Platão e Aristóteles

Platão e Aristóteles

Platão e Aristóteles

LOPES DE ALMEIDA, C. Platão e Aristóteles: O início da Metafísica. AMF3: São Paulo. 2021. Acessível em: https://amf3.com.br/platao-e-aristoteles

Platão e Aristóteles: O início da Metafísica.

“A alma que nunca contemplou a verdade não pode tomar a forma humana. A causa disso é a seguinte: É que a inteligência do homem deve se exercer segundo aquilo a que se chama Idéia; isto é, elevar-se da multiplicidade das sensações à unidade intelectual. Ora, esta faculdade não é mais que a recordação das Verdades Eternas que nossa alma contemplou quando acompanhou a alma divina em suas evoluções. (…) É somente fazendo bom uso dessas recordações que o homem se torna verdadeiramente perfeito, podendo receber em grau ótimo as consagrações dos Mistérios”

PLATÃO, Fedro


Cídio Lopes[1]

1. Começo de conversa

Um curso de Introdução ao Pensamento Ocidental, como aqui pretendemos dar início, deve, logo de imediato, fazer algumas considerações preliminares que permita aos convidados a essa viagem conceitual se situar e ter em mente, já no início de nossa jornada, o que vamos fazer e o que não iremos fazer.

Não se trata de uma mera desconfiança. Tal posicionamento já revela o que é a filosofia Ocidental, isto é, um tipo de pensamento radical ou rigoroso. A idéia de rigor e radicalidade aqui não são no sentido de que a Filosofia Ocidental tem dogmas dos quais não abre mão, mas,radical enquanto modo de pensar, que procura pelas causas e princípios das coisas. Essa disposição procura, também, dar conta das várias possibilidades de abordagem acerca do real e, nesse exercício de compreensão, trazer à consciência o fato de que há vários modos de dizer o real.

O caráter crítico da Filosofia, que até pode ser considerado como algo negativo[2], é apenas seu método. Não se trata de alguém sem senso de humor. Essa desconfiança é um exercício intencional da consciência que procura com isso tomar ciência das coisas que fazemos corriqueiramente. Uma vez tomadas de modo suspensas, abre-se caminho para uma real avaliação de tais fazeres.

Costumamos dizer que essa atitude inicial da Filosofia é um “pré-conceito”, como aquilo que se situa antes do conceito. O ato de avaliar, de argüir, ao qual a Filosofia nos convida, é que nos capacita a dar outro salto: o juízo. Saímos dos “pré-conceitos”, enquanto opiniões do senso comum, e elaboramos no exercício crítico nossos conceitos sobre este ou aquele ou tema. 

Esses avisos já sinalizam o que é a Filosofia. Mas ainda não bastam. Precisamos, para nosso curso, fazer mais alguns recortes e sinalizar o que vamos convidar a todos a meditar nesse encontro. Por ser um pensamento atendo à complexidade da realidade; dos fatos. Precisamos dizer o que vamos fazer e o que não vamos.

Nosso objetivo é abordar, em linhas gerais, como se dá a origem da Metafísica em Platão e Aristóteles.

Precisamente iremos nos ater às idéia básicas que procuram responder as seguintes questões: “por que as coisas nascem, por que se corrompem, por que são?[3] Temas que se apresentam de uma forma em Platão e, com a particularidade que lhe é própria, em Aristóteles.

O surgimento dessas interrogações, que nos dias de hoje nos parecem muito familiares, tem na nossa história Ocidental um período preciso. Trata-se da Grécia Clássica do século V. É com Platão, na boca de Sócrates, que iremos pela primeira vez ter respostas originais para as indagações acerca do fundamento das coisas: “O que existe? “Por que existe?”[4].

Sócrates, figura enigmática e que conhecemos pelos diálogos de seu discípulo Platão, entra para a história da filosofia como aquele que sempre está perguntando. O pensamento de Sócrates/Platão representa a reformulação das investigações dos seus antecessores e a proposição de questões éticas e de conhecimento da realidade sob a ótica não da pura natureza, mas de princípios primeiros e supremos, ou seja, metafísicos.

Platão, para explicar essa sua novidade sobre como compreender a realidade, fez uso peculiar da mitologia. Se por um lado, desde os primeiros filósofos pré-socráticos, houve o abandono da mitologia como forma de explicar o real, Platão a retoma freqüentemente como um recurso para explicar as suas idéias. [5]

Nesse caso o mito em questão é o da “Segunda Navegação”[6]. Será desse mito que ele vai falar sobre os dois planos do ser, isto é, uma realidade visível, “sensível”, e outra “supra-sensível”.  E será aqui a novidade radical de Platão. Mesmo fazendo uso de mitos ele propõe um novo olhar.

Para Platão, recorrendo a um dizer dos marinheiros, a Segunda navegação era aquela “que se realizavam quando, cessado o vento e não funcionando mais as velas, se recorria aos remos.” Platão, então, concebia que os filósofos anteriores a ele tinham empreendido apenas a primeira parte. Suas investigações utilizaram apenas os ventos e não conseguiram explicar o real ao ater-se apenas a ele mesmo. O esforço dos remos aqui é entendido por Platão como o seu esforço intelectual para ir mais longe e apresentar o fundamento do real em outra esfera. Na esfera de uma realidade que não poderia ter a mesma realidade do real. Uma realidade, portanto, além do físico.

Como dissemos anteriormente, a prática filosófica é um constante perguntar e procurar pelas causas das coisas. Um pensamento filosófico se caracteriza por essa ocupação constante. E no caso de Platão não foi diferente. O diferente foi exatamente sua resposta, pois Anaxágoras, um filósofo pré-socrático, já havia se pergunta pela mesma coisa. Contudo, “Platão observa que o próprio Anaxágoras, apesar de ter atinado a necessidade de introduzir uma Inteligência universal para conseguir explicar as coisas, não soube explorar essa sua intuição.”[7] O que seu antecessor não foi capaz de pensar é que a causa do mundo não pode estar no próprio mundo.

