O texto apresenta excertos do curso de Maurice Merleau-Ponty no Collège de France, intitulado “A Natureza”, ministrado entre 1957 e 1960. A obra, que aprofunda teses anteriores do filósofo, como as de Estrutura do Comportamento e Fenomenologia da Percepção, busca fundamentar uma filosofia da história anti-idealista através da filosofia da Natureza. O curso explora a complexa relação entre o corpo, a liberdade e a história, argumentando que a liberdade se expressa através de uma situação corpórea, e discute extensivamente o conceito de Natureza em diversas tradições filosóficas, como a aristotélica, estoica, cartesiana e kantiana. Além disso, a análise examina as implicações filosóficas da ciência moderna, especialmente a física (conceitos de causalidade e tempo em Laplace, Einstein e a mecânica quântica) e a biologia contemporânea (noções de comportamento, instinto, Umwelt de Uexküll e a ontogênese em Driesch), contrastando o mecanicismo e o vitalismo com uma visão da Natureza como estrutura, totalidade e interser. O tema central perpassa a tentativa de definir um ser que não é pura coisa nem espírito puro, mas uma dupla natureza ou simbolismo, crucial para entender o organismo, a percepção e a intercorporeidade.

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As Sete Artes Liberais, um currículo educacional com raízes na Antiguidade Clássica e formalizado na Idade Média, representam um legado intelectual de inestimável valor. Tradicionalmente divididas em Trivium (gramática, lógica e retórica) e Quadrivium (aritmética, geometria, música e astronomia), essas disciplinas visavam a formação do scholar [monges, raramente leigos aristocratas] capaz de participar ativamente da “vida pública” [para época, no âmbito eclesiástico, nas escolas e universidades da época, administração régia e episcopal] e de desenvolver plenamente suas capacidades intelectuais.

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O presente roteiro tem como objetivo aproximar o leitor do Rito Escocês Antigo e Aceito (REAA), em particular do tema das cinco viagens do Companheiro maçom, à obra de Carl Gustav Jung, O homem e seus símbolos. De modo preliminar, pretende-se destacar as possíveis comparações entre os elementos simbólicos presentes nas cinco viagens e as reflexões de Jung sobre a manifestação do inconsciente por meio dos símbolos. Essa aproximação busca oferecer ao leitor uma ponte interpretativa entre a tradição ritualística maçônica e a análise psicológica dos símbolos, proporcionando uma leitura enriquecida e ampliada dos significados contidos no REAA à luz da perspectiva junguiana. Essa aproximação não é no sentido de que há um caminho lógico entre as partes, mas que pela similaridade, pode-se ampliar a leitura de um texto simbólico com comparações como essa que aqui vamos fazer.

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Resenha do livro “Do Silêncio” de David Le Breton, traduzida para o português por Luís M. Couceiro Feio e publicada pelo Instituto Piaget em 1997. O livro explora as múltiplas dimensões do silêncio, contrastando-o com a fala e o ruído em diversos contextos. O autor examina o silêncio como um fenômeno cultural e social, discutindo seus hábitos em diferentes grupos e seu papel na comunicação interpessoal, onde pode indicar cumplicidade, mal-estar ou até ser uma forma de defesa. Além disso, a obra aborda a relação do silêncio com o sagrado e a espiritualidade, detalhando disciplinas monásticas e experiências místicas, e considera o silêncio no contexto do segredo, da morte e do luto, revelando-o como um tema de profunda complexidade humana.

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Temos por objetivo um comentário em modo de resenha à solta sobre um documento religioso institucional e implicações com a maçonaria. Nosso método é o bibliográfico documental. Nossa hipótese é que o documento do Vaticano II toca em aspectos exteriores, ainda que mais adequado ao aproximar de temas da ética para apreciar a Maçonaria, porém sua apreciação não trata da sua pretensão de dona de uma dada realidade muito menos do tema sobre uma filosofia da natureza como ponto de divergência. O que propriamente, então, precisa ser avançado nesse debate para que ele saia dos preconceitos e avance aos temas cernes dessa peleja histórica? Não esperamos resultados propriamente, mas uma modesta anotação preliminar sobre a questão, a modo de anotações para outros trabalhos elaborados.

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Quando a esmola é demais o Santo desconfia!
Essa brevíssima anotação, que é uma primeira recolha de fontes, tem como objetivo problematizar a presença de organizações não governamentais na formulação de políticas públicas educacionais e, em consequência, na própria configuração da escola pública. Parte-se da hipótese de que, ao recorrer apenas aos sites institucionais dessas entidades, não é possível identificar os reais interesses de quem efetivamente financia e sustenta tais projetos, já que a narrativa apresentada é sempre marcada por um discurso de neutralidade e benevolência.

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A obra Filosofia e Poesia de Maria Zambrano explora a intrincada e muitas vezes conflitante relação entre a filosofia e a poesia, remontando às suas origens na Grécia Antiga com Platão, que via a poesia como uma ameaça à verdade e à justiça. A autora contrasta a busca filosófica pela unidade, razão e ascetismo com a natureza da poesia, que se apega à multiplicidade, à emoção e ao mistério. Argumenta-se que, enquanto a filosofia busca transcender a carne e o mundo sensível em direção a um ser imutável e absoluto, a poesia abraça a experiência humana em sua totalidade, incluindo suas contradições e sua efemeridade. A discussão se estende à evolução histórica dessa relação, passando pelo cristianismo, pelo Romantismo e chegando a pensadores modernos, questionando a possibilidade de reconciliação duradoura entre essas duas formas essenciais de compreensão e expressão humanas.

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O texto examina profundamente a fenomenologia do desejo e da experiência do Uno em Plotino, um conceito central no neoplatonismo. Explora a natureza da alma e do Uno (frequentemente referido como “Deus” ou “o Bem”) e como a alma o deseja como seu objetivo final. A discussão abrange a processão (como tudo emana do Uno) e a conversão (o retorno a ele), destacando a transcendência inefável do Uno que, embora seja a origem de tudo, está além de qualquer determinação ou pensamento. O texto detalha a jornada da alma através de diferentes níveis de realidade (natureza, alma, inteligência) em busca da unificação extática com o Uno, que é uma experiência interior e direta que transcende a dualidade sujeito-objeto. Finalmente, aborda a metamorfose da consciência e a redescoberta da verdadeira natureza da alma através da remoção de obstáculos e do retorno à sua origem.

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“O Filósofo Autodidata” (Risālat Ḥayy ibn Yaqẓān), obra seminal do polímata andaluz Ibn Tufayl (c. 1105-1185), representa um marco na literatura filosófica islâmica medieval. Este romance filosófico alegórico narra a história de Hayy, um indivíduo que, isolado em uma ilha deserta e sem contato humano, alcança o conhecimento da verdade e a união com o Divino através da observação empírica do mundo natural e da reflexão racional. A obra não é apenas uma narrativa envolvente, mas um profundo tratado sobre epistemologia, metafísica e a relação entre razão e revelação, que ecoou significativamente nos debates filosóficos de sua época e influenciou pensadores posteriores, tanto no mundo islâmico quanto no Ocidente. Esta resenha crítica explorará o conteúdo central da obra, seu contexto histórico-filosófico e sua relevância duradoura na tradição do pensamento humano.

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