Traficantes evangélicos

Traficantes evangélicos

RESENHA

COSTA, Viviane. Traficantes evangélicos: quem são e a quem servem os novos bandidos de Deus. Rio de Janeiro: GodBooks, 2023.

Resumo

O texto, “Traficantes Evangélicos: Quem são e a quem servem os novos bandidos de Deus” de Viviane Costa, analisa o fenômeno da narcorreligiosidade no Rio de Janeiro, focando no crescimento do pentecostalismo em favelas e a relação de traficantes com a fé evangélica. A obra explora a transição religiosa na cidade, as disputas por território e o uso de símbolos religiosos como ferramenta de poder pelas facções. A autora, uma pastora pentecostal, utiliza sua experiência pessoal e pesquisas etnográficas para desvendar a complexa relação entre crime e fé, questionando a imagem tradicional dos traficantes e o papel da igreja nesse contexto.

Resenha do livro “Traficantes Evangélicos”

O livro “Traficantes Evangélicos: Quem são e a quem servem os novos bandidos de Deus”, de Viviane Costa, aborda a ascensão do pentecostalismo em comunidades periféricas do Rio de Janeiro e a sua interseção com o narcotráfico. A autora, pastora evangélica e pesquisadora, investiga como traficantes, antes associados a religiões afro-brasileiras, estão se convertendo ao pentecostalismo, criando uma nova dinâmica no cenário religioso e criminal da cidade.

Retemos algumas ideias ou conceitos chaves da obra. Que podem ser TransiçãoReligiosa: a mudança significativa no cenário religioso brasileiro, com o declínio do catolicismo e a ascensão do pentecostalismo, especialmente em comunidades pobres e marginalizadas. O termo “pentecostalização” descreve para a autora o processo de conversão em massa ao pentecostalismo, impulsionado por sua mensagem de esperança, linguagem acessível e oferta de pertencimento social.

O livro explora o conceito de “narcorreligião”, que descreve a interação complexa entre o narcotráfico e a religião. A autora argumenta que a religião, nesse contexto, serve como um sistema simbólico que oferece significado e suporte aos traficantes em meio à violência e à precariedade da vida nas favelas. Onde surge o “ethos de guerra”, característico do ambiente do tráfico de drogas, que influencia as expressões de fé e a relação dos traficantes com o sagrado. Estes atores buscam por proteção, justiça e poder que se manifesta tanto nas práticas religiosas quanto nas estratégias de domínio territorial. A importância do simbolismo religioso na demarcação de territórios e na comunicação de poder dentro do tráfico de drogas opera a destituição de uma antiga simbologia por uma nova. Pelo que se mostra a destruição dos símbolos afro-brasileiros e a substituição por símbolos cristãos como reflexo da mudança de hegemonia religiosa e as disputas territoriais entre as facções.

Outros aspectos da obra é que o pentecostalismo ao se tornar um fenômeno coletivo, acaba incidindo sobre os indivíduos ligado ao tráfico.  Com sua ênfase na experiência pessoal, na batalha espiritual e na prosperidade material, se adapta ao contexto de violência e desigualdade social das favelas. No que uma dada apreciação teológica da prosperidade e do domínio acaba ecoando nos interesses belicistas dos traficantes.

Para a autora há uma complexa relação entre religião e narcotráfico no Rio de Janeiro. Neste cenário, o pentecostalismo tem se transformado no contexto das favelas cariocas em discurso capaz de moldar a identidade dos traficantes. Trata da relação entre moral, violência e poder nas periferias, sendo um tema que para ela ainda demanda mais pesquisas.


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