Apresentação
O
breve ensaio faz parte de uma série que tenho feito no sentido de buscar um
outro modelo de ensino e de definição do que é seja a
filosofia. Meu esforço consiste em demonstrar que as definições e práticas filosóficas que abundam no mercado literário expressam apenas uma faceta do que pode ser a filosofia e sua prática.
breve ensaio faz parte de uma série que tenho feito no sentido de buscar um
outro modelo de ensino e de definição do que é seja a
filosofia. Meu esforço consiste em demonstrar que as definições e práticas filosóficas que abundam no mercado literário expressam apenas uma faceta do que pode ser a filosofia e sua prática.
1. Do universal ao
particular singular.
particular singular.
O
particular parece não ser objeto dos analistas filósofos e de todo um jeito de
fazer do pensamento de esquerda entre nós brasileiros, para aqui restringir o
raio geográfico em terreno já particular no orbe terrestre.
particular parece não ser objeto dos analistas filósofos e de todo um jeito de
fazer do pensamento de esquerda entre nós brasileiros, para aqui restringir o
raio geográfico em terreno já particular no orbe terrestre.
Do
que serve análises da política geral se o mesmo
produto analítico em nada tocar o presente singular deste ou daquele indivíduo?
Especialmente do aluno para quem damos aulas? Aliás, o contingente de professores de filosofia
anônimos por esse Brasil não se serve ele mesmo da caixa de ferramentas que é a filosofia exatamente por acabar por
reproduzir esse modelo ou jeito de filosofar, a saber, o jeito dos “filósofos
de Estado” ou dos “Estabelecimentos de Ensino Privado” que forma
professores de Filosofia. Enfim, a filosofia do “oroborus” que citei em outro texto.
que serve análises da política geral se o mesmo
produto analítico em nada tocar o presente singular deste ou daquele indivíduo?
Especialmente do aluno para quem damos aulas? Aliás, o contingente de professores de filosofia
anônimos por esse Brasil não se serve ele mesmo da caixa de ferramentas que é a filosofia exatamente por acabar por
reproduzir esse modelo ou jeito de filosofar, a saber, o jeito dos “filósofos
de Estado” ou dos “Estabelecimentos de Ensino Privado” que forma
professores de Filosofia. Enfim, a filosofia do “oroborus” que citei em outro texto.
O
particular, o singular, além de ser desdenhado na cultura filosófica, é cheio
de armadilhas. Quem disse que ele deveria ser fácil? Que seria ele acossado,
exprimido e enlatado em alguma categoria universal? O primeiro risco é enquadrar o particular em categorias gerais, assim na pressa,
no pânico de ficar ali diante do inominável. Sem saber se ele é Hegel,
Heráclito, Sócrates, Franklin, Bruni, etc…
particular, o singular, além de ser desdenhado na cultura filosófica, é cheio
de armadilhas. Quem disse que ele deveria ser fácil? Que seria ele acossado,
exprimido e enlatado em alguma categoria universal? O primeiro risco é enquadrar o particular em categorias gerais, assim na pressa,
no pânico de ficar ali diante do inominável. Sem saber se ele é Hegel,
Heráclito, Sócrates, Franklin, Bruni, etc…
Por
outro lado, seguindo a fenomenologia, esse particular revela um universal. Contudo, creio que possa haver universais ainda não revelados
e que desse modo, sobretudo no que toca em como cada indivíduo se organiza
no mundo, será pela primeira vez que iremos notificar mais uma
singularidade. Não só a Filosofia profissional padece desse medo do singular, mas e sobretudo as demais ciências de
base matemática-física, isto é, aquelas que fizeram o famigerado desejo de
Kant: “o juízo sintético a priori”, traduzindo: conseguiram adiantar os resultados por
inferência matemática sobre alguma singularidade.
Adiantaram, sem se imiscuir na singularidade, como o singular se comportaria.
Enfim, afagaram o nosso medo transgeracional do imprevisto.
outro lado, seguindo a fenomenologia, esse particular revela um universal. Contudo, creio que possa haver universais ainda não revelados
e que desse modo, sobretudo no que toca em como cada indivíduo se organiza
no mundo, será pela primeira vez que iremos notificar mais uma
singularidade. Não só a Filosofia profissional padece desse medo do singular, mas e sobretudo as demais ciências de
base matemática-física, isto é, aquelas que fizeram o famigerado desejo de
Kant: “o juízo sintético a priori”, traduzindo: conseguiram adiantar os resultados por
inferência matemática sobre alguma singularidade.