Um exemplo muito utilizado para aclarar ainda mais esse problema é dado comumente com o julgamento de Sócrates, mestre de Platão. Como se sabe Sócrates foi condenado à pena de morte. O ato de se dirigir ao cárcere pode ser descrito de dois modos. Um primeiro, mais naturalista, seria tentar explicar os motivos que o levaram até aquele lugar, onde tomaria cicuta, descrevendo apenas questões de ordem física. “invocando os seus órgãos locomotores, seus ossos, seus nervos e assim por diante, e não a verdadeira causa que foi a escolha do ‘justo’ e do ‘melhor’, feita com a Inteligência.”[8] Nesse sentido a causa que levou Sócrates até ao cárcere é que pode ser considerada a verdadeira. As demais descrições se ateriam a causas secundárias. O que parece muito simples para os dias de hoje, saber identificar exatamente este tipo de causa, para aquele contexto consistiu em uma inovação e o que chamamos de fundação da metafísica.

Para os primeiros filósofos, que faziam uso do método denominado de naturalista, o conhecimento “é fundado nos sentidos, e não esclarece, mas torna obscuro o conhecimento. O novo tipo de método deverá se fundar sobre os logoi (acho que vale a pena explicar o logos em 2 frases)e por meio deles deverá procurar captar a verdade das coisas”.[9]

Segundo o historiador da Filosofia Geovanni Reale “depois da ‘segunda navegação’ platônica (e somente depois dela) é que se pode falar de ‘material’ e ‘imaterial’, ‘sensível’ e ‘supra-sensível’, ‘empírico’ e ‘metaempírico’, ‘físico’ e ‘suprafísico’”.[10]

Nessa nova forma de pensar temos o famoso mundo das idéias platônicas, que em muito nos é familiar. Acerca desse mundo das idéias, também se tornou bem popular entre nós outro mito platônico. O mito da Caverna de Platão[11].

Nesse mito, que vai dizer de outro modo o que já sinalizamos com a Segunda Navegação, temos, em uma de suas possibilidades interpretativas, o mundo sensível, visto pelos olhos sensíveis a que Platão dizia ser utilizado por seus antecessores, e o mundo das idéias, visto apenas pelos olhos da razão, e que só se alcançaria pelo esforço racional.

Essa nova forma de pensar a realidade faz surgir em Platão um conceito muito comum entre nós. O termo Idéia será a grande contrição para vários campos do saber, pois idéia aqui é aquilo que Platão vai chamar de coisa em si, aquilo que existe por si. E essas estruturas “suprafísicas” é que são as causadoras das físicas, estabelecendo assim uma relação necessária entre inteligível e sensível.

“As idéias de que falava Platão não são, portanto, simples conceitos ou representações puramente mentais (só muito mais tarde o termo assumiria esse significado), mas são ‘entidades’, substâncias’.[12] Esse mundo das idéias ou formas são fixas e não mudam. O mundo sensível, ao contrário, está em constante mudança. Para Platão o que importa são as coisas em si, pois essas é que definem o múltiplo. Uma coisa só é bela aos nossos olhos sensíveis quando captamos nela o Belo, enquanto forma Ideal.

A esse lugar onde fica a Idéias Platão chamou de Hiperurânio. Outro termo que se apresenta sob duas possibilidades. Em um primeiro momento podemos dizer um “lugar” acima do real, mas logo em seguida devemos romper com essa relação espacial, pois o termo nos convida para outra esfera. O risco inicial é não fazermos a ruptura com o mundo físico, e permanecermos pensando em termos físicos esse outro lugar e, por conseqüência, condicionando as Idéias ao mundo físico, sensível. Então, Hiperurânio é um lugar sem um lugar. É um além físico que é de outra natureza[13]

 

1.2. A estrutura do mundo das Idéias.

É fundamental notarmos o salto dado por Platão. Comumente, depois das inovações filosóficas se tornarem comuns, corremos o risco de desconsiderar a contribuição de seus inventores. Até aqui nossa preocupação era falar e destacar exatamente esse salto, para que possamos ter essa consciência. Agora, então, cumpre falar de como se organiza esse mundo das Idéias.

Platão ao procurar conhecer as coisas à sua volta nos encaminhou para um tipo de conhecimento que pretendeu resolver alguns dilemas clássicos na empreitada de entender o real. Um deles é como conciliar o fato de que as coisas mudam e tudo está em movimento. Aristóteles também terá uma contribuição para esse dilema e que veremos mais adiante. A de Platão foi dizer que há um mundo em movimento, esse que vemos pelos olhos físicos, e outro imutável, que não muda.

Nesse sentido, para ele, teríamos um tipo de conhecimento que se assemelharia a essa aparência. Seria então a doxa (opinião,) que é um tipo de pré-conceito, pois é fundada em bases enganosas que é a aparência;. A aparência nos engana pelo fato de estar sempre mudando e por serem subordinadas não a elas mesmas, mas a princípios que as sustentam.  A opinião também seria sujeita a toda sorte de falsificação. Para compensar esse tipo de conhecimento, teríamos a epistéme[14] como forma de conhecer que se opõe a doxa e seria o conhecer efetivo da realidade, pois se assentam na investigação das formas puras, as Idéias, a únicas que existem de fato e são causas de si.

Nessa estruturação de como conhecer de fato as coisas Platão nos apresenta sua Metafísica e que podemos apresentá-la em três partes: “a) a teoria das Idéias, b) a teoria dos primeiros Princípios e c) a doutrina do Demiurgo.”[15]

 – a) O termo idéia que pode nos remeter nos dias de hoje a um conjunto de pensamento deve ser revisto quando nosso propósito é pensar Platão. Segundo REALE e outros Filósofos[16], “a civilização espiritual grega era uma civilização da “visão” e, portanto, da ‘forma” que é objeto de visão;”[17] Nessa cultura, será (de) fundamental essa disposição por demarcar e dar formas. Assim por exemplo, Nietzsche compreende toda a arquitetura grega, como essa disposição para o “dar forma”.

