The darker side of the Renaissance: literacy, territoriality, and colonization

The darker side of the Renaissance: literacy, territoriality, and colonization

RESENHA

MIGNOLO, Walter D. The darker side of the Renaissance: literacy, territoriality, and colonization. Ann Arbor: The University of Michigan Press, 1995.

Cídio Lopes de Almeida*

Resumo

O livro “O Lado Mais Escuro do Renascimento: Alfabetização, Territorialidade e Colonização”, em tradução livre, de Walter D. Mignolo, analisa como o Renascimento, apesar de sua ênfase no humanismo e na emancipação, também teve um lado sombrio: a colonização das Américas. Através da análise de diferentes fontes, o autor examina como a imposição da linguagem e da escrita ocidental, o estabelecimento de novas hierarquias sociais e a apropriação do espaço e da memória indígena impactaram as culturas ameríndias. O livro explora como a organização da história e a representação cartográfica do território foram usadas para legitimar a dominação colonial, enquanto as práticas e as cosmovisões indígenas foram marginalizadas e silenciadas. Mignolo argumenta que é crucial reconhecer a complexa interação entre diferentes culturas, as resistências indígenas e a hibridização resultante do processo de colonização.

Resenha de The Darker Side of the Renaissance: Literacy, Territoriality, and Colonization

O livro “The Darker Side of the Renaissance: Literacy, Territoriality, and Colonization”, de Walter D. Mignolo, sem tradução em português, explora as complexas relações entre a ascensão da alfabetização, a formação dos estados-nação e a colonização do Novo Mundo durante o período moderno inicial. Mignolo argumenta que o Renascimento, frequentemente celebrado como uma era de progresso e iluminação, teve um lado obscuro que se manifestou na imposição da escrita alfabética e da epistemologia europeia sobre culturas não-europeias.

Um dos conceitos fundamentais do livro é a “semiose colonial”, que se refere aos processos de interação semiótica que ocorrem em contextos coloniais. Mignolo argumenta que os encontros coloniais não foram simplesmente uma questão de transmissão de significado, mas sim processos complexos de manipulação e controle que envolveram a imposição de sistemas de escrita, categorias de conhecimento e práticas discursivas europeias.

A obra de Enrique Dussel é citada extensivamente por Mignolo para criticar a “modernidade” a partir de uma perspectiva colonial. Dussel argumenta que a modernidade, com sua ênfase na razão e no progresso, está intrinsecamente ligada à violência e à exploração coloniais. Ele propõe o conceito de “mito da modernidade”, que encobre a violência genocida que acompanhou a expansão europeia. Mignolo concorda com Dussel e utiliza seus insights para analisar como a imposição da escrita alfabética e da epistemologia europeias serviram para justificar e perpetuar a dominação colonial.

Mignolo também discute o conceito de “analética” de Dussel, uma alternativa à dialética hegeliana que busca centralizar as vozes e perspectivas das margens. Embora Mignolo reconheça a importância da analética, ele critica a tendência de Dussel de conceber as margens como fixas e ontológicas, em vez de móveis e relacionais. O livro analisa como a filosofia da escrita, desenvolvida por figuras como Elio Antonio de Nebrija no Renascimento, contribuiu para a colonização linguística do Novo Mundo. Nebrija via a escrita alfabética como um instrumento crucial para unificar a Espanha e promover a expansão imperial, e sua gramática castelhana foi utilizada para impor o idioma espanhol sobre as populações indígenas.

Mignolo demonstra como a imposição da escrita alfabética europeia levou à marginalização de sistemas de escrita alternativos, como o quipu peruano. Os europeus, presos à sua própria concepção de escrita, muitas vezes não conseguiam compreender ou apreciar a complexidade e a sofisticação de sistemas de escrita não alfabéticos.

            O autor examina a materialidade das culturas de leitura e escrita, argumentando que o modelo do códice medieval e do livro impresso renascentista influenciou profundamente a maneira como os europeus perceberam e registraram o Novo Mundo. Essa ênfase no livro como repositório de conhecimento levou à marginalização de outras formas de transmitir e preservar informações.

            Em suma, “The Darker Side of the Renaissance” oferece uma crítica contundente da narrativa tradicional do Renascimento como uma era de progresso e iluminação. Mignolo demonstra como a alfabetização, a territorialidade e a colonização estavam interligadas durante este período, e como a imposição da escrita alfabética e da epistemologia europeias tiveram consequências profundas para as culturas não-europeias.

A obra utiliza a filosofia de Enrique Dussel para criticar a modernidade e a colonialidade, explorando como o “mito da modernidade” serviu para encobrir a violência e a exploração que acompanharam a expansão europeia. O livro é uma leitura essencial para aqueles que desejam compreender as complexas relações entre o Renascimento, a alfabetização e a colonização, e como esses processos moldaram o mundo moderno.

* Doutorando em Ciências das Religiões, Faculdade Unida de Vitória, bolsista FAPES.


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