A Luz para combater as trevas: 1 ano de Escola amf3.com.br

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A Luz para combater as trevas:

1 ano de Escola amf3.com.br

 

 

Prof. Me. Cídio Lopes de Almeida

amf3.com.br

 

 

O texto é breve, mas porta algo profundo. Há justamente um ano comecei uma nova fase dos trabalhos do site AMF3, que já existia na forma de blog desde 2010. Movido por uma “epifania”, aquele famoso “clic” ou quando “a ficha cai”, me dei conta de que se eu que conheço o que seja a sociabilidade maçônica não me colocar a dizer o que ela seja, seus detratores, que não fazem noção do que ela de fato seja, irão construir a narrativa do que seja maçonaria. E em dado momento, até mesmo os maçons irão passar a crer na mentira, pois ela será a narrativa hegemônica e como tal ocupará a memória de todos.

 

Aliás, da brincadeira de confrades estadunidense com o bode, vemos hoje maçons brasileiros jogarem lenha nessa brincadeira de mau gosto, sem se perguntarem os motivos que o fazem, levando mesmo a incorporar a figura do bode na cultura maçônica. Algo totalmente desnecessário.

 

Retomando o primeiro parágrafo, se quem sabe não se colocar a dizer o que seja a maçonaria, de modo qualificado, as lendas e mentiras ganharão cada dia mais espaço. Irão se colocar no lugar de única versão do que seja maçonaria. Ao ponto de maçons mesmo passarem a crer nas falsas explicações.

 

Foi a partir dessa percepção, motivada por uma palestra justamente sobre “antimaçonaria” que passamos a dar outro rumo aos trabalhos que sempre fizemos no âmbito do site AMF3.org, que era mais de propagação desinteressada das interseções entre a filosofia acadêmica e uma dada sociabilidade filosófica.   

 

O cliché “se combate as trevas com luz” nunca me fez tanto sentido. Metáfora que tem lá seus limites, mas tem também suas riquezas comunicativas. E foi movido pela ideia de que um bom trabalho, paciente, sem aquele afobamento de querer converter a mensagem no meio, isto é, condicionar o que temos a oferecer sobre maçonaria à certa demanda que surge na internt sobre o que seja maçonaria, que seguimos fazendo nosso trabalho.

 

Com frequência os meios insistem que adaptemos nosso conteúdo à tais demandas, o que redundaria justamente numa modificação substancial do que seja maçonaria como escola de prática filosófica. Foi justamente insistindo na ideia de que é a mensagem a detentora do poder de dispor dos meios, que tivemos, recente, um fantástico retorno de um dos nossos leitores e até certo ponto um aluno informal do projeto AMF3 Escola de Filosofia Prática. Um jovem empresário das proximidades da cidade de Italva – RJ, de modo livre, escreve-me para agradecer sobre a honestidade que sempre empregamos no nosso trabalho. Que sempre fomos dados a informar sobre o que seja maçonaria sem criar falsas esperanças ou focar em lhe vender algo. O mesmo estava concluindo isso por dois motivos. O primeiro decorre da interação realizada há um ano através da leitura dos textos que disponibilizo no site, dos vídeos no canal do Youtube, e da constante troca de mensagens que fizemos via Whatsap. A outra fonte da conclusão dele foi justamente ver uma “live” no Youtube dos “vendedores” de maçonaria. Munido do repertório crítico que lhe fornecemos ao longo desse um ano de trabalho e junto com seu senso crítico, o mesmo conseguiu logo identificar o caráter totalmente desvirtuado do que seja a sociabilidade maçônica. Ele foi direto ao ponto ao registrar que a fala do “moço” era mais parecida com a de um pastor dessas igrejas de televisão.

 

Ou seja, de uma sociabilidade filosófica, o que verificamos no referido vídeo acima foi a “venda” de uma caixinha mágica, de um “canivete suíço”. A maçonaria ali não era um lugar para o exercitar-se filosoficamente. Era um lugar de aquisição de “poções” mágicas. Era só lançar na direção do real, e o dinheiro apareceria. A palavra chave dessa teologia é “prosperidade” e era usada como uma versão do “abracadabra” dos contos ficcionais. A exposição que ali se seguiu, nos pareceu algo que só na ficção literária faz sentido para adultos; fazendo nos lembrar mais de Hary Potter, um clássico da literatura ficcional, com poderes pedagógicos fantásticos na formação do imaginário da juventude, mas que jamais se espera que os adultos tomem aquilo como sendo algo dotado de realidade social. Supomos rapidamente que tais adultos consigam distinguir a fantasia da realidade, evitando sempre a psicose, aí já um problema médico psiquiátrico.