Ver dos físicos é uma coisa era ligada ao mundo sensível. Outra é ver com o intelecto as formas que subjaz no real. “O ver da inteligência capta formas inteligíveis que são, exatamente, essências puras.” As idéias são as essências das coisas ou do Bem, do Belo.

E quais seriam então as características das Idéias. Segundo REALE elas podem ser classificadas em número de seis.

“1) a inteligibilidade 2) a incorporeidade 3) o ser no sentido pleno 4) a imutabilidade 5)a perseidade (por si) 6) a unidade.

Essas seriam as características fundamentais que definem as idéias segundo Platão.

Os primeiros Princípios seriam uma solução para o múltiplo de Idéias, isto é, para resolver a multiplicidade do real, recorremos às idéias. Para pensarmos as várias mesas lançamos mãos da “mesa” enquanto idéia. E assim procedemos com tudo que há. Porém, teremos agora um múltiplo de idéias. Para resolver esse problema, Platão recorre à idéia de que há outro princípio para unificar tudo isso. No caso é o BEM ou UNO.

No topo da hierarquia do mundo das idéias temos também a Díade. Díade e Uno, compõe assim a parte mais elevada do mundo das idéias. Desse principio é donde emana todo o Bem, toda Verdade, todas as demais Idéias e, por fim, o mundo sensível.

Se por um lado o Uno é o que demarcar e cria forma e unifica. A Díade é o que não tem forma e parece, na sua expansão, tender para o informe. “Ela é uma multiplicidade in-determinada e in-definida que, desempenhando o papel de substrato à ação do UNO, produz a multiplicidade das coisas em todas as suas formas.”[18]  Desse modo, na origem de tudo, estaria o UNO (BEM) e a Díade.

Se no topo da hierarquia do Mundo das Idéias temos o UNO   (=BEM) e a DÍADE Indefinida, logo abaixo temos as idéias em geral das coisas. E mais abaixo temos os entes matemáticos. “Diferentemente dos números ideais, esses entes são múltiplos (existem muitos “um”, muitos triângulos etc.), embora sejam inteligíveis. Por esse motivo, Platão os chamou de entes “intermediários”, ou seja, entes que estão a meio caminho entre as idéias e as coisas.”[19]

a doutrina do Demiurgo. Platão nos convidou para notarmos que as verdadeiras causas do mundo sensível não estão nele, mas no mundo das idéias. Agora é hora de voltarmos novamente para esse mundo. O Demiurgo seria o Deus que criaria essa realidade. Ele tem como referências as formas, as idéias, de um lado, e de outro a matéria prima, que é o mundo sensível, e baseado em formas ele vai dando formas ao mundo sensível.

Se por um lado temos as formas ideais estanques, que não admite intrusões externas ao seu formato, o mundo sensível já não é assim. Para que exista então a relação dessas duas realidades, Platão concebe a chora para dar conta e explicar a relação dessas duas dimensões. “Conseqüentemente, é necessário admitir outro gênero de realidade: a “espacialidade” ou chora[20] (χωρα), que forma o “lugar” (τοπος) ou a “sede” (εδρα) para todas as realidades que nascem e perecem, justamente porque o que nasce e perece nasce em algum lugar no qual e a partir do qual depois perece.”[21]

Outros detalhes acerca do Demiurgo é que ele cria o mundo motivado pelo Bem. Os possíveis males existentes nesse mundo decorrem da “espacialidade caótica” que é a matéria sensível e não por trabalho dele.

Para uma Introdução ao Pensamento Ocidental, essa “introdução” à metafísica de Platão parece-nos cumprir nossos propósitos. Certamente poderemos retomar oportunamente apenas a metafísica platônica e ampliar tudo o que foi dito nessa primeira parte. Mas a sinalização ou a formação de uma imagem geral acerca de um determinado assunto é de muita valia na medida em que ela nos permite, quando mergulhado nas minúcias do assunto, nunca perder o horizonte ou a totalidade do assunto que é sempre mais motivadora do que as partes isoladas.

 

 

 

 

 

2. Aristóteles

2.1. A Filosofia Primeira.

Cabe antes de qualquer coisa fazer um esclarecimento sobre a palavra metafísica e de como ela surgiu, pois o próprio Aristóteles empregava a idéia de Filosofia Primeira. Segundo uma história bem ilustrativa, diz-se que Andrônico de Rodes ao organizar as obras de Aristóteles em sua biblioteca começou pelas obras ligadas ciências práticas e produtivas. E ao final sobrou um conjunto de livros idênticos na temática e que ele não sabia onde colocar. Logo propôs que o fizesse depois-da-física ou, em grego, meta-física, além da física.

Essa história tem apenas efeitos ilustrativos. O fato é que Aristóteles fez uma divisão e uma sistematização do conhecimento bem distinta da que seu mestre havia feito. Grosso modo, aliás, se de um lado temos a dialética em Platão, teremos, por outro, como contraponto, a analítica que é a Lógica que conhecemos hoje. A palavra dialética “é um diálogo, um discurso compartilhado por dois interlocutores, ou uma conversa em que cada um possui opiniões opostas sobre alguma coisa e devem discutir ou argumentar de modo a superar essas opiniões contrárias e chegar à unidade de uma idéia […][22]. O que para Aristóteles não satisfazia a necessidade de rigor que se deveria tratar os conhecimentos.

Postergando um pouco mais em apresentar a divisão das Ciências segundo Aristóteles, vale dizer que sua Lógica ou analítica se constitui na medida em que sua concepção acera da realidade não se dividia em duas. “Diferente de seus dois predecessores[23], Aristóteles não julga o mundo das coisas sensíveis, ou a natureza, um mundo aparente e ilusório. Pelo contrário, é um mundo real e verdadeiro cuja essência é, justamente, a multiplicidade de seres e a mudança incessante.”[24]

O desafio do filósofo é pensar um modo de explicar a realidade e desse modo conhecê-la. Para tal ele procura pensar o movimento e o não-movimento. Como explicar, por exemplo, que uma coisa é, mas ao mesmo tempo muda? Nesse sentido, como podemos afirmar o SER e ao mesmo tempo admitir que ele mude de forma? Acaso, ao mover-se não deixaria de ser o que era antes, e passa a ser outra coisa?

