupo centrado no trabalho humano que ele se propõe ainda mais difícil.

 

4.6 Contas a pagar

 

Todas as contas de manutenção do Templo e Loja são mantidas pelos seus membros. Projetos filantrópicos, promoção cultural, assistência de familiar, etc, serão rateados entre os membros. Todo planejamento de Loja será votado, discutido e, se aprovado, assumido coletivamente. Não existe mágica nesse sentido.  

 

5. QUEM PODE SER MAÇOM

 

Alguém que tenha tempo para se dedicar á maçonaria. Capacidade intelectual razoável e condições financeira para se dedicar a esse tipo de atividade. Em termos humanos, ser humilde e capaz de formar grupo.

 

Quem não conseguirá contribuir com a maçonaria? Pessoas muito importantes; indivíduos muito ricos e que habitualmente exercem muito poder. A maçonaria é uma atividade altruística e colegiada. Uma confraria na qual temos irmãos que humildemente sabem que “do pó viemos e para o pó voltaremos”. E que ninguém é empregado dele.

 

 No passado “áureo” da Maçonaria, isto é, nos séculos XVIII e XIX, havia dois tipos de pessoas. Intelectuais e pessoas ricas compunham a maçonaria, pois nela você entra não para receber, mas para dar algo; seja conhecimento ou fundos. Não será estranho maçons em nossos dias, época que a Ordem não goza de muito status quo, pensarem que apenas “ter dinheiro seja o suficiente”, fórmula ligeira de se acabar com um grupo.

 

 6. NEGOCIOS PODEM SURGIR A PARTIR DA MAÇONARIA

 

É possível verificar que algumas Lojas, quase raras, têm mais sucessos que outras no quesito “negócio” de sucesso. Algumas Lojas conseguem por exemplo promover projetos sociais de assistência a crianças, idosos, escolas e até faculdade. (Aqui em SP, Sobei – Sociedade Beneficente de Interlagos – fundada nos anos 1980; Colégio Elias Zarzur vinculado à Loja Astro das Arábias; Sendo essa última fundada em 1947; predominantemente composto por descendentes de libaneses radicado em São Paulo, região do bairro Paraíso.)

 

Apesar de ser cauteloso sobre fazer negócio na maçonaria, devo dizer que no atual cenário do Brasil, é muito corrente existirem pequenos comerciantes, profissionais liberais, funcionários públicos (juízes de direito em peso) e militares. De certo modo a maçonaria não se caracteriza como um “balcão de negócios” dado a esse perfil de público. O mais comum nesse sentido é advogado e contabilistas oferecerem seus serviços.

 

Toda vez que alguém procura “fazer negócio” com a maçonaria vira motivo de piada. Sempre aparece alguém do tipo. É uma ótima oportunidade para se queimar e para os antigos notarem o que não se deve fazer.

 

De modo muito lento, será possível ver parcerias discretas entre irmãos de Loja. Mas essa realidade é feita com cautela, pois com muito frequência se verifica fracassos, desentendimentos e ruptura do grupo ou Loja em função dos “negócios profanos”. Portanto, se é possível fazer negócio a resposta pode ser sim, mas é necessário respeitar uma série de rituais sociais, dentre eles o tempo. A pressa não é amiga da maçonaria.

 

7. QUAL A CONTRIBUIÇÃO DA MAÇONARIA PARA A SOCIEDADE

 

Se maçonaria não é uma confraria de negócios qual é seu propósito? Ser uma sociedade dedicada a formação humana é o grande benefício da maçonaria. Quando pessoas individuais se comprometem com princípios universais de humanidade os benefícios difusos e singulares serão os mais variados.

 

Esse é o sentido de Liberal da maçonaria. Cada pessoa é a peça fundamental da sociedade, e se propiciamos a oportunidade para aqueles indivíduos que reúnem as condições de se dedicarem a esse trabalho, os efeitos serão sentidos na sociedade. Se como pai eu me preocupar com a educação dos meus filhos; sabendo quais são os instrumentos para tal, a mudança será em toda sociedade. Se como cidadão, empresário, investidor, professor, médico, advogado, vendedor, me colocar compromissos pautados por princípios universais e humanistas, o efeito de uma sociedade melhor irá acontecer na singularidade de cada pessoa. Daí o projeto ser algo discreto, sem pretensões espalhafatosas. E muito menos de projetos com o nome da maçonaria na “testa”. O projeto maçônico por excelência é o indivíduo e por isso será comum que tais pessoas encabecem projetos como universidades, jornais, revistas, entre outros, para ficarmos no âmbito da cultura. Como também em vários outros setores fundamentais de um Estado soberano. Projetos de segurança alimentar, investindo na agricultura de larga escala, projetos de energia, segurança nacional, infraestrutura, etc.

 

8. A MAÇONARIA É LIBERAL OU SOCIALISTA?

 

A maçonaria pode ser considerada um método e que dentro dela comporta várias correntes políticas, religiosas, filosóficas. E essa é a força dela; saber compor com variações políticas, religiosas, etc.

