Husserl e a fenomenologia

Husserl e a fenomenologia

Husserl
A expressão
‘fenomelogia’ significa, antes de mais nada, um conceito de método […]. O
termo expressa um lema que poderia ser assim formulado: voltemos às próprias
coisas! E isso em contraposição às construções desfeitas no ar e às descobertas
casuais, em contraposição à aceitação de conceitos só aparentemente
justificados e aos problemas aparentes que se impõem de uma geração à outra
como verdadeiros problemas”. (Heidegger. In: REALE. 2006. p. 176. v. 6)
                                                                                                                    
Segundo Husserl as tarefas da fenomenologia são: “distinguir
e separar psicologia e filosofia, afirmar a prioridade do sujeito do
conhecimento ou consciência reflexiva diante dos objetos e ampliar/renovar o
conceito de fenômeno.”[1]
1.1. A intuição eidética
Lidamos com os fatos aqui e agora, eles é que são reais. Contudo, para
Husserl, será desses fatos que algo pode ser intuído ou apresentado à nossa
consciência. Diferentemente do que refletimos em Bergson, é no particular que
se revela o ser da coisa. Nossa relação não é com a coisa propriamente dita,
mas com a essência dela, revelada à nossa consciência. Captamos na verdade é
sua essência, nossa consciência faz a leitura de reconhecimento é através da
essência.
1.2. Ontologias regionais e
ontologia formal.
Por ontologia regional devemos pensar o seguinte:
temos uma ontologia geral que é o Ser. Ser enquanto tudo que existe. Nesse
caso, o termo regional quer salientar que se preocupa com as essências que se
manifestam nas coisas, nos fatos. Os fatos revelam essências que os caracterizam
como esses fatos e não aqueles fatos. Desse modo trata-se de essências, mas
essas não são o próprio Ser, enquanto todo o real. Decorre daí essa afirmação
de ontologia regional, é que como se esses “seres” estivessem todos subsumidos
em um grande Ser.
Por ontologia formal devemos pensar que as essências
não são só oriundas da percepção. Husserl era matemático e procurava aplicar os
procedimentos rígidos e exatos das matemáticas e lógica no jeito de produzir
ciência. Desse modo ele é levado a considerar que há formas essenciais também
nas matemáticas. Essas formas não se realizam, ou seja, não são dotadas de
realidade como uma cadeira e só existem no âmbito da forma, daí serem chamadas
de ontologia formal.
Se podemos, então, falar em tipos de essências teremos
que reconhecer que elas são variadas e, segundo Husserl, é preciso ter um
“método da variação eidética”[2] para se
chegar a essa ou aquela essência.
1.3. A
intencionalidade da consciência
A consciência tem como característica sempre pensar
algo. Mesmo quando pensa a própria consciência. Deste modo dizemos que a
consciência é sempre de algo.  Para
Husserl “a intencionalidade é o que caracteriza a consciência de modo
significativo”.[3]
Sendo assim devemos prestar atenção na intenção da consciência, pois desse modo
teremos a chave para compreender como isso ou aquilo se forma como fenômeno. “O
que importa, […] é descrever o que efetivamente se dá à consciência, o que
nela se manifesta e nos limites em que se manifesta.”
A novidade de Husserl no que toca a idéia de essência
é que ele não a contrapõe a uma “coisa-em-si”, impossível de ser tocada. A
essência já o dentro da coisa, é a coisa e por isso essência. Deste modo,
tomando o fenômeno como a coisa, é que podemos falar dele como ciência. Mas o
fenômeno essencial ou eidético nunca
é a coisa ou é apenas uma coisa fenomênica. 
1.4.  Epoché ou redução fenomenológica.
Para poder pensar os fenômenos e
procurar descrevê-los é preciso se despir dos pré-conceitos. Caso contrário
iremos sempre adicionar idéias outras às próprias essências. Não se abrindo ao
radicalmente novo. Para que isso ocorra é preciso suspender nossos juízos,
colocá-los entre parênteses, e assim deixar que os fenômenos se revelem para
nós. Para Husserl isso é um atitude natural, como uma criança comumente se
coloca diante do mundo.
Esse recurso, segundo Husserl, só
não pode ser praticado com a própria consciência. “O mundo é constituído pela
consciência” e, desse modo, não é possível suspendê-la sem suspender a própria
realidade.
Heidegger
2.1. Da fenomenologia ao existencialismo
Se anteriormente Husserl propõe o
estudo das essências e descobre que a consciência é intencional e, para
produzir uma ciência sólida sem preconceitos, faz-se necessário uma suspensão,
epoché, dos juízos.  Descobrindo, ao
final, que não se pode suspender a própria consciência. Heidegger ao fazer a
pergunta radical pelo ser descobre que é preciso pensar o ser que faz essa
pergunta. Nesse sentido a obra Ser e tempo se propõe a isso.
Essa postura de busca pelo ser,
que leva Heidegger ao ente (individuo) que faz essa procura, o faz tomar um
outro caminho no seu pensamento. Não mais procura pelo ente que se põe a
pergunta acerca do ser, mas o próprio ser. E na sua filosofia de maturidade seu
pensamento caminha para a idéia de “A história do ser rege e determina rota
condição e situação humana”.[4]
Ôntico e Ontológico.
“Ôntico se refere à estrutura e à
essência própria de um ente, aquilo que ele é em si mesmo, sua identidade, sua
diferença em face de outros entes, suas relações com outros entes. Ontológico
se refere ao estudo filosófico dos entes, à investigação dos conceitos que nos
permitam conhecer e determinar pelo pensamento em que consistem as modalidades
ônticas, quais os métodos adequados para o estudo de cada uma delas, quais as
categorias que se aplicam a cada uma delas.”[5]
Tipos de entes:
1. coisas reais
2. coisas reais, mas criadas por
nós
3. ideais; aqueles que não são materiais,
mas idéias gerais, concebidas pelo pensamento (idealidades) (igualdade,
diferença, número, raiz quadrada)
4.
O ser-no-mundo

[1] CHAUI. 2005. p. 201
[2] REALE. 2006. p. 181. v.6
[3] HUSSERL. In: REALE. 2006. p. 182.
v. 6
[4] HEIDEGGER. In: REALE. 2006. p. 203.
v. 6
[5]
CHAUI. 2005. p. 204

1 comment

Está certo, desde há muito tempo, que a Filosofia não pousa como ciência, nem aqui e nem em lugar nenhum. E ainda bem. Mas poderia pousar como um brinquedo de "quebra cabeça". Veja, Heidegger, ainda que alfabetizado por Husserl, o aluno discorda do mestre. Com o passar dos anos cada sábio desse ramo parece se contradizer em suas afirmações. Tudo indica, pelo visto, que quem sair por último não fechará a porta.

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