Aristóteles certamente providenciou resposta para isso. Vamos agora começar a ver a divisão que ele fez em seu pensamento e assim chegarmos às respostas.

Segundo o historiador REALE pode se dividir as ciências aristotélicas em três ramos: “1) as ciências teoréticas, que procuram o saber pelo saber e que consistem na metafísica, na física (em que é incorporada também a psicologia) e na matemática; 2) as ciências práticas, que usam o saber com a finalidade da perfeição moral: a ética e a política; 3) as ciências poiéticas, isto é, que tendem à produção de determinadas coias”[25].

Por certo teremos que também nessa parte fazer opções de análise dado a amplitude temática que cada uma das ciências acima nos propõe. Como o nosso tema é a Metafísica vamos falar apenas dela.

Finalmente podemos lançar a pergunta: o que é a Metafísica Aristotélica? E teremos a certeza de não conseguir dizê-la toda, pois como é próprio do discurso filosófico: dizemos o que dizemos e avisamos o que falta para ser dito, para que desse modo não sejamos acusados de omitir temas relevantes. O que se aplica à vastidão do tema

 

2.2. Metafísica em Aristóteles.

A resposta então pode ser dada de modo curto e que irei recorrer ao historiador REALE que assim nos diz: “As definições dadas pelo filósofo [sobre o que é Metafísica ou Filosofia Primeira] são pelo menos quatro: a) a metafísica indaga as causas e os princípios primeiros ou supremos, b) a metafísica indaga o ser enquanto ser, c) a metafísica indaga a substância, d) a metafísica indaga Deus e a substância supra-sensível.”[26]

Essas definições de Aristóteles não só o coloca em relação com seus antecessores, mas apresenta-se em seqüência harmoniosa com seu próprio sistema. “Uma conduz estruturalmente à outra e cada uma a todas as outras, em perfeita unidade. […] quem busca a causas e o princípio primeiros necessariamente deve encontrar Deus, porque Deus é a causa e o princípio primeiro por excelência. Mas também partindo das outras definições chega-se a idênticas conclusões: perguntar-se o que é o ser significa perguntar-se se existe apenas um ser sensível ou também um ser supra-sensível e divino (ser teológico). Da mesma forma a questão “o que é a substância” implica também a questão “que tipos de substâncias existem”, se só as sensíveis ou também as supra-sensíveis e divinas.

 

2.3. O estudo da causas primeiras e dos princípios primeiros ou supremos (Etiologia)

 

Como muito bem nos adverte o título temos que começar pelo o que é mais supremo, ou seja, os primeiros ou supremos princípios. Oriundo da Lógica eles são: a “identidade, não-contradição e terceiro excluído. Os princípios lógicos são ontológicos porque definem as condições sem as quais um Ser não pode existir nem pensado; os primeiros princípios garantem, simultaneamente, a realidade e a racionalidade das coisas.”[27]

A segunda etapa, mas que ainda se encontra entre o princípios, pois seria as causas primeiras temos a causa formal (eidos = ειδος) e segunda a causa material.  Com essas duas primeiras causas Aristóteles explicaria, então, a realidade que é composta de matéria e forma. Contudo ainda resta dizer como o movimento se dá nesse processo. Aí temos a causa eficiente ou motora responsável pelas mudanças das coisas. Um exemplo comumente dado é que “os país são a causa eficiente dos filhos, ou que a vontade é a causa eficiente das várias ações do homem […].[28] Para fechar o processo das causas temos a causa final e que versa sobre a finalidade das coisas. Uma cadeira é para servir como lugar de assento.

 

2.4. Ciência do Ser (Ontologia)

A questão do Ser em Aristóteles merece uma abordagem em particular, pois dado a sua complexidade pode nos escapar aqui sua conceituação máxima. Mas o Ser enquanto Ser quer dizer que engloba tudo o que existe, seja inteligível ou sensível.  E aí Aristóteles caminha para resolver aquela idéia de como explicar a mudanças nas coisas e ao mesmo tempo a sua permanência. “Portanto o Ser é substância, alteração da substância ou atividade da substância ou, de qualquer modo, algo-que-reporta-à-substância.”[29]

 

2.4.1. Sobre o Ser ainda podemos dividi-lo em três etapas.

a) – Categorias ou Ser em si. Vamos ver esses mesmos princípios na lógica que são as categorias dentro das quais qualquer “coisa” terá que aparecer necessariamente. Elas são:

1) – Substância ou essência (é a principal; é o próprio sujeito);

2) – quantidade; (um, muitos, alguns, pouco, muito, grande, pequeno);

3) – qualidade; (mortal, imortal, finito, infinito, bom, mau, etc);

4) – relação (o dobro, a metade, maior que);

5) – lugar (em casa, na rua, no alto);

6) – tempo (ontem, hoje, agora);

7) – posição ( sentado, deitado, de pé);

8) – posse (ter) ( por exemplo, armado, etc.);

9) – ação ( corta, fere, derrama)

(10) paixão ou passividade ( está cortado, está ferido).[30]

 

b) – O Ser enquanto ato e potência. Essa solução resolve a questão que lançamos acima, ou seja, como algo se movimenta, mas permanece ele mesmo. Neste caso temos na semente aquilo que ela vai se tornar, chamamos a isso de potência. Em um ovo temos em potência o frango. Já o ato é a ação que faz com que a árvore nunca deixe de ser árvore pelo meio do caminho e continue atualizando aquela mensagem que havia lá na semente. Para dizer isso de outro modo, podemos tomar uma escultura de areia ou em gelo. Como nessa escultura (de uma árvore) não há uma formula a ser atualizada, ou seja, aquela coisa não é fruto natural de uma semente, ela se desmancha logo, logo. Aristóteles, então, notou que há nas coisas uma constante atualização de uma forma já pré-existente e que já nas coisas existentes nesse momento encontra-se aquilo que ela vai ser.

