O fascismo é um tipo de pensamento e ação política. Para além do uso corriqueiro, hoje muito em voga nas “discussões”, facista é um tipo de pensar a vida, de pensar as relações sociais, de pensar em como se governa a vida privada e a vida pública. Portanto, não é algo vago ou modo de dizer, mas real.
Em linhas muito geral, podemos dizer que o fascismo se caracteriza por um simplismo no governo das coisas, das relações entre as pessoas. E por ser simplista, é comum teses sobre assuntos complexos serem dadas sem uma elaboração adequada e de modo parcial; sem considerar efeitos colaterais, preconceitos, “pre-juízos”, etc…
Sendo assim, estava em um farol de São Paulo. Ao ver um jovem negro fazendo malabarismo, seguido de pedido de dinheiro, tive ali uns relâmpagos de pensamentos facistas. Ao lançar a pergunta interna e só em minha consciência: porque ele não está trabalhando?
Creio que isso ocorre a muitos empregadores, especialmente empregadores de pessoas em funções técnicas destinadas à parte da população mais pobre desse país. A começar pelos trabalhadores domésticos, seguido das funções ligadas ao atendimento de público, etc…
O pensamento facista consiste em tomar como natural que um jovem negro não tem o direito de viver de arte; mas ele deve fazer algo útil. Não permitir que um jovem negro não faça da arte uma profissão e que ele tenha o mesmo direito que um branco que toca violino na OSESP é um racismo assentado em nosso pré-consciente racista. Considerar que o jovem pobre e negro só possa fazer “cursos técnicos” é um racismo vestido de bonzinho. Impedir como se fosse natural que um jovem negro não possa ser um intelectual, um pensador, um humanista e reduzi-lo a fazer “útil”, que gera emprego e renda, é reduzir de modo racista todo um contigente étnico do Brasil.
Assim, por pensamentos facistas, creio que tais ideias são o exemplo mais corriqueiro de como somos racistas nessa pais. Como naturalizamos as coisas mais absurdas. Como, movidos por uma boa vontade cristã, cometemos barbaridades. Que o jovem negro tenha o direito de viver de arte e que isso não seja esmola; como o branco que toca na OSESP ganha seu vultoso salário.