Filosofia Medieval

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LOPES DE ALMEIDA, C. Filosofia Medieval. 2a. ed. São Paulo: AMF3. 2022. Acessível em: https://amf3.com.br/filosofia_medieval

 

Primeira Edição: 

LOPES DE ALMEIDA, C. Filosofia Medieval. São Paulo: AMF3. 2012. Acessível em: https://academiamaconicadefilosofia.blogspot.com/2012/02/v-behaviorurldefaultvmlo.html

 

 

 

 

Filosofia Medieval

 

Prof. Me. Cídio Lopes de Almeida,

Doutorando em Ciências das Religiões

 

O texto que o leitor terá em tela é parte de um projeto de estudos que procura verificar a existência de escolas filosóficas não acadêmicas. A proposta se insere dentro do projeto de pesquisa que procura confrontar aquilo que Nietzsche denominou de cultura trágica e cultura socrática. Compreende-se, portanto, que as escolas filosóficas, no estilo da Escola Pitagórica, da Academia de Platão, da Escola Estoica, da Escola Epicurista, entre outras, podem ser locais de cultura trágica e se opõe ao modelo de ensino escolar que se proliferou na Europa pós-revolução Francesa. Trata-se de anotações gerais com o intuito de demarcar as linhas gerais a serem investigadas com detalhes em outra fase do projeto.

 

 

 


 

 

1. Filosofia Medieval

 

Por Filosofia Medieval, deve-se considerar a Filosofia no período que vai do século VIII ao século XIV. Seus espaços foram, principalmente, os mosteiros e ordens religiosas europeias, onde a Igreja Católica tinha hegemonia cultural. Entretanto, houve manifestações filosóficas fora do mundo cristão, em especial nas culturas árabes e judaicas. A Filosofia desse período foi uma das responsáveis pela criação das universidades. O tema debatido em termos filosóficos e que perpassa todos os pensadores desse período é a relação entre fé e a razão, ou seja, a tentativa de separar o que pertenceria a Deus (a teologia) e o que pertenceria aos homens.

 

Não se pode esquecer-se de pensar que coexistia ao período histórico denominado Idade Média, cunhado pelo Italiano Francesco Petrarca (1304-74), vários outros mundos que manifestavam características históricas distintas das que passavam na Europa. Essa chamada de atenção, mesmo que não é nosso objetivo estudá-la nesse texto, se faz necessário para não reduzirmos nosso horizonte de análise. Existia toda uma Índia, uma China e uma Pérsia com suas culturas e modos de sabedorias. Vários conceitos filosóficos chegavam dessas terras e estabeleciam confrontos ideológicos com a filosofia grega e, posteriormente, com o cristianismo medieval.

 

Outro fator peculiar que precisamos verificar é sobre o Cristianismo. De modo sintético, os cristãos foram perseguidos, jogados aos leões como parte de espetáculos romanos, até chegarem ao poder quando Constantino, imperador Romano. Quando o mesmo aceita essa prática como religião de Estado, sem, nesse primeiro momento, excluir as demais práticas religiosas.

 

Com o passar dos tempos a religião Cristã irá se caracterizar em dois ramos. Uma Ocidental, ligada a Roma e outra Oriental ligada aos Patriarcados, situados no que hoje conhecemos como Síria, Turquia e Grécia. Os dois ramos desenvolveram-se com características próprias. Em linhas gerais, podemos dizer que os Orientais acentuaram o caráter místico em contraposição ao moralismo dos Ocidentais ou Romanos. De certo modo a linha de Roma absorveu e fez largo uso da estrutura de poder imperialista. Por outro lado, o cristianismo dito Ortodoxo ou Oriental, ainda que se tornasse religião de Estado na Armênia (301 d.C.) guardou modos mais de “sabedoria” ou místico em oposição às fórmulas morais do Cristianismo Romano, isto é, o “que pode” e “o que não pode”.

 

2. Os principais nomes e temas do Medievo.

 

O período medieval é precedido por um longo período histórico, sem o qual não compreendemos bem como a tal Idade Média era composta. Para fazer essa ponte, o pensador Filón de Alexandria (25 a.C.- 50 d.C.), um judeu, pode ser o primeiro a promover aproximações entre o pensamento grego e o judaico e que teve reverberações na tradição cristã, donde, mais adiante, o próprio cristianismo nascente pode ter “bebido”. Uma dessas primeiras aproximações pode ser verificada na relação que ele fez entre o livro Timeu de Platão com o Pentateuco judaico, concebendo que a concepção cosmológica do Timeu seria influência pelo livro da Gênese.