 

Ela é liberal na medida em que encampa todo um discurso político na base da formação dos Estados Modernos. Especialmente na formação dos Estados Unidos da América do Norte e que depois ecoou por toda a parte da América Latina na formação dos Estados dessa região, como também em África. Em Angola houve tentativas no século XIX de promover a independência; fato frustrado.

 

Contudo, a ideia de altruísmo, de doação, de formação de um grupo fraterno, ela indica traços socialistas no sentido de valorizar o coletivo na construção do indivíduo. E poderá ainda ser considerada “Tradicional” ao valorizar conceitos sociais como Ordem, Confraria, etc.

 

No aspecto religioso há ao menos duas correntes. Uma que crê num “arquiteto do universo”, portanto em um Deus. Há outra corrente, geralmente vinculada ao contexto cultural da França no século XIX, que prefere não admitir tal princípio, deixando para que cada pessoa decida sobre tal.

 

O fato é que maçonaria é uma estrutura que absorve com frequência a moda do momento.

 

9. QUEM FAZ A MAÇONARIA ACONTECER

 

Seus membros, que se tratam como irmãos e procuram construir uma fraternidade filosófica. Não há nada externo a isso. Não há forças “cósmicas”, mas duro trabalho. O êxito da Loja e seus desdobramentos será fruto exclusivo de quem a compõe, o fracasso também. Ninguém vigia ninguém; ocorre apenas de um confrade mais velho, na fase inicial de formação atinente ao conteúdo maçônico, ser responsável por indicar e dialogar como os novatos sobre os conteúdos maçônicos. Se há uma autoridade maçônica é aquela na qual a pessoa “sendo livre, decide servir” aos outros. O que não é fácil.

 

10. ATIVIDADES PARA-MAÇÔNICAS

 

Se apenas homens participam da Loja maçônica, há um conjunto de atividades que ocorrem nas dependências do Templo ou até mesmo dentro dele destinado aos filhos, filhas e esposas de maçons. Aliás, aos filhos são chamamos de sobrinho e eles nos chamam de tios; o mesmo ocorre no que toca às esposas, que habitualmente são chamadas de cunhadas. Esses vínculos são construídos lentamente e só fazem sentido se de fato houver ambiente fraterno que os contextualizem.

 

Existem várias metodologias para tais trabalhos dito para-maçônicos. E elas recebem os seguintes nomes: “Filhas de Jó”, para as moças; “De Molay” para os meninos, e “Estrela do Oriente” para as esposas. O certo é que tais iniciativas devem ocorrer com o tempo, após o grupo Loja maçônica for estruturado.  

 

11. ATIVIDADES PROFANAS A PARTIR DA MAÇONARIA

 

Existem dois desdobramentos públicos da maçonaria e que não levam o nome “maçonaria”. Como podemos constatar facilmente que maçonaria é uma Instituição filosófica, filantrópica e fraternal, temos que a fraternidade e sua dinâmica é “intra corpus”, não praticamos a fraternidade com os de fora, apenas entre nós. Restam, contudo, dois aspectos que podem ser externos e internos. Se a prática da filantropia pode se aplicar internamente, através da solidariedade entre irmãos e familiares, ela é no geral destinada às pessoas de fora. E será manifestada em “obras sociais de assistência”.

 

Outra faceta muito relevante é o empenho da divulgação da cultura filosófica ou dos conteúdos filosóficos em geral, mas sobretudo destinados à ideia de uma vida republicana no interior do Estado. Dado que não nascemos “democratas” ou mesmo socialistas, mas meros tiranos, como a psicologia e psicanálise contemporâneas muito bem podem nos explicar, a Maçonaria procura, por vários meios, promover conteúdos para uma vida em sociedade. Ser cidadão no Estado é algo que se aprende. E movido por esse propósito cultural, indivíduos ou mesmo a Loja maçônica, promovem atividades culturais nesse sentido para o público em geral.

 

Nas mais variadas formas de emissão e cultivo de cultura. Jornais, colunas de opinião em revistas ou jornais, revistas de cultura geral, programas de rádio, teatro, livros, etc. Nesse âmbito nunca aparece o nome maçonaria pelo simples fato de que tais atividades não são um conteúdo exclusivo dela. Filosofia é filosofia no geral, essa apreendida nos livros, cursos, no interior da vida universitária. Literatura é a literatura universal, com sua lógica ficcional própria; debate sobre fundamentos jurídicos obedecem a regras universais da cultura, entre outros. Porém, todos esses fazeres produzem no computo geral a ideia de promover a vida republicana e por isso é objeto de interesse maçônico.

 

Essa atividade cultural para o público no geral não compõe necessariamente o projeto de uma Loja. Essa agremiação tem foco interno, queimar essa etapa e assumir outros compromissos, nada funcionará bem. Tais feitos externos só se justificam quando excedem os compromissos próprios de uma Confraria, que não é uma sociedade estrita na propagação de algum conteúdo, antes, é uma organização fraternal e que cuida prioritariamente dessa dinâmica. 

continua…

 


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