c) – O Ser como acidente. É uma particularidade do ser, sem a qual ele não deixa de existir. O exemplo muito usado é dizer que é próprio do ser humano ser racional e mortal. Se retirarmos essas duas dimensões de seu ser ele deixa de existir enquanto tal. Por exemplo, se tirarmos a razão ele deixa de ser homem, e continua a ser apenas animal, como os demais. Deixando os elementos constitutivos de seu ser, podemos somar diferenças, como alto, baixo, africano, americano, que em nada altera a sua essência de ser humano. Essas diferenças são chamadas de acidentes. A personalidade nesse sentido é um acidente, pois ela seria individual e não se repetira em outros indivíduos.

d) – O ser como verdadeiro. É aquele que é produzido pela mente humana e apenas por ela. Nesse caso esse tipo de ser é o que a Lógica estuda, pois ele está preocupado com o que é. Desconsiderando o não-ser, pois esse seria o falso. A funcionalidade desse tipo de ser é verificar as conexões lógicas que a razão procura fazer. Certificar se A é B ou se A não é B, isto, essa função cumpre juntar ou separar as coisas enquanto operações puramente mentais.

 

2.5. Ciências da Substância (ousiologia)

A substância que foi apresentada acima, na Ciência do Ser ou Ontologia, é a categoria principal do Ser. Ela dá origem às demais categorias, pois todas as demais precisam primeiro existir, portanto Ser.

Posto a existência do Ser logo surge outra pergunta: que é então a substância? Para Aristóteles existem três formas de falar dela. Uma é que é a matéria, o que é impróprio segundo seu pensamento. Resta então a substância enquanto forma e como união de forma e matéria, o que ele chama de sinolo. (sinolo= junção de matéria e forma).

A matéria não pode ser considera substância em termos mais radicais pelo fato de que ela em si não se determina. Por outro lado a forma como principio que atualiza aquilo que é; aquilo que atua como principio constitutivo intrínseco da própria coisa; a isto é considerada como substancia. Subsiste (existe dentro) às coisas. A temática, como já avisamos, é densa. E se mostra, por exemplo, mais uma vez, aqui. A matéria pura e simples não seria considerada “ousia”, substância, mas no momento em que ela se compõe com a forma, formando o sinolo, aí ela será considerada substância.

A definição acima já nos coloca quais substâncias existem. Ao falarmos de substância primeira para nos referir aos indivíduos poderíamos dizer que essas são sensíveis corruptíveis e se inscrevem no naquilo que Aristóteles chama de mundo sublunar. As substâncias sensíveis incorruptíveis são constituídas de éter, quintessência e seria os astros, o céu; que apensar de mudanças eles não mudam de volume, não se alteram. Por fim, têm-se as essências supra-sensíveis e incorrutíveis: Inteligência divinas. Donde tudo o mais tem origem, finalizando, desse modo, o edifico da metafísica de Aristóteles que também pode ser chamada de teologia, já que nesse final o tema central é Deus, como criador de tudo.

 

2.6. Ciência de Deus (Teologia)

Deus é o primeiro motor imóvel. Ato puro, pois Deus não poderia ser potência, assim seria movido por outro. Ademais, existe uma seqüência de outras inteligências que movem os outros céus. Contudo, todas essas Inteligências não seriam criadas, sempre existiram, apesar de estarem de modo inferior ao primeiro Motor Imóvel.

 

 

Observações finais.

Convidar as pessoas a fazer uma viagem pela história do Pensamento Ocidental é um ótimo desafio. Aliás, ao estabelecer a listas de Pensadores e os temas a que iríamos discorrer, o mais difícil foi abrir mão de várias temáticas. Temos o hábito de pensar que tudo é relevante e insubstituível e que a falta deste ou daquele tópico vai transmitir uma visão errada dos fundamentos da filosofia. Em partes sabemos de onde deriva essas preocupações. Ao retomarmos aquelas observações iniciais de que a filosofia é crítica e radical, notamos que é exatamente isso que está em questão.

E será com a preocupação do conhecimento que iremos orientar nosso próximo encontro. Faremos um salto na história, consciente de tudo que vamos deixar para trás, e tomaremos René Descartes, Hume e Kant. O que vamos tratar? O problema do conhecimento e o fim da metafísica.

Espero que o esforço de compreensão da metafísica não os desanime para assistirem o fim dela.

2. Aristóteles

2.1. A Filosofia Primeira.

Cabe antes de qualquer coisa fazer um esclarecimento sobre a palavra metafísica e de como ela surgiu, pois o próprio Aristóteles empregava a idéia de Filosofia Primeira. Segundo uma história bem ilustrativa, diz-se que Andrônico de Rodes ao organizar as obras de Aristóteles em sua biblioteca começou pelas obras ligadas ciências práticas e produtivas. E ao final sobrou um conjunto de livros idênticos na temática e que ele não sabia onde colocar. Logo propôs que o fizesse depois-da-física ou, em grego, meta-física, além da física.

Essa história tem apenas efeitos ilustrativos. O fato é que Aristóteles fez uma divisão e uma sistematização do conhecimento bem distinta da que seu mestre havia feito. Grosso modo, aliás, se de um lado temos a dialética em Platão, teremos, por outro, como contraponto, a analítica que é a Lógica que conhecemos hoje. A palavra dialética “é um diálogo, um discurso compartilhado por dois interlocutores, ou uma conversa em que cada um possui opiniões opostas sobre alguma coisa e devem discutir ou argumentar de modo a superar essas opiniões contrárias e chegar à unidade de uma idéia […][31]. O que para Aristóteles não satisfazia a necessidade de rigor que se deveria tratar os conhecimentos.

