Prof. Me. Cídio Lopes de Almeida
Quero
começar minha modesta síntese do texto 3:
“A contribuição de José Bonino para a teologia da missão – Roberto Zwetsch,
citando o argumento o ponto central do texto. A saber, [ser cristão]“não consiste numa comunicação
conceptual, mas num evento criativo, num pronunciamento que se historiza e cria
história. Sua verdade não reside na correspondência com uma idéia, mas na sua
eficácia para levar a cabo a promessa de Deus ou cumprir o seu juízo” (Bonino.
In: Zwestche. p.12)
Será
dessa afirmação que poderemos retomar outro conceito do texto acerca da
teologia da missão de Boninho, o amor eficaz. Observado esses dois pontos fundamentais,
podemos, agora, discorrer e verificar se conseguiremos, nesse pequeno texto,
delinear a contribuição da teologia de Bonino para a teologia da missão.
O
caráter de imersão na história do homem latino-americano faz dessa teologia um
pensar distinto do noético e mais
próximo a pensamento da práxis. O que
motiva esse pensar teológico não é um formalismo, muito menos uma nota acerca
do movimento histórico. O ato de colocar o povo, o “rosto do outro”,
especialmente o povo empobrecido, como ponto de partida não faz de Bonino um
mero comentador e justificador do Poder Constituído. Colocar a práxis como
ponto de partida do exercício teorético,
ao contrário, impõe a dissonância entre a prática almejada do projeto de Deus e
o que os homens tem feito uns com os outros.
Desse
incomodo, dessa incompatibilidade da realidade é que surge no pensamento de
Bonino, ao lado de outros teólogos latinos americanos, a ideia de libertação.
Não dá para falar do Reino de Deus e conviver com a matança dos Maputi,(na Argentina)
ao coronelismo, a escravidão. Não se pode dizer que é crente e fazer vistas
grossas.
O
termo libertação nesse sentido é muito mais amplo do que convencionou pensar,
isto é, como libertação dos poderes políticos de direita. A guerrilha no
sentido lato não é só para libertar desse ou daquele governo. Parece-me que a
própria condição humana precisa se vê com o exercício de libertar-se. Ousaria
dizer que o projeto de “amor” e, depois, “o amor eficaz” são projetos de
libertar-se de amarras não só externas ao indivíduo humano, mas que a própria
condição de humano consiste em libertar-se de seu estado não-humano e
constituir-se humano.
A
radicalidade da libertação é aquela operada também na subjetividade. Certamente
no contexto latino americano dos anos 60-70 a libertação foi, e ainda é mais
visível na política. E nesse sentido, as Igrejas se foram obrigadas a tomar
para si dura tarefa de pensar a política, de se ver com a história. Não dá para
ser teólogo de gabinete, atarefado com a aplicação dogmática da fé. Esse modelo
serviu muito bem ao modelo político colonial, que visava ornar o mando cruel da
política metropolitana. Serviço que, aliás, a Igreja Romana resistiu muito em
perder seu terreno, pois gozava de lugar privilegiado nas Colônias Latino-americanas.
No
quadro do apelo da realidade frente à fé, objeto próprio da teologia da missão,
o prof. Zwetsch constata que “ a comunidade de fé protestante não participou
nem participa ativamente desse processo de libertação”. Porém, “a obra de Rubem
A. Alves se insere nesse contexto histórico e é apresentada como ‘a primeira
obra protestante que assume esta problemática em projeto científico estrito,
brindando uma abordagem íntegra e sintética’”(p.3)
Se
no momento de transição de Poder nas Colônias Latino-americanas, podemos
verificar ainda uma teologia de gabinete por parte da Igreja Romana, a teologia
da missão ou uma teologia brota de um quadro social bem distinto. O pensamento
Liberal que impulsionou o surgimento de um novo quadro político acabou por encontrar
parceria no protestantismo. Os agentes políticos “revolucionários” começaram a
não encontrar guarida na velha teologia da missão que servia como justificativa
do Poder Colonial. “O campo protestante, […], mesmo em sua diversidade, se
tornou aliado dos setores liberais, entre os quais a maçonaria[1],
como força modernizadora.
O
risco, entretanto, da imersão na história é perder de vista o que nos motiva.
Nesse sentido, a idéia de “amor eficaz” demonstra o esforço de Bonino em por a
missão do cristão nesse processo de engajamento histórico. Para ele: “A fé se
torna eficaz pelo amor. Esse amor, por sua vez, deve ser um amor
eficaz”.(Boninho.In: Zwetsch. p.8) O elemento do amor, por exemplo, será o
grande divisor de águas no engajamento por mudanças das estruturas sociais que
excluem. Sem desviar muito nosso curso, podemos fazer menção das barbáries que
as várias revoluções (de esquerda ou direita) fizeram na história recente da
humanidade.
Portanto,
o projeto de libertação que nos salta da contribuição de Bonino é no mínimo
desconcertante. Ela não é sanguinária, como tanto temiam e propalavam as
teologias conservadoras da Igreja de João Paulo II. Ela é calcada em um amor
eficaz, que ama, mas que luta para ensinar ao agressor outra via. Um projeto divino,
pois humanamente parece que somos propensos a ir à forra. Trucidar os nossos
torturadores, o que, rapidamente, se mostra vulgar, vil, e vazio. Pois desse
modo não acrescentamos nada; mantemos as mesmas Leis.
Enfim, no projeto de libertação, que
considera o outro, ou desafio enfrentado por Bonino é manter “a unidade
original, totalizadora e final da histórica humana e, ao mesmo tempo, a
densidade particular dos eventos[…] em torno do nome de Jesus Cristo”(Bonino.
In: Zwetsch. p. 20). Mas o desfecho é
verificar que Jesus veio para reafirmar o humano no humano e não negá-lo.
[1]
A esse propósito a obra seguinte aborda muito bem o assunto. O Protestantismo, A Maçonaria e a Questão
Religiosa no Brasil – David Gueiros Vieira. Brasília: UNB. 1980.
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