Introdução à Filosofia da Mitologia
A “Introdução à Filosofia da Mitologia” de Vicente Ferreira da Silva representa uma ruptura com o subjetivismo e o antropocentrismo filosóficos, propondo um novo objetivismo onde o mundo espelha uma constituição transcendental ligada a um projeto original. A obra argumenta que a compreensão da religião e da mitologia só é possível ao superar o pensamento ancorado na condition humaine, inserindo essa nas forças instituidoras do Ser. O autor introduz a noção de um Ser transcendente como Sugestor e Fascinator, fonte de todas as possibilidades e cuja manifestação primordial se dá na Mitologia, compreendida não como criação humana, mas como a vida prototípico-divina e a abertura de um regime de fascinação. Nesse contexto, o ente, incluindo o ser humano, é visto como sugerido e fascinado pelo Ser, sendo a própria ideia do homem uma sugestão aórgica [não posto pelo homem], ou seja, não posta pela liberdade humana. A verdadeira objetividade reside no reconhecimento desse oferecer transcendental do Ser, exigindo uma superação do hominismo para uma sabedoria do transumano.
O Pensamento Filosófico de Vicente Ferreira da Silva
As obras de Vicente Ferreira da Silva são revistas, com ênfase na sua filosofia da mitologia na última fase do seu pensamento, marcada por uma crítica ao antropocentrismo em favor de uma compreensão do ser ligada ao mito e ao sagrado. O seu percurso filosófico é apresentado em três momentos: um inicial interesse pela lógica matemática, seguido por uma fase antropológica e existencialista, culminando na sua original filosofia da mitologia e do sagrado, que valoriza o mito sobre o logos e explora a relação entre o Ser, os deuses e a experiência humana. A análise abrange desde a sua conceção da morte e da intersubjetividade até à sua visão da história, da arte e da religião, culminando numa onto-teologia que prioriza o mítico-poético como acesso à verdade do Ser.
Sentido histórico das civilizações clássicas
O trabalho doutoral resenhado confronta a alegação de Oswald Spengler de que as civilizações greco-latinas careciam de um sentido histórico em comparação com os egípcios. O texto argumenta, através da análise de mitos, história, arte e ciência, que os gregos e romanos possuíam uma consciência do passado e do futuro, refutando as ideias de Spengler. A discussão explora a interpretação de lendas, o desenvolvimento da historiografia, as escolhas de materiais artísticos e os avanços científicos dessas culturas, apresentando evidências que contradizem a visão de um anistoricismo [falta de sentido histórico] greco-romano. Em contraste, o texto também aponta a presença de elementos míticos e imprecisões históricas no Egito antigo, relativizando a suposta superioridade egípcia no sentido histórico.
Declínio do Ocidente
O Declínio do Ocidente de Oswald Spengler apresenta uma visão morfológica da história, comparando culturas como organismos com ciclos de vida predeterminados, distinguindo a fase criativa da cultura da rígida civilização. A obra explora as “almas” distintas das culturas, como a faustiana do ocidente, caracterizada pela busca do infinito e uma profunda consciência histórica, a apolínia da antiguidade clássica, focada no presente e na forma corporal, e a mágica do mundo Árabe, com sua visão dualista do espaço e do tempo. Spengler argumenta que o ocidente está em seu inevitável declínio civilizacional, comparável à Roma tardia, e que não há uma história linear da humanidade, mas sim ciclos culturais únicos, cada um com seu próprio destino, sendo a sua metodologia a morfologia comparada para identificar paralelos entre as diversas expressões culturais.
Experiências com Inteligência Artificial: explorando os modelos de linguagem artificial na produção de conhecimento científico filosófico
O objetivo do experimento consiste em testar a capacidade dos modelos de linguagem artificial, conhecido também por Inteligência Artificial (I.A.), em construírem uma proposta com validade científica. Nosso problema consiste em considerar que se soubermos formular as orientações adequadas para o modelo de linguagem ele amplifica nossa capacidade de articulação conceitual, porém, sem esse conhecimento ele poderá produzir conteúdos falsos e sem validade.
