Como explicar o fascismo no Brasil de hoje

Como explicar o fascismo no Brasil de hoje

Como explicar o fascismo flagrante no Brasil de hoje? 

LOPES DE ALMEIDA, C. Como explicar o fascismo flagrante do Brasil de hoje?AMF3: São Paulo. 2021. Acessível em:https://amf3.com.br/como-explicar-o-fascismo-no-brasil-de-hoje 

Como explicar o fascismo flagrante no Brasil de hoje? 

 

 

O que nos assusta não é a existência de uma personalidade como a do Presidente Bolsonaro (Sim, ele é presidente eleito no jogo democrático; infame, mas eleito licitamente). A partir da sua figura e presença nas pautas das comunicações sociais de nossos dias, o estarrecimento vem mesmo é da percepção de que ele apenas catalisa uma sociedade que é justamente isso. 

 

Dessa visão aterradora ou absurda é que nos pomos a pensar não mais em uma pessoa, mortal. O que surge é o fenômeno de milhares de pessoas que assim pensam a vida cotidiana. E que estão espalhados por todos os lados do Brasil. O problema é tão colossal que temos que recortar para apenas um lance e assim seguir pensando. No caso por conhecimento, tomemos o fenômeno da Educação no Brasil. E sobre esse recorte lancemos perguntas para compreender como essa monstruosidade é gestada, parida e nutrida a tempo por todos os rincões do Brasil. 

 

Em primeiro lugar, e sem medo de erro, os sistemas formais de Educação do país de Bolsonaro replicam a sociedade brutalmente injusta que é a brasileira. Governos anteriores, nomeadamente do Partido dos Trabalhadores, fizerem esforços para mudar esse cenário. Contudo, ele permanece muito idêntico desde a fase mais consolidada desse país que foi sua fase “colônia extrativista” baseada no trabalho “escravo”.  

 

Compreender como alguém fala atrocidades a cada dia e encontra o mais vibrante eco pelo país, só pode ser compreendido na medida em que perguntamos pelo papel que a Escola Pública tem cumprido entre nós. E se  ela tem sido capaz de promover a mudança nesse quadro social; ou a mantenedora disso.

 

O problema é enorme e esse breve texto não consegue tratar a questão do que seja a Escola Pública.Dado que o Presidente profere absurdos todos os dias, temos que especular, a título de hipótese, que a Escola Pública não cumpre seu papel de formação para a cidadania. Aliás, se consultarmos os documentos de referência Legal da Educação, salta-nos como é explicito as indicações de que esse seja o papel da Educação Básica, no geral, e mais ressaltado no Ensino Médio, a parte final da formação dos jovens entre 15 – 18 anos. Consultar a Base Nacional Curricular Comum – BNCC, aliás, nos indica isso de modo muito forte.

 

Mas quem seria esse apoiador de um Governo muito perigoso para o sistema democrático? Num resumo, desde os anos 60 e 70 houve uma imposição de uma cultura pública que impedia as pessoas de se envolverem nas coisas “publicas”. Debater, filosofia, cooperativismo foram todos enfeixados como sendo coisa de “vagabundo”. Nesse contexto de ditadura civil-militar, a coisa pública foi culturalmente interdita às pessoas. E de lá para cá não houve instituição pública/estatal alguma que fosse capaz de reverter esse desenho. O brasileiro não se ocupa da coisa pública, ele debate sobre futebol, mas de política ele não gostava de fazer isso. 

 

De uma ausência do debate político, por uma cultura que tomou isso como algo perigoso ou coisa de “vagabundo”, como queria os militares no poder, nos últimos 5anos a coisa virou. Pessoas que nunca tiveram espaço para pensar a coisa pública, seja nas Escola Pública, seja na vida cotidiana, passaram agora a opinar sobre tudo. Claro, o que conseguiram foram ser massa de manobra. 

 

Participar da política sem saber o que seja isso pode não dar resultados esperados. Nos protestos que levaram ao golpe parlamentar da Presidente Dilma Roussef, ocorreu justamente isso. Uma massa que se esquivou de participar da política e que não lidava com isso, seja por ausência na sua formação escolar ou por aquele sentimento de ser isso impuro ou coisa de “vagabundo”, acabaram como vítima de Bolsonaro. 

 

 

Nesse cenário devemos lembrar como são tratadas as disciplinas de Filosofia e Sociologia nas Escola Pública. Campos do saber que foram retirados por decreto dos currículos nos anos 70; e é sempre objeto de incômodo no currículo escolar, aliás, pelos próprios profissionais da Educação Básica, que assimilaram a ideia que são conhecimentos supérfluos, “sem aplicação prática”, etc. 

 

Explica-se portanto o fascismo no Brasil a partir da cultura geral e escolar em específico. A retirada de instrumentos capazes de formarem as pessoas para a vida pública, operado pelo governo civil-militar dos anos 60 e 70, produziu um tipo de indivíduo movido pela lógica da cultura de massa. Baseada fundamentalmente no prazer/felicidade e na posse de bens de consumo. Uma indivíduo que na justa busca do seu sustento, acaba por não ser convidado a pensar como usufruir tais êxitos. Sendo ele envolvido por uma cultura de consumo de massa e nada mais. Essa mente quando enredada pelas mídias sociais, pela nova realidade comunicativa propiciado pelos novos meios eletrônicos, tornou-se a vítima frágil do fascismo que agora está em vigor no centro da república. 

 

Bolsonaro é um democrata fascista. Ele usa a república de modo fascista. E como alguns colegas professores apontam, ele não é um governo fascista.  Seu jeito está longe dos fascistas clássicos, pois não há uma coordenação propriamente de Estado no sentido fascista. O que há é um chefe do Poder Executivo que age ao arrepio da ritualística republicana, plantando uma desordem “em câmara lenta” nas instituições do Executivo da República. Ele “avacalha” a ritualística, utilizando termos chulos e fascistas todos os dias; distribuindo “cargos” pelos executivo de norte a sul de modo a desrespeitar certos procedimentos já estabelecidos no funcionamento da máquina pública, etc. O perigo está nessa corrosão vagarosa, pois ela está em estágio no qual mesmo querendo se recompor talvez não será na mesma velocidade em que deteriorou. 

 

Eis o Brasil, um pais brutalmente desigual. Que não é um lugar aprazível para mais de 80% dos que aqui vivem. Onde se normaliza o brutal, o violento, o desigual, o ato de excluir, ser racista, etc. Uma terra dos horrores adocicado. 

 

 

 

 

 

  

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