Desse confronto cultural o conceito de logos grego é interpretado como sendo Deus, tema que terá longa fortuna literária no Período Medieval até nossos dias. O próprio evangelho de João, escrito no final do séc. I na cidade Éfeso assume essa ideia quando afirma logo no início: “Em (o) princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto a Deus, e Deus era o Verbo. Este estava em (o)princípio junto a Deus.”(Novo Testamento Interlinear – Grego Português; p. 340). Nesse sentido o segundo autor a absorver no cristianismo nascente o tema da filosofia grega é João, o evangelista.

Antes de falar de Agostinho de Hipona, entre outros cristãos notáveis, vale assinalar que outro conceito importante entra de algum modo e em algum momento no cristianismo de Paulo, Barnabé e Pedro. Trata-se da ideia de universalismo, ou seja, a mensagem ou proposta de fé era para todos. A fé cristã tinha validade universal, idêntico a validade universal da razão grega. 

            Agostinho de Hipona (354 – 430), norte africano, é considerado o último filósofo antigo e o primeiro da Idade Média. Sua vasta obra tem aproximações com o pensamento de Platão. Um dos tópicos da sua obra, expõe que o homem não chega ao conhecimento da verdade exclusivamente pela linguagem. Para ele existiria algo que excede a linguagem, sem cair na ideia de Platão de que o conhecimento é uma rememorar-se de algo que já estava na mente. Seria Deus que nos fornece o conhecimento e não a mera razão no uso de seus instrumentos.

 

3. Um Breve Desvio no Movimento Retilíneo da História.

 

Antes de passarmos para a Escolástica, como ponto culminante da vida intelectual da Idade Média, é proveitoso considerar que houve outros desdobramentos culturais fora do espaço geográfico do que hoje chamamos Europa.  Para esse momento podemos fazer uso da seguinte imagem, simples, mas que nos é útil. Consideremos que a história estava acontecendo com o Império Romano. Como sabemos, esse Império entrou em colapso e foi reduzido a ponto de deixar de existir ou se metamorfosear em dado momento e virar a Igreja Católica Romana como herdeira da tradição do Império.  Porém, restou uma parte desse Império que permaneceu de modo ininterrupto até 1453. Trata-se do Império Romano do Oriente ou do Império Bizantino.

 

O que temos de considerar para os estudos de Filosofia é que um dado recorte histórico e de ideias não apaga a existência de outros contextos culturais. Se na Europa as coisas definharam, comparando como a cultura Romana anterior, levando-nos a pensar que o mundo acabou ou virou cinzas, esse fim deve ser considerado apenas para uma pequena porção da terra, precisamente uma parte do continente europeu.

 

 Acerca desse ponto devemos considerar dois tópicos. O primeiro é a herança interpretativa desse período histórico. Produzida pelo Renascimento ou pelo Iluminismo, dois momentos culturais e históricos posteriores. Certamente esses dois movimentos têm suas razões para romper com o modelo Feudal, mas precisamos verificar e avançar e não apenas tomar como nossas as questões deles. A segunda questão sobre Idade Média são os que nos dias de hoje tentam retomar certo “esplendor” do medievo. Geralmente vinculados a setores da Igreja Católica Romana e partidários das Monarquias europeias. O que tem validade até certo ponto e boa dose de saudades idealizadas de um passado imaginário. 

           

Porém, independente da interpretação, pode-se dizer que a Europa entrou em colapso social e cultural. Mesmo que na Itália ainda restasse alguns fragmentos da cultura antiga, a vida rural que se seguiu no restante da Europa fez com que a vida se voltasse para aquilo que chamamos hoje de subsistência. Sem produção ou cultivo de Filosofia ou de cultura mais elaborada do ponto de vista de edificações ou econômica. Apesar desse “inverno” cultural histórico na Europa, a vida continuava no Oriente, escolas que geralmente eram fechadas no Ocidente eram reabertas na Síria, Bagdá e Pérsia. Esse fato é importante ser salientado, pois numa leitura mais rápida, tem-se notado em manuais de ensino de Filosofia a tomada do que ocorria na Europa como se fosse na totalidade do existir humano.

