RESENHA
CHAUI, Marilena. Manifestações ideológicas do autoritarismo brasileiro. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora; São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2014. [Escritos de Marilena Chaui
Cídio Lopes de Almeida
[sem revisão por pares]
Resumo
A obra de Marilena Chaui, organizada por André Rocha, investiga as raízes históricas e as manifestações contemporâneas do autoritarismo no Brasil. Os ensaios reunidos, escritos entre as décadas de 1970 e 2000, analisam criticamente as ideologias que sustentaram regimes autoritários e que persistem na sociedade brasileira. A autora examina desde o mito do “homem cordial” até a crítica da ideologia da competência e do nacionalismo desenvolvimentista, buscando desvendar as formas sutis pelas quais o autoritarismo se infiltrou na democracia. Ao reunir esses textos, o volume incentiva a reflexão sobre a gênese do autoritarismo e inspira novas formas de combatê-lo.
Anotações sobre a obra Manifestações ideológicas do autoritarismo brasileiro.
O volume “Manifestações ideológicas do autoritarismo brasileiro”, organizado por André Rocha, reúne ensaios de Marilena Chaui que foram publicados em diferentes décadas, com o objetivo de investigar as origens do autoritarismo brasileiro e criticar suas manifestações atuais. A reunião desses textos permite refletir sobre a formação e o significado de uma obra de combate ao autoritarismo no Brasil.
Um dos ensaios centrais é “Apontamentos para uma crítica da Ação Integralista Brasileira“, que busca compreender como e por que o Integralismo se tornou uma proposta política relevante em um certo período da história do Brasil. O texto aborda a dificuldade de interpretar o Brasil nas décadas de 1920 e 1930.
A obra explora a peculiaridade do discurso integralista de operar com imagens em vez de conceitos, conferindo aos textos um tom bombástico. Essa operação com imagens tem efeitos cognitivos, psicológicos e políticos, unificando a experiência imediata, criando uma ilusão de conhecimento, apaziguando ou alarmando o destinatário e outorgando-lhe identidade. A forma autoritária de pensar é considerada congênita ao autoritarismo, abolindo a distância entre mundo e discurso através das imagens.
O livro também examina o destinatário do discurso e da ação política integralistas, apontando as “ofertas” e “promessas” da AIB em relação a ideias como propriedade, trabalho e liberdade, explicitamente confrontadas ao marxismo e ao comunismo. A classe média é vista pelos dirigentes integralistas como inteligência, moralidade e guardiã da pessoa. O discurso integralista é analisado como uma ideologia autoritária que, mesmo utilizando referências europeias, correspondia a aspirações de setores reacionários da classe média brasileira.
A obra dedica atenção significativa ao conceito de mito fundador do Brasil e sua relação com a sociedade autoritária. O mito é entendido não apenas como narrativa de feitos lendários, mas como solução imaginária para tensões e contradições não resolvidas na realidade. A reatualização do mito fundador é exemplificada pela publicação de “Porque me ufano de meu país” de Afonso Celso, que buscava oferecer ao país independente um passado glorioso. A construção do semióforo “Brasil” é relacionada ao semióforo “Oriente” como símbolo do Paraíso Terrestre.
Os autores criticam a tendência das ciências sociais de descrever o Brasil pelo que lhe falta, em vez de pelos seus elementos constitutivos, marcados fundamentalmente pelo autoritarismo. A formação da sociedade brasileira é ideologicamente substituída pela ideia de fundação.
O livro inclui uma entrevista com Marilena Chaui, onde ela discute suas motivações para analisar o Integralismo, influenciada pela fala de Miguel Reale durante a ditadura e por seus estudos no CEDEC. Ela também comenta a sua experiência como professora de crítica da ideologia para trabalhadores do ABC e a elaboração do livro “O que é ideologia”. Chaui explica o desenvolvimento da sua ideia de mito fundador, relacionando-o a estudos sobre cultura popular, milenarismo, populismo e a teologia política presente nos discursos brasileiros sobre o poder, com inspiração em Espinosa.
Em suma, a obra oferece uma análise multifacetada das manifestações ideológicas do autoritarismo no Brasil, desde o Integralismo até a construção do mito fundador da nação, buscando desvelar as raízes profundas do autoritarismo na sociedade brasileira.
Compartilhe isso:
- Clique para compartilhar no WhatsApp(abre em nova janela)
- Clique para compartilhar no Twitter(abre em nova janela)
- Clique para compartilhar no Facebook(abre em nova janela)
- Clique para compartilhar no Reddit(abre em nova janela)
- Clique para compartilhar no LinkedIn(abre em nova janela)
- Clique para compartilhar no Pinterest(abre em nova janela)
- Clique para compartilhar no Telegram(abre em nova janela)
- Clique para compartilhar no Pocket(abre em nova janela)
- Clique para compartilhar no Tumblr(abre em nova janela)
Relacionado
Descubra mais sobre AMF3
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.