Em qual fonte confiar?

Em qual fonte confiar?

Em qual fonte confiar?

LOPES DE ALMEIDA, C. Os Em qual fonte confiar. AMF3: São Paulo. 2018. Acessível em: https://amf3.com.br/em-qual-fonte-confiar

O tema do “disse-não-me-disse” ou a volatilização do que é a verdade sobre os fatos a nossa volta não é novo. Hannah Arendt, filósofa, já tematizou ele no livre “A banalidade do mal”, referindo-se ao contexto das perseguições nazistas na Alemanha. Para ela a primeira vítima da guerra é exatamente a verdade, que é muito frágil e não resiste o “disse-me-disse”. 

 
Hoje poderíamos dizer que naquele contexto as dificuldades técnicas de reportar os fatos, por exemplo a existência de campos de concentração por vários lugares da Europa e de campos de extermínios na Polônia, seria a fonte da pulverização da verdade. Entre o olhar de um jornalista ou qualquer outro transeunte e a reportagem para outras pessoas, para uma comunidade de leitores de um jornal, as condições técnicas, isto é, o deslocamento da pessoa, a escrita, a impressão, a distribuição, seriam a origem das dificuldades de se construir a verdade sobre os fatos que estavam acontecendo. Contudo, em nossos dias tais questões dos “meios” joga por terra a tese de que é por conta dos entraves de circulação e escassez de matéria prima, causados pela dinâmica da guerra, a fonte da “mentira”. Temos os meios de comunicação em tempo real, a custos financeiros baratos, e poderíamos dizer que “quase universalizados”. 
 
Então o que ocorre, para ainda hoje o tema da “pós-verdade” ser o tema, ser o problema persistente. Porque a verdade está sendo a vítima nesse momento de governos falsamente democráticos? 
 
Em primeiro lugar “os meios” em nossos dias tem nos dado a sensação de que não existem. Toda a engrenagem da Internet aparece “escondida”. Usamos as famigeradas “redes sociais” sem saber como elas funcionam. Digitamos no celular sem saber nada dele; Esse “apagamento” da presença do meio à consciência tem seu preço. 
 
O primeiro erro é pensar que a Internet no Brasil seja uma coisa massificada. O segundo, é pensar que Internet “banda larga”, que permite ver protestos ao vivo pelo Facebook, seja acessível a todos, mesmo nos grades centros urbanos como São Paulo, Rio de Janeiro ou Belo Horizonte, a coisa não é bem essa. Algo elementar, mas que passa desapercebido pela maioria dos usuários. Tema que vale uma digressão. 
 
Recentemente foi noticiado uma questão política em torna do satélite brasileiros que permitiria a massificação da internet “banda larga”, porém está sendo objeto de jogos políticos. O político envolvido é o ex-prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, atual Ministro de Estado, e que tem feito uma distribuição política dos sinais dessa tecnologias. Como pode ser lido aqui. 
 
Em torno desse satélite, pago com dinheiro do Estado brasileiro, portanto um bem dos cidadãos, temos ainda um jogo econômico da empresa Intelsat, (USA) que explora serviços de comunicação; algo a ser explicado, pois foi pago para fins públicos. 
 
O que podemos ver nesse breve caso é que os meios em nossos dias não são idôneos; São meios e também tem suas dinâmicas humanas envolvidas. 
 
Outros aspectos que volatilizam a verdade em nossos dias, para além do acesso físico a um cabo ou sinal de ondas, é a própria dinâmica da redes de computadores. Nessa âmbito outro famigerado (famoso) é o tal do “algoritmo”, isto é, os meandros da linguagem sobre a qual os computadores trocam informação. São totalmente desconhecidos de todos aqueles usuários leigos, como o caso desse escriba. Contudo, sabemos que não são meros meios passivos e como aqueles meios que Arendet fala sobre a banalidade do mal, enquanto meios são por isso mesmo manipuláveis. São exatamente por serem meios com a marca de a-políticos que comportam todo o tipo de uso político. 
 
E nesse contexto de “matrix”, de que somos entretidos por uma superfície totalmente distinta das profundezas ou dos meandros, é que nos vemos impossibilitados de lidar com a verdade dos fatos. Ou necessitados de construirmos estratagemas de múltiplas checagens, comparações, enfim, todo um aparato de prospecção do que é de fato verdadeiro do falso. Até mesmo em que sentido o falso, como as “falsas notícias”, tem uma verdade enquanto falsidade.  
 
 
 
 

 

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