 

Quando em 489 d.C. houve o fechamento da Escola de Edessa (Mesopotâmia), a mesma se transferiu para a Escola de Nisibis ou Gandisapora, na Pérsia. Nesse cenário a Síria, através de algumas Escolas (Risaina, Kinnesrin) também se consolidou como centro cultural que deu sequência as antigas Escolas Filosóficas da Grécia e outras tradições do Oriente Médio.  Condição que a fez ser a partir 750 d.C um ponto cultural fundamental para aquilo que depois chamamos de Império Islâmico. As dinastias dos Califas Abássidas que ali se instalaram fizeram suas as ideias filosóficas, sobretudo a Filosofia de Platão e Aristóteles.

Geograficamente localizada as margens da Europa, o hoje chamado Oriente Médio não era propriamente em termos culturais uma região marginal. Olhado com atenção, notamos que a narrativa eurocêntrica além de um fenômeno cultural mais recente, é bastante devedora daquela região vizinha. Escolas filosóficas ou irmandades sempre existiram nessas culturas que não conhecia o modelo de escola como nos é familiar nos dias de hoje. Aliás, esse tema conta com pouca investigação entre nós de língua portuguesa, é escasso os estudos tanto em filosofia, quanto em educação.

            Étienne Gilson, renomado historiador da Filosofia Medieval, nos relata a existência de uma dessas irmandades filosóficas:

 

 “Uma das manifestações mais curiosas da especulação filosófica mulçumana é o aparecimento dessa espécie de franco-maçonaria que nasceu por volta do século IV da Hégira e que é designada pelo nome de “irmãos da pureza”. Os filiados a essa seita não admitiam a simples possibilidade de se interpretar e confirmar a revelação religiosa por meio da filosofia; pretendiam, além disso, melhorar a lei religiosa e retificá-la graças aos recursos que a simples especulação racional pode nos proporcionar.” (GILSON. 2007. P. 431)

 

Como podemos verificar no texto de Gilson essa era uma das escolas de vulto tributária da tradição do Kâlan (palavra), que se estabelece em torno de questões de linguagem e realidade ou, como será retomado em vários círculos de estudos não acadêmico do Iluminismo, a palavra perdida como chave primordial de compreensão do real e até mesmo de comunicação entre Deus e os homens.

 

 O Império Otomano, que assume o lugar geográfico do Império Romano do Oriente, assume também muitos elementos culturais e filosóficos, fazendo uma ponte peculiar entre as tradições antigas e os nossos dias. História pouco conhecida, pois comumente somos mais ligados na cultura europeia e até pensamos que a Idade Média é a única janela de comunicação com a antiguidade.

 

4. Escolástica: retomando a histórica da Europa

 

A escolástica como o nome e português já nos leva a inferir, faz referência a escola, precisamente ao latim scholasticus. Podemos dizer que ela teve uma primeira fase que se situa com a fundação da Academia Palatina da corte de Carlos Magno (séc. IX), o renascimento, curto, Carolíngio. A segunda etapa e mesmo o seu auge se dá por volta dos séculos XII e XIII com a tradução para o latim das obras de Aristóteles. Fase em que surge o maior expoente da cristandade que é Tomás de Aquino.

 

O pensamento desses autores, além de Tomás de Aquino, faz esforços deliberados para aproximar a Filosofia, como cultura grega, com a mensagem Bíblica, enquanto texto fundamento do que seja a vida e o pensamento cristão. Para historiadores das ideias essa aproximação parte de modo explicito do que seja o mundo cristão para com a Filosofia. Seria a Igreja Católica Romana utilizando a Filosofia para melhor dizer o que ela própria era. Seria daí a ideia de que a Filosofia passaria a ser uma serva da Teologia.

 

Parece-nos, no entanto, que a sistematização teórica, a resolução dos dilemas da cultura, como organismo vivo, se aperfeiçoou pelo esforço de pessoas intelectualmente capacitadas e que, nada mais louvável, procuraram dar continuidade às problemáticas lançadas pelos clássicos da Filosofia Grega noutras chaves, agora no universo do cristianismo como cultura religiosa.

 

 

 5. Os Construtores de Catedrais

 

No tópico três do presente texto abordamos rapidamente alguns elementos da cultura que floreceu no Oriente Médio e assinalamos que havia por aquelas partes do orbe terrestre escolas filosóficas, além de filosofias diversas, com certa predominância da Filosofia Grega de Platão e Aristóteles. (Não podemos esquecer que no Egito e todo oriente médio houve pessoas a procura de Escolas para se dedicarem a um tipo de vida ‘elevada’; essênios, monges do deserto, etc. A própria Filosofia Grega tem vínculos, ainda que difícil de provar documentalmente, com o antigo Egito)

 

Na Idade Média, especialmente no que se convencionou chamar de Alta Idade Média, a paz e o estabelecimento de governos estáveis, propiciou o surgimento de processos sociais mais complexos. Nesse contexto não só a Filosofia floresce entre os séculos XI e XII. Notamos o surgimento dos processos de construção de Igrejas em arquiteturas mais complexas para serem edificadas.

