Então, Ensinar o que em Filosofia?

Então, Ensinar o que em Filosofia?

Então, ensinar o que em filosofia?

Prof. Me. Cídio Lopes de Almeida

Citar:

LOPES DE ALMEIDA, C. Então, ensinar o que em filosofia? São Paulo: AMF3. 2010. (Coleção Fragmentos) (Acessível em: http://amf3.com.br/entao-ensinar-o-que-em-filosofia )

 

A pergunta é direta: “isso dá o que pra mim fessô”.

Em geral somos levados pelas modas das Academias de Filosofia que a mesma não dá nada. Até mesmo parece que há um esforço tremendo para provar que Filosofia não dá nada mesmo. Até a Marilena Chauí eternizou aquela brincadeirinha: ” a filosofia é a ciência pela qual e com a qual o mundo fica tal e qual”.

Bem, estamos na era da mercadoria. O produto e o consumo assumiram o lugar do indivíduo. Não há mais SER e sim TER. O Ter vestiu uma capa, igual aquelas que fazemos com couro de um animal, e se passa por SER. Aliás, pensemos um lobo no meio de um monte de ovelhas. O lobo veste uma manta de pelo de carneiro e ali fica disfarçado. Assim é o TER.

No ensino de Filosofia esse é outro tema louco, que impede qualquer divagação filosófica. Em geral as pessoas são jogadas e tragadas pelo mercado de trabalho, pela necessidade de ter um trabalho, pois os prazeres da modernidade batem à porta. É ter um carro, é ter casa, roupa, comida. Tudo isso é posto e misturado com a escalada louca do consumo em solo brasileiro.

A MERCADORIA. Nós professores de Filosofia temos que ser comerciantes de ideias, temos que parcelar no cartão, temos que vê as classes “D” e “E” como potenciais consumidores de ideias.

As casas de Oração, ditas Igrejas de modo inadequado, já notaram isso e se portam desta forma. O pobre só acredita na ideia se vê o pastor com um carrão e exaltando luxo. Foi assim nos USA, onde uma sociedade protestante, arredia ao deleite terreno (Ler Weber) acabou por se tornar o paraíso do consumo.

É só ir lá ver, proliferou pastores pop-star que exibem aqueles cordões de ouro, sapatos caros e carrões. É a teologia da prosperidade.

Toda vez que passo em frente das Casas Bahia acontece algo engraçado. Associo, não sei os motivos, com a Igreja Universal do Reino de Deus.

Ainda não tenho solução, mas ensinar filosofia é ter que enfrentar a escalada da Mercadoria. É compreender que SER tornou-se, mesmo que não queiramos, TER. Só conseguiremos caminhar no ensino de Filosofia se tomarmos essa realidade e não negar ela, pois ela está aí.

(Texto editado em 2020)

 

 

3 comments

Professora, belo texto, é realmente difícil remar contra essa maré de desinteresse, frente a filosofia e outras matérias do conhecimento; é difícil para o professor contemporâneo competir com celulares, mp3s e outros, ou ensinamos ou viramos palhaços na tentativa de chamar a atenção e tentar ensinar… pra que buscar conhecimento se a ignorância é instantânea, esse pensamento parece predominar… infelizmente…

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