Postergando um pouco mais em apresentar a divisão das Ciências segundo Aristóteles, vale dizer que sua Lógica ou analítica se constitui na medida em que sua concepção acera da realidade não se dividia em duas. “Diferente de seus dois predecessores[32], Aristóteles não julga o mundo das coisas sensíveis, ou a natureza, um mundo aparente e ilusório. Pelo contrário, é um mundo real e verdadeiro cuja essência é, justamente, a multiplicidade de seres e a mudança incessante.”[33]

O desafio do filósofo é pensar um modo de explicar a realidade e desse modo conhecê-la. Para tal ele procura pensar o movimento e o não-movimento. Como explicar, por exemplo, que uma coisa é, mas ao mesmo tempo muda? Nesse sentido, como podemos afirmar o SER e ao mesmo tempo admitir que ele mude de forma? Acaso, ao mover-se não deixaria de ser o que era antes, e passa a ser outra coisa?

Aristóteles certamente providenciou resposta para isso. Vamos agora começar a ver a divisão que ele fez em seu pensamento e assim chegarmos às respostas.

Segundo o historiador REALE pode se dividir as ciências aristotélicas em três ramos: “1) as ciências teoréticas, que procuram o saber pelo saber e que consistem na metafísica, na física (em que é incorporada também a psicologia) e na matemática; 2) as ciências práticas, que usam o saber com a finalidade da perfeição moral: a ética e a política; 3) as ciências poiéticas, isto é, que tendem à produção de determinadas coias”[34].

Por certo teremos que também nessa parte fazer opções de análise dado a amplitude temática que cada uma das ciências acima nos propõe. Como o nosso tema é a Metafísica vamos falar apenas dela.

Finalmente podemos lançar a pergunta: o que é a Metafísica Aristotélica? E teremos a certeza de não conseguir dizê-la toda, pois como é próprio do discurso filosófico: dizemos o que dizemos e avisamos o que falta para ser dito, para que desse modo não sejamos acusados de omitir temas relevantes. O que se aplica à vastidão do tema

 

2.2. Metafísica em Aristóteles.

A resposta então pode ser dada de modo curto e que irei recorrer ao historiador REALE que assim nos diz: “As definições dadas pelo filósofo [sobre o que é Metafísica ou Filosofia Primeira] são pelo menos quatro: a) a metafísica indaga as causas e os princípios primeiros ou supremos, b) a metafísica indaga o ser enquanto ser, c) a metafísica indaga a substância, d) a metafísica indaga Deus e a substância supra-sensível.”[35]

Essas definições de Aristóteles não só o coloca em relação com seus antecessores, mas apresenta-se em seqüência harmoniosa com seu próprio sistema. “Uma conduz estruturalmente à outra e cada uma a todas as outras, em perfeita unidade. […] quem busca a causas e o princípio primeiros necessariamente deve encontrar Deus, porque Deus é a causa e o princípio primeiro por excelência. Mas também partindo das outras definições chega-se a idênticas conclusões: perguntar-se o que é o ser significa perguntar-se se existe apenas um ser sensível ou também um ser supra-sensível e divino (ser teológico). Da mesma forma a questão “o que é a substância” implica também a questão “que tipos de substâncias existem”, se só as sensíveis ou também as supra-sensíveis e divinas.

 

2.3. O estudo da causas primeiras e dos princípios primeiros ou supremos (Etiologia)

 

Como muito bem nos adverte o título temos que começar pelo o que é mais supremo, ou seja, os primeiros ou supremos princípios. Oriundo da Lógica eles são: a “identidade, não-contradição e terceiro excluído. Os princípios lógicos são ontológicos porque definem as condições sem as quais um Ser não pode existir nem pensado; os primeiros princípios garantem, simultaneamente, a realidade e a racionalidade das coisas.”[36]

A segunda etapa, mas que ainda se encontra entre o princípios, pois seria as causas primeiras temos a causa formal (eidos = ειδος) e segunda a causa material.  Com essas duas primeiras causas Aristóteles explicaria, então, a realidade que é composta de matéria e forma. Contudo ainda resta dizer como o movimento se dá nesse processo. Aí temos a causa eficiente ou motora responsável pelas mudanças das coisas. Um exemplo comumente dado é que “os país são a causa eficiente dos filhos, ou que a vontade é a causa eficiente das várias ações do homem […].[37] Para fechar o processo das causas temos a causa final e que versa sobre a finalidade das coisas. Uma cadeira é para servir como lugar de assento.

 

2.4. Ciência do Ser (Ontologia)

A questão do Ser em Aristóteles merece uma abordagem em particular, pois dado a sua complexidade pode nos escapar aqui sua conceituação máxima. Mas o Ser enquanto Ser quer dizer que engloba tudo o que existe, seja inteligível ou sensível.  E aí Aristóteles caminha para resolver aquela idéia de como explicar a mudanças nas coisas e ao mesmo tempo a sua permanência. “Portanto o Ser é substância, alteração da substância ou atividade da substância ou, de qualquer modo, algo-que-reporta-à-substância.”[38]

 

2.4.1. Sobre o Ser ainda podemos dividi-lo em três etapas.

a) – Categorias ou Ser em si. Vamos ver esses mesmos princípios na lógica que são as categorias dentro das quais qualquer “coisa” terá que aparecer necessariamente. Elas são:

1) – Substância ou essência (é a principal; é o próprio sujeito);

2) – quantidade; (um, muitos, alguns, pouco, muito, grande, pequeno);

3) – qualidade; (mortal, imortal, finito, infinito, bom, mau, etc);

4) – relação (o dobro, a metade, maior que);

5) – lugar (em casa, na rua, no alto);

6) – tempo (ontem, hoje, agora);

7) – posição ( sentado, deitado, de pé);

8) – posse (ter) ( por exemplo, armado, etc.);

9) – ação ( corta, fere, derrama)

(10) paixão ou passividade ( está cortado, está ferido).[39]