 

O ponto de referência nesse setor construtivo é a Abadia de Cluny em França. Essa Abadia passou a comandar boa parte dos projetos de construção de toda a Europa. Sua construção se deu na Aquitânia, por São Bernon em 911. Seu esplendor e auge ocorreram entre os anos de 927 a 1049. Segundo Nicolas Aslan, citanto o Conde de Montalembert – Histoire dês Moines d’Occident:

 

“os mosteiros possuíam não somente escolas e bibliotecas, mas também oficinas de arte, onde a arquitetura, a pintura, o mosaico, a escultura, a caligrafia, o trabalho do marfim e o engaste das pedras preciosas, a encadernação e todos os ramos da ornamentação foram estudados e praticados com tanto esmero quanto êxito, sem jamais faltarem à austera disciplina da Ordem”. (ALAN. 2008. p. 54)

 

O texto bem documentado e articulado elaborado por Nicola Aslan nos demonstra que essa Abadia interferiu na construção de vários castelos e paróquias da Europa. Por influência direta ou, posteriormente, por ter lançado as bases metodológica de trabalho na construção, o fato é que a Abadia de Cluny consiste em uma chave importante de compreensão da origem das associações de trabalhadores da construção civil da Europa dos dias de hoje.

 

Essas associações no seio da cultura europeia surgem em algum momento da história a partir do século XII.  Tinha como marca mais geral o fato de conciliar a dimensão do trabalho ou dos ofícios e a vivência religiosa, que estabelecia estreita ligação com o Igreja Católica daquele contexto. As guildas como ficaram conhecidas, eram os lugares por excelência em que os conhecimentos não só de construção se preservaram, mas uma gama variada de ofícios práticos e necessários para a vida cotidiana. De panificação a sapateiros, esse modelo de transmissão e execução de serviços tiveram vida longa. Contudo, carregavam em si uma contradição. Se eram os lugares de certos saberes, de sua preservação e transmissão, passaram a ser também o lugar onde não “se revelava” como se fazia esse ou aquele ofício. Dessa preocupação de resguardar um saber estratégico para si, para a vivência dessa ou daquela Guilda, surge o fato de que acabaram por impedir outros tipos de saberes. Ou se fecharam para novidades ou novas respostas para demandas novas que poderiam surgir.

 

Muitas dessas Guildas foram extintas por ocasião da Revolução Francesa, pois naquele contexto representavam o “Ancien Régime”. Porém, nem tudo ficou no passado, pode-se encontrar um exemplar vivo em nossos dias. Trata-se em França dos Compagnonnage de France.  Hoje é uma associação que valoriza e se articula em modos de irmandade. É considerada um bem imaterial tombado pela Unesco. Os membros dessa associação se dedicam a vários tipos de ofícios manuais. Podemos encontrá-los como ourives, escultores, construtores civis, panificadores, etc. Após passar por quase extinção, tem-se verificado uma retomada dessa prática fraternal que tem ganhado destaque em nossos dias.

 

As Guildas de pedreiros em parte estão vivas nos Compagnonnage, mas não se pode afirmar que sejam as únicas herdeiras desses trabalhadores. Várias foram as ramificações, como várias eram as aglomerações de construtores. Certamente é difícil de documentar o paradeiro de algumas, mas é muito fácil verificar nas pedras das construções das Catedrais em França, para citar um exemplo, as marcas daqueles que fizerem esses edifícios. Dado aquele hábito em que o trabalhador preparava uma pedra para depois vender ela no canteiro da obra, sendo necessário marcar a pedra que era fruto do seu trabalho. Igrejas no interior de França são monumentos para todos verem esse grande “lego” que foram suas construções, pois cada operário fazia uma peça, sob medida muito específicas, que eram depois montadas na edificação. Podemos até brincar que era o nosso “pré-moldado” de hoje.