 

Sobre essa demanda que sempre nos puxa para fora dos objetivos de ensinar o que seja maçonaria como sociabilidade filosófica, é importante registrar que as pessoas procuram nosso site querendo, na grande maioria, “ser maçom”. Por si só isso nos coloca o desafio de informar que querer é importante, mas pode não ser traduzido em realização. A ausência do maçom qualificado desse espaço virtual permite justamente que o falsário se apresente de forma muito cômoda para “vender” maçonaria.

 

Não só a ausência de maçons com discursos qualificados para construir a narrativa adequada do que seja maçonaria, temos ainda confrades que adotam a postura do “não posso falar é segredo, não posso falar”. Sendo que alguns vão mais adiante, para exposição do seu próprio não saber, tecerem críticas ao nosso trabalho sem apontarem onde está o problema. Fixando em clichês tais como “não pode revelar o segredo”, “não seja perjúrio”, mas onde tem algo revelado? Qual texto? Vídeo? Sim, revelar que maçons não estudam, que desconhecem os fundamentos iluministas do grupo a que participa, dói, mas se espera provocar no sentido de que estudem, pois o não dizer nada abre espaço para algo pior, que a deterioração do longo capital cultural e social da Maçonaria na história do Brasil.  Sim, temos trastes na maçonaria, pessoas humanas, apesar disso, temos um volume cultural muito maior e não podemos deixar de lado isso; sua importância no passado e o lugar que devemos ocupar hoje.

 

Num arremate intermediário, o retorno do aluno acima citado nos dá a certeza de que podemos continuar na insistência da mensagem e as adaptações devem ser feitas, ajustadas, mas sem perder de vista o foco na mensagem, na proposta de que maçonaria é essencialmente uma prática filosófica. A mensagem aqui não é dogmática, ela é filosófica e precisa observar apenas o rigor com que se faz filosofia. A filosofia acadêmica mesma, pois na maçonaria não é outra filosofia, é dessa da academia que se serve, cultiva e faz a difusão.

 

Seguindo nosso raciocínio, a pergunta que sempre fiz foi: como uma instituição baseada na filosofia iluminista tornou-se em dado momento “obscurantista”? Como algo que faz referencias as mais diversas ao iluminismo não consegue uma solução para estancar o volume gigantesco de literatura que a difama? A resposta se encaminhou para dois raciocínios.

 

A primeira resposta aponta para o fenômeno da internet que, como instrumento é neutro, deu asas às fantasias baseadas na demonização do “outro” que não é objeto da minha dominação. De um dado tipo de religiosidade que se constrói na difamação de tudo, para se mostrar como redentora. Esse público, portanto, usa a internet para, habitualmente e no pleno exercício da sua liberdade, asseverar que maçonaria, tal como o sol que paira sobre nós, é uma coisa do maligno. Esse mesmo público que faz uso da liberdade de fala para difamar não se dá conta de que usam um bem conquistado a duras penas justamente pelos paladinos da filosofia iluminista, de quem hoje a Maçonaria é uma representante.

 

A segunda linha de pensamento, por mais dolorosa que seja, aponta para o fato de haver um grande volume de confrades que não se dedicam aos estudos. Mesmo estando numa instituição iluminista, não leem. Com certa tristeza vamos mais a fundo, dado o grande número de leitura, registrado como “visualização” no site, e “download’ dos nossos textos, somos levados a confirmar a prática de “baixar” textos para serem lidos em loja. Caros confrades, isso tem um único nome escolar: “plágio”, ou trabalho copiado. É dessa “métrica” da internet, como da experiência em Loja, que concluímos pela validade do que estamos pacientemente levando a cabo. Difundir a cultura filosófica que está vinculada a maçonaria como a única estratégia capaz de evitar que o atual “dilúvio” de textos e vídeos que desconstroem o que seja maçonaria pare.

 

Em conclusão, nosso projeto de oferecer formação em filosofia prática, que estabelece relação em cheio com a maçonaria, ainda que não se reduz a ela, é um caminho necessário. É preciso construir e ofertar situações de aprendizado filosófico pautado na qualidade do conteúdo e não na superficial adaptabilidade aos meios. É preciso ir criando a oferta de tais opções qualificadas, pois elas ecoarão em várias pessoas. E serão todos esses cultivadores de filosofia no sentido dessa tradição de mais 2500 anos os que oferecerão a devida resistência à cultura do prosaico e imbecilizante que sangra os mares da internet. Foi tudo isso que me ocorreu a partir do retorno do jovem empresário e estudante de nosso site. Vale a pena continuar e insistir em fazer a cada dia o melhor.

 

 

 

Para citação:

 

LOPES DE ALMEIDA, C. A Luz para combater as trevas: 1 ano de Escola amf3.com.br. São Paulo: Amf3. Acessível em:https://amf3.com.br/a-luz-para-combater-as-trevas-1-ano-de-escola-amf3-com-br

 


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