(Capadocia – Turquia – Igrejas Cristãs Primitivas)
Prof. Me. Cídio Lopes de Almeida
O Deus dos Patriarcas de Israel, considerando as imbricações de Deus com a História do Povo de Deus, também se manifesta em meio à características condicionais de seu povo. Não há, portanto, um Deus “super-poderoso” falando com um povo marginal, organizado em tribos semi-nômades. Deus caminha com o povo e se manifesta segundo as necessidades ou condição do povo seja provendo seus anseios por terra, hereditariedade(filhos) e proteção. É um Deus que acolhe e inclui as diferenças ou, dito de outro modo, dado outras urgências na vida desses nômades, escravos (Egito), questões fora desse plano de necessidades são secundárias e, desse modo, sem força de ação entre o povo e sua convivência com outros credos.
Javé parece se definir como Deus dos israelitas pela ocasião do cativeiro no Egito. Talvez como uma característica muito particular, Deus se toma o partido dos fracos e servos. Distintamente do que se conhece de outras divindades ligadas a outros povos, Javé não só se faz presente junto ao Povo, mas o convida a sair da condição de escravidão. Esse movimento de “saída”(páscoa ou passagem) da situação de opressão para a de liberdade marca profundamente toda a história de Israel e, posteriormente, podemos dizer que constitui o elemento fundamental da páscoa cristã.
Deus já caminhava junto do povo, mas o Sinai constitui um momento singular. Podemos dizer que nessa etapa da história do Povo a Revelação amarra ou engendra uma complexa teia que pode ser expressa em “libertação-revelação-aliança-leis”. As Escrituras, como fruto da história do povo e sua relação com Deus, parece ter confluído em torno do Sinai algumas versões de como se teria dado essa experiência do sagrado, a Revelação. Uma não eleger Moisés como o único a subir o monte, talvez a mais antiga, mas ser um entre outros anciãos. Outra, mais recente, denota um caráter mais elaborado em termos de rituais e reflexão teológica, na qual Moisés recebe papel de destaque. O principal, porém, não é a revelação em si, mas as implicações Dela para a vida comunitária. A Revelação é o selo de um pacto de Deus que tirou seu povo da servidão e agora lhe revela as condições para continuar a caminhar segundo os desígnios de Deus.
Após a Revelação os israelitas caminham na direção de um lugar. A terra prometida. As disputas em torno das questões agrárias logo lhe apresentarão uma novidade ou um lugar no qual não estavam acostumados, enquanto servos no Egito. Trata-se das guerras e vitórias, a custas da derrota do inimigo, a sua morte e tudo o que implica as guerras nesse período. (espólio, cativeiro dos vencidos, etc.)
O tema da guerra nas Escrituras parece ser delicado nos dias de hoje no seio de uma comunidade cristã e mesmo a judaica, como nos adverte o texto do prof. Kilpp no tópico 7.1 – Javé, o Deus Guerreiro. Contudo há varias possibilidades de pensar a questão e não relegá-la ou mesmo querer esquecer.
A estruturação da guerra santa ou em nome de Javé obedece a uma estrutura complexa, mas que, grosso modo, atribui a Deus um papel central. A arca da aliança e não um líder por si é o escopo central que motiva e administra os feitos de guerra. Considerando um povo que ainda não passou pela experiência de ter terras, um Estado, a arca da aliança assume papel de ‘figura’ central na mobilização de exércitos não profissionais. No contexto tribal, podemos inferir que manter um exército organizado, no qual as instituições não têm as características de um Estado, sob a figura central de um líder seria projeto fracassado. A arca, nesse sentido, funcionou muito bem, pois constitui um ‘lugar’ fixo donde emana a inspiração que motiva os beligerantes.
Enfim, ainda sobre a guerra, a dificuldade em lidar com esse tema no contexto da comunidade cristã de hoje parece advir de uma confusão. Se considerarmos que as Escrituras são a História do Povo de Deus e não a história de Deus na qual aparece o povo, as reflexões ganha encaminhamentos possíveis e não o mero esquivar-se da história. Um Deus que “peleja junto ‘(Israel)(Kilpp – 7.1.) não é intransigente e considera mesmo as limitações ou condições do povo. A guerra ou mesmo as desavenças entre os indivíduos da mesma comunidade são da condição humana que está em vias de crescimento, de transformação.
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