 

b) – O Ser enquanto ato e potência. Essa solução resolve a questão que lançamos acima, ou seja, como algo se movimenta, mas permanece ele mesmo. Neste caso temos na semente aquilo que ela vai se tornar, chamamos a isso de potência. Em um ovo temos em potência o frango. Já o ato é a ação que faz com que a árvore nunca deixe de ser árvore pelo meio do caminho e continue atualizando aquela mensagem que havia lá na semente. Para dizer isso de outro modo, podemos tomar uma escultura de areia ou em gelo. Como nessa escultura (de uma árvore) não há uma formula a ser atualizada, ou seja, aquela coisa não é fruto natural de uma semente, ela se desmancha logo, logo. Aristóteles, então, notou que há nas coisas uma constante atualização de uma forma já pré-existente e que já nas coisas existentes nesse momento encontra-se aquilo que ela vai ser.

c) – O Ser como acidente. É uma particularidade do ser, sem a qual ele não deixa de existir. O exemplo muito usado é dizer que é próprio do ser humano ser racional e mortal. Se retirarmos essas duas dimensões de seu ser ele deixa de existir enquanto tal. Por exemplo, se tirarmos a razão ele deixa de ser homem, e continua a ser apenas animal, como os demais. Deixando os elementos constitutivos de seu ser, podemos somar diferenças, como alto, baixo, africano, americano, que em nada altera a sua essência de ser humano. Essas diferenças são chamadas de acidentes. A personalidade nesse sentido é um acidente, pois ela seria individual e não se repetira em outros indivíduos.

d) – O ser como verdadeiro. É aquele que é produzido pela mente humana e apenas por ela. Nesse caso esse tipo de ser é o que a Lógica estuda, pois ele está preocupado com o que é. Desconsiderando o não-ser, pois esse seria o falso. A funcionalidade desse tipo de ser é verificar as conexões lógicas que a razão procura fazer. Certificar se A é B ou se A não é B, isto, essa função cumpre juntar ou separar as coisas enquanto operações puramente mentais.

 

2.5. Ciências da Substância (ousiologia)

A substância que foi apresentada acima, na Ciência do Ser ou Ontologia, é a categoria principal do Ser. Ela dá origem às demais categorias, pois todas as demais precisam primeiro existir, portanto Ser.

Posto a existência do Ser logo surge outra pergunta: que é então a substância? Para Aristóteles existem três formas de falar dela. Uma é que é a matéria, o que é impróprio segundo seu pensamento. Resta então a substância enquanto forma e como união de forma e matéria, o que ele chama de sinolo. (sinolo= junção de matéria e forma).

A matéria não pode ser considera substância em termos mais radicais pelo fato de que ela em si não se determina. Por outro lado a forma como principio que atualiza aquilo que é; aquilo que atua como principio constitutivo intrínseco da própria coisa; a isto é considerada como substancia. Subsiste (existe dentro) às coisas. A temática, como já avisamos, é densa. E se mostra, por exemplo, mais uma vez, aqui. A matéria pura e simples não seria considerada “ousia”, substância, mas no momento em que ela se compõe com a forma, formando o sinolo, aí ela será considerada substância.

A definição acima já nos coloca quais substâncias existem. Ao falarmos de substância primeira para nos referir aos indivíduos poderíamos dizer que essas são sensíveis corruptíveis e se inscrevem no naquilo que Aristóteles chama de mundo sublunar. As substâncias sensíveis incorruptíveis são constituídas de éter, quintessência e seria os astros, o céu; que apensar de mudanças eles não mudam de volume, não se alteram. Por fim, têm-se as essências supra-sensíveis e incorrutíveis: Inteligência divinas. Donde tudo o mais tem origem, finalizando, desse modo, o edifico da metafísica de Aristóteles que também pode ser chamada de teologia, já que nesse final o tema central é Deus, como criador de tudo.

 

2.6. Ciência de Deus (Teologia)

Deus é o primeiro motor imóvel. Ato puro, pois Deus não poderia ser potência, assim seria movido por outro. Ademais, existe uma seqüência de outras inteligências que movem os outros céus. Contudo, todas essas Inteligências não seriam criadas, sempre existiram, apesar de estarem de modo inferior ao primeiro Motor Imóvel.

 

 

Observações finais.

Convidar as pessoas a fazer uma viagem pela história do Pensamento Ocidental é um ótimo desafio. Aliás, ao estabelecer a listas de Pensadores e os temas a que iríamos discorrer, o mais difícil foi abrir mão de várias temáticas. Temos o hábito de pensar que tudo é relevante e insubstituível e que a falta deste ou daquele tópico vai transmitir uma visão errada dos fundamentos da filosofia. Em partes sabemos de onde deriva essas preocupações. Ao retomarmos aquelas observações iniciais de que a filosofia é crítica e radical, notamos que é exatamente isso que está em questão.

E será com a preocupação do conhecimento que iremos orientar nosso próximo encontro. Faremos um salto na história, consciente de tudo que vamos deixar para trás, e tomaremos René Descartes, Hume e Kant. O que vamos tratar? O problema do conhecimento e o fim da metafísica.

Espero que o esforço de compreensão da metafísica não os desanime para assistirem o fim dela.

Mapa Conceitual

 



[1] Mestre em Filosofia pela Faculdade de São Bento. Graduado em Filosofia pela PUC MG.

[2] Cf. CHAUI, M. Convite à Filosofia. 13ª ed. São Paulo: Ática. 2005. 422 p.

[3] REALE, Giovanni. História da Filosofia Antiga. São Paulo: Loyola, 1994. (Série História da Filosofia) 49 p.

[4] CHAUI. 2005. 182 p.

