Brasil: o país da eugenia racista

Brasil: o país da eugenia racista

Brasil: o país da eugenia racista

Prof. Me. Cídio Lopes de Almeida

LOPES DE ALMEIDA, C. Brasil: o país da eugenia racista. São Paulo: AMF3. 2021. Acessível em:https://amf3.com.br/brasil-o-pais-da-eugenia-racista/

Houve no Brasil um processo de eugenia, que é bem documentado. Tratou-se de importar de modo ativo brancos para substituir os pretos aqui existentes. O nome desse processo chama-se eugênia. A eliminação do preto se deu por asfixia material e depois por construção de um aparato cultural que o identifica ao abjeto. Em todas as dimensões esse traço valorativo tingiu e estruturou o gosto. Tudo que é do preto e daquele que se aproxima do preto é abjeto. O que hoje conhecemos como sendo a “necropolítica”.  

Os brancos que cá foram introduzidos foram preferencialmente buscados na Itália. Contaram com financiamento de Estado para fazer essa difícil mudança. Aqui, contaram com doação de terras para se fixarem. 

De um ponto da individualidade, o branco também lutou na terra. A vida rural não em si um “delivery”. Levanta-se antes do sol e o dia terminava quando a luz solar também ia. Essa dureza da vida e o horizonte imediato do drama do negro escravizado produziu como reação o racismo à brasileira. Uma coisa não justifica outra, com frequência no pavor de resolver nossos problemas, produzimos outros. 

Na leitura que Jessé de Souza tem feito, expressa nos seus mais recentes livros, aí está a origem do racismo entre nós brasileiros. O racismo no modo como ele opera hoje no Brasil tem origem direta nesse fenômeno. Eventualmente somado ao racismo que vinha anterior a ele. Pois também para cá vieram vários portugueses e na imersão das dinâmicas da terra, o trabalho escravizado se fez presente em larga escala. Possuir escravo nao era como ter um “telemovel”. Custava caro, por isso, havia muitos portugueses que acabaram postos na mesma dinâmica dos italianos. Eram brancos, não tão loiros assim, e não possuíam vastas posses. O assombro do “virar” escravo por falta de terras também amplificou esse pavor. E nele temos outra grande matriz do racismo à brasileira, mas presente em porções ao norte do Brasil.  

O racismo brasileiro se especializou em eliminar sem ser visto. Mata-se em São Paulo, sobretudo na Capital, gerações de jovens negros. Estudos diversos, mas do Prof. Dr. Jaime Alves em especial, nos apontam como tem se dado esse extermínio do preto. 

Vejam, caros leitores, não é modo de dizer. Não é metáfora, “estão me matando”. O matar o preto é um fenômeno estudado e objetivo. O Brasil como Estado tem sido genocida quando conseguimos verificar dados objetivos sobre o assunto. Em princípio, ele age dentro da lei para fazer isso. Aliás, o Brasil e os demais países nunca foram responsabilizados formalmente por esse crime contra a humanidade que foi a escravização de milhões de pessoas. 

Um branco sempre tentará aplainar o que dizemos. Claro, você não sente na pele o que é ser tratado como indesejado. Para esse é tranquilo, pois as revistas policiais nunca incidem nele. Ele não terá suas bolsas reviradas nos aeroportos, aliás, espera-se que ele nunca deva estar ali. 

Parece ser sempre dramática a denúncia que todos tem feito sobre o racismo entre nós brasileiros. Contudo, essa percepção já diz muito em que lado você está. Só quem não é tratado como não-gente consegue demandar essa não radicalidade. Porque não é ele que é posto no limbo existencial cotidianamente e historicamente. Não é a subjetividade dele que é desterrada, arrasada a cada momento. Ele não sabe, não tem como saber, lhe falta esse lugar. No máximo esse que pede paciência obteve informações nesse ou naquele curso, livro, jornal, mas sua condição não foi assaltada, exterminada, negada. É claro que esse e outros são bem-vindos a pensar e agir no desmonte dessas estruturas sociais que repõem o drama do racismo entre nós brasileiros.  

Urge falar disso. Tratar de ver bem nos detalhes como é o racismo e a eugenia no Brasil não é criar problemas. Pelo contrário, é preciso ver o problema para que possamos, brancos e pretos, superar essa necrose que irá nos privar de nós mesmos. A libertação começo nos detalhes da subjetividade. 

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