Língua e realidade
Far-se-á uma incursão aos excertos apresentados na obra “Língua e Realidade” do filósofo Vilém Flusser, explorando a sua tese fundamental de que a língua não apenas descreve, mas ativamente cria a realidade. A reedição comemorativa da obra é destacada, juntamente com o seu impacto duradouro e a análise aprofundada da relação intrínseca entre linguagem, pensamento e o mundo que percebemos. Flusser investiga como diferentes línguas estruturam distintas compreensões da realidade, examinando conceitos como tempo, causalidade e potencialidade através de comparações entre o português, alemão, tcheco e inglês. Adicionalmente, os textos abordam a natureza da tradução, a multiplicidade das línguas e a função da poesia e da ciência na formação da nossa experiência da realidade. A obra seminal de Flusser é apresentada como um ponto de partida crucial para a sua posterior exploração da filosofia da comunicação e da imagem.
Gestos
A obra apresenta uma exploração multifacetada dos gestos humanos como manifestações do nosso estar no mundo. O autor examina diversos gestos específicos, como fumar cachimbo, pesquisar, pintar, usar vídeo, fazer e escrever, para revelar as intenções, valores e estruturas subjacentes às nossas ações. Através dessa análise, o texto investiga a relação entre liberdade e determinação, a evolução cultural dos gestos e as possíveis crises existenciais refletidas em suas transformações. A obra propõe uma nova abordagem metodológica para compreender a condição humana através da observação e interpretação dos gestos.
O Declínio Inevitável da Maçonaria: Uma Análise sobre Desconexão, Envelhecimento e a Perda de Relevância no Século XXI
A maçonaria, como instituição, caminha rumo ao seu declínio, e é plausível prever que ela tenderá ao seu fim em não mais que 50 anos. Nos dias atuais, a maçonaria demonstra uma incapacidade de dialogar com o tempo presente, manifestada de duas formas principais: a falta de uma discursividade sintonizada com as questões contemporâneas, como se verifica na literatura produzida por seus adeptos, e a ausência quase total de jovens em seus quadros. Essa desconexão com o presente e com as novas gerações aponta para um futuro incerto e limitado.
Memória e Ancestralidade na Maçonaria
No famoso livro Assim Falou Zaratustra, de Friedrich Nietzsche, a personagem, Zaratustra, após ter se retirado para as montanhas, decide voltar para o convívio da humanidade para comunicar a ela as suas meditações, pelo que percebe logo de início a necessidade de ter discípulos. O estranho, estampado pela obra ficcional, é que o seu primeiro discípulo era alguém recém falecido. Outra cena que nos permite contextualizar o tema que desejo arrolar nessa resenha é a memória de um Jesus de Nazaré com seus discípulos. A ideia de pensar o tema da ancestralidade na maçonaria parece nos remeter a esse tipo de convivência fraternal, entre mestres e discípulos, por onde a ancestralidade é vivenciada. Na história da Filosofia, Sócrates e seus discípulos Platão e Euclides, para ficar em dois famosos, é outro exemplo emblemático. Como de um mestre ter originado tradições distintas, expressas na filosofia de Platão e no logicismo de Euclides de Mégara.
O Presente e a Maçonaria: Angústia sob Imperialismo de Sentido
A resenha objetiva rascunhar uma hipótese sobre o presente e o desafio maçônico em arrancar-lhe seu sentido. Nossa hipótese é que patinamos, expresso pelo corrente pessimismo e idealização de um passado sem males, e somos levados a reboque das modas imperialistas de sentido. Nosso método é o reflexivo hipotético. Esperamos como resultado partilhar uma resenha pontual com a comunidade maçônica que se sente vanguarda a pensar nos nossos dias. Justifica-se o teor da resenha na medida que a atividade de investigar a verdade é um dos pontos fundamentais dessa sociabilidade baseada em Filosofia de Vida.