[5] Na Índia, ao contrário,(do ocidente que destituiu o mito) a mitologia nunca deixou de apoiar e facilitar a expressão do pensamento filosófico. A rica pictografia da tradição épica, as características das divindades cujas encarnações e proezas constituem o mito, e ainda os símbolos religiosos, populares e esotéricos, serviram reiteradamente aos fins do ensino didático, convertendo-se em receptáculos com os quais os mestres comunicavam suas renovadoras experiências da verdade. Efetuou-se, assim, uma cooperação do mais recente com o mais antigo, do mais baixo com o mais elevado, uma maravilhosa amizade entre a mitologia e a filosofia; e isto formou um tal alicerce que toda a estrutura da civilização indiana tornou-se plena de significação espiritual. A estreita interdependência e a perfeita harmonização de ambas servem para refrear a tendência natural da filosofia indiana para o esotérico e o recôndito, apartada da vida e da tarefa de educar a sociedade. No universo hindu, o folclore e a mitologia levam às massas as verdades e os ensinamentos filosóficos. Nesta forma simbólica, as idéias não têm de ser rebaixadas para se tornarem populares. A vívida e adequada pictografia conserva as doutrinas sem alterar seu sentido.” (ZIMMER, Heirich. Filosofias da Índia. Compilado por Joseph Campbell; trad. Nilton Almeida Silva et. al. São Paulo: Palas Athena, 1986. p.33)

[6] Para G. Reale, citando Eustáquio, a “Segunda Navegação” é uma expressão tirada da linguagem dos marinheiros, e a sua significação parece ser fornecida por Eustáquio que, referindo-se a Pausânias, explica: “Chama-se ‘segunda navegação’ aquela que se leva adiante com remos quando se fica sem ventos”. (REALE. 1994. p. 52)

[7] REALE & ANTISERI. 2003. p. 138

[8] REALE. 1994. p. 51. v. 2.

[9] REALE. 1994. p. 53. v. 2.

[10] REALE & ANTISERI. 2003. p. 139

[11] Segundo REALE & ANTISERI esse mito pode ser tomado em três perspectivas. “1) Nível Ontológico, segundo o qual aquilo que está dentro da caverna seria o mundo material e aquilo que está fora o mundo supra-sensível; 2) Nível Gnosiológico, segundo o qual o interior da caverna representaria o conhecimento sensível (opinião) e o exterior da caverna o conhecimento das Idéias; 3) Nível político, porque implica um retorno à caverna de quem tinha conquistado sua liberdade, por solidariedade com os companheiros ainda prisioneiros, e com a finalidade de difundir a verdade”. REALE & ANTISERI. 2003. p. 163

[12] REALE & ANTISERI. 2003. p. 140

[13] Existe uma metáfora, não usual na Academia de Filosofia, que penso ser útil para pensarmos melhor essa novidade que é o Hiperurânio. Trata-se do seguinte: Imaginemos um jarro. Dentro dele várias esferas, bolas de gude. Aparentemente o jarro está cheio. Contudo se adicionarmos areia, certamente ele ainda irá comportar certa quantidade. O que nos chama a atenção, pois pensávamos que ele estava cheio. Para nossa surpresa ainda podemos adicionar no jarro, aparentemente cheio, outra quantidade de água.  Enfim, conseguimos arrumar espaço para três tipos de objetos/matéria. E inicialmente poderíamos ser levados a pensar que o jarro já estava cheio apenas com as bolas de gude. Dessa metáfora é convidamos a pensar o ‘lugar’ do Hiperurânio. Ele está além do real, pois é de outra natureza.

[14] Segundo CHAUÍ: “Episteme – Ciência; conhecimento teórico das coisas por meio de raciocínios, provas e demonstrações; conhecimento teórico por meio de conceitos necessários ( isto é, daquilo que é impossível que seja diferente do que é; o que não pode ser de outra maneira ser diferente do que é) e universais (isto é, válidos para todos em todos os tempos e lugares)”. CHAUÍ. 1994. p. 348

[15] Cf. REALE. 1993. p. 58, v.2

[16] O pensador Nietzsche, objeto de nosso trabalho de mestrado, certamente afirma essa perspectiva com a idéia de “apolíneo”. A inovação de Netzsche foi compreender que, também, nessa cultura havia outro elemento tão importante que era o “dionisíaco”.  Nietzsche pensava que todo o edifício do mundo grego, montado sobre o apego excessivo da medida, só se justificava quando se descobria um substrato que era a pulsão dionisíaca. Cf. NIETZSCHE, F. O nascimento da tragédia. São Paulo: Companhia da Letras. 1992

[17] REALE. 1993. p. 62, v.2

[18] REALE. 1993. p. 87. v.2

[19] REALE & ANTISERI. 2003. p. 143. v. 1

[20] Pronuncia-se Kora.

[21] REALE. 1993. p. 135. v. 2.

[22] CHAUI. 2005. p. 106

[23] Segundo CHAUI seria Parmênides e Platão. 

[24] CHAUI. 2005. p. 188

[25] REALE & ANTISERI. 2003. p. 193. v. 1

[26] REALE. 1993. p. 336. v. 2

[27] CHAUI.2005. p. 190.

[28] REALE. 1993. p. 341. v. 2

[29] REALE & ANTISERI. 2005. p. 197. v. 1

[30] Notamos algumas diferenças nessa ordem e em até mesmo em palavras nas Categorias apresentadas por CHAUI E REALE. Em outro momento certamente nos dedicaremos a pensar os motivos dessas diferenças.

[31] CHAUI. 2005. p. 106

[32] Segundo CHAUI seria Parmênides e Platão. 

[33] CHAUI. 2005. p. 188

[34] REALE & ANTISERI. 2003. p. 193. v. 1

[35] REALE. 1993. p. 336. v. 2

[36] CHAUI.2005. p. 190.

[37] REALE. 1993. p. 341. v. 2

[38] REALE & ANTISERI. 2005. p. 197. v. 1

[39] Notamos algumas diferenças nessa ordem e em até mesmo em palavras nas Categorias apresentadas por CHAUI E REALE. Em outro momento certamente nos dedicaremos a pensar os motivos dessas diferenças.

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

error: Conteúdo autoral!