 

Dentre os vários ofícios, os pedreiros detinham algumas características particulares. E de certo modo os distinguiam das demais Guildas. Por necessidade de quem precisavam das construções de castelos, igrejas, muros e pontes, essa classe de trabalhador experimentou certa liberdade no exercício do trabalho. Trabalhar na construção, desse modo, ficou associado a ser livre, mesmo que essa liberdade não fosse grande, comparando-se com os demais “servos” do sistema de governo feudal. Porém era fato, ser pedreiro tornou-se sinônimo de livre. Conceitos relevantes no liberalismo enquanto pensamento modelo para a vida social e do protestantismo enquanto campo da experiência da vida religiosa cristã. Nesse quadro podemos inferir que trabalhar propiciava liberdade, sobretudo em comparação direta aos servos, como modelo majoritário do trabalho no medievo.

 

O trabalho, nesse contexto, pode ser considerado como fonte de honra, pois é sinônimo de liberdade. Porém, a liberdade desses construtores tinha como horizonte a Idade Média religiosa e organizada de modo estanque. Nada mais natural que os pedreiros para organizar suas Guildas se espelhassem no seu contexto imediato. Donde os mosteiros feitos por eles mesmos figuravam como referência de Confraria.

 

Se pudermos pensar a história da Filosofia Medieval feita pelos grandes pensadores, geralmente vinculados às estruturas de poder da época, podemos examinar, em contrapartida, o subterrâneo dessa mesma história que encontraremos vários outros elementos sendo gestados ou metamorfoseados nas margens do poder. A burguesia e o liberalismo são esses dois elementos que irão eclodir formalmente na Revolução Francesa e Industrial, percorrendo aí mais de 500 anos de história. O mesmo pode ser examinado no fenômeno das confrarias ou irmandades. Seja no Renascimento Italiano ou no Iluminismo, encontramos confrarias de todo tipo. Basta lembrar que a Academia fundada por Marcílio Ficino em Florença na Itália foi um desses fenômenos, precursor das Academias de Ciências. Além do pensamento de Augusto Comte, já no Iluminismo positivista, sobre uma religião civil, parece-nos serem chaves para investigarmos o fenômeno das confrarias que transitaram historicamente de lugares de ofícios para agremiações de filosofia e uma variedade de outros conhecimentos.

 

 

6. O fim da Idade Média

 

A Idade Média chega ao fim de várias formas. Podemos tomar o século XV como uma referência, mas cheia de discussões. Os motivos podem ser vários, no mundo intelectual certamente as críticas contra o dogmatismo se acirraram com Guilherme de Ockham. Posteriormente nasce o que os historiadores chamam de Humanismo Renascentista, objeto de nosso próximo capítulo. (em breve link aqui)

 

Para finalizar a Filosofia na Idade Média podemos retomar três conceitos fundamentais. O realismo platônico e o aristotélico como sendo próprio da Filosofia Medieval. Outros dois modelos podem ser o que provocaram a transição desse período para o próximo ou período Moderno.  Trata-se do conceitualismo de Pedro Abelardo (1079-1142) e o nominalismo de Ockham. Em termos de história das ideias, o distanciamento temporal às vezes nos leva a pensar que sejam esses os fatores que fizeram a mudança.

 

Em termos resumidos podemos dizer que o realismo platônico consiste no fato de que as coisas existem fora de nossa cabeça e no estado de formas (Mundo das Ideias), ou seja, o cavalo ideal não só existe, mas ele existe independente de pensarmos ele ou não.  Já o realismo aristotélico procura fundir o particular com o universal, isto é, procura dizer que os universais existem na substância do particular.

 

Na postura de transição temos o conceitualismo de Pedro Aberlardo que procura dizer que os universais nada mais são do que predicados. Fruto da mente e que destacamos das coisas particulares e depois unimos na mente. Para finalizar, o nominalismo de Ockham procura dizer que as palavras são apenas coisas da mente e não tem relação de existência com o que elas dão nome.

 

 

Bibliografia.

 

ASLAN, Nicola. A Maçonaria Operativa. Editora Maçônica “A Trolha” Ltda.

 

COSTA, Ricardo. Cluny, Jersusalém Celeste Encarnada, In: Revista Mediaevalia. Textos e Estudos 21. Disponivel em: http://www.ricardocosta.com/pub/cluny.htm

 

MARCONDES, Danilo. Iniciação à História da Filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1997

 

VEILLEUX, Armand, OCSO. As Origens do Monaquismo Cristão. Disponível em: http://www.ecclesia.com.br/biblioteca/monaquismo/as_origens_do_monaquismo_cristao.html

 

 

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