Adiantaram, sem se imiscuir na singularidade, como o singular se comportaria.
Enfim, afagaram o nosso medo transgeracional do imprevisto.
Enquanto
o discurso dos filósofos de jornais voam de pico a pico das montanhas, os
mesmos das “Universidades de Elite”, sejam elas
privadas ou públicas estatais, o pobre, o marginal, o negro(preto?!), o
lusitano, o angustiado, o paranoico, o histérico, caminha sem conexão alguma
com tais ideias. Ideias que nos casos de muito angústia, de contextos opressores das singularidades, de nada servem. (Sendo radical, a
falta de serventia dos discursos de “Condor” serve apenas para seus
escritores; que ganham um pouquinho nos jornais, docência, livros, shows
filosóficos, etc).
o discurso dos filósofos de jornais voam de pico a pico das montanhas, os
mesmos das “Universidades de Elite”, sejam elas
privadas ou públicas estatais, o pobre, o marginal, o negro(preto?!), o
lusitano, o angustiado, o paranoico, o histérico, caminha sem conexão alguma
com tais ideias. Ideias que nos casos de muito angústia, de contextos opressores das singularidades, de nada servem. (Sendo radical, a
falta de serventia dos discursos de “Condor” serve apenas para seus
escritores; que ganham um pouquinho nos jornais, docência, livros, shows
filosóficos, etc).
Tenho
me interessado, desde a ideia de filosofia trágica em
Nietzsche, em exercícios filosóficos como “terrenificaçao” (profanação) da
filosofia. Nessa esteira, a economia solidaria, como tem sido desenvolvida por
Euclides André Mance (Editor Ifibe) entre outros e que fazem orbita à ideia de Filosofia da Libertação (essa heresia filosófica para os
eclesiásticos da Filosofia Universitária), responde os aspectos materiais de
qualquer discurso. Vejam, responder quer dizer tratar dessa dimensão
fundamental do contexto do “eu” (Ortega y Gasset) que
vive em um contexto material, além do cultural.
me interessado, desde a ideia de filosofia trágica em
Nietzsche, em exercícios filosóficos como “terrenificaçao” (profanação) da
filosofia. Nessa esteira, a economia solidaria, como tem sido desenvolvida por
Euclides André Mance (Editor Ifibe) entre outros e que fazem orbita à ideia de Filosofia da Libertação (essa heresia filosófica para os
eclesiásticos da Filosofia Universitária), responde os aspectos materiais de
qualquer discurso. Vejam, responder quer dizer tratar dessa dimensão
fundamental do contexto do “eu” (Ortega y Gasset) que
vive em um contexto material, além do cultural.
Não
adianta apenas tratar do tema da economia, é preciso ir além de “oferecer”
um curso com mensalidade. A economia solidária precisa já ter nessa relação
algo de solidário, outra forma de promover trocas, de
atender necessidades dos viventes. Portanto, aqui a questão não é “pensar” a
economia solidária, mas praticá-la. E sua prática já começa na forma como ela
se divulga, se apresenta às comunidades e seus indivíduos. O único preambulo necessário nessa prática é exatamente como se por como viável em meio à nossa
sociedade profundamente vincada segundo a lógica da economia capitalista. Como
ganhar a atenção em épocas de “app`s”? Como articular uma nova forma de troca
que não seja a do cartão de crédito ou dinheiro vivo?
adianta apenas tratar do tema da economia, é preciso ir além de “oferecer”
um curso com mensalidade. A economia solidária precisa já ter nessa relação
algo de solidário, outra forma de promover trocas, de
atender necessidades dos viventes. Portanto, aqui a questão não é “pensar” a
economia solidária, mas praticá-la. E sua prática já começa na forma como ela
se divulga, se apresenta às comunidades e seus indivíduos. O único preambulo necessário nessa prática é exatamente como se por como viável em meio à nossa
sociedade profundamente vincada segundo a lógica da economia capitalista. Como
ganhar a atenção em épocas de “app`s”? Como articular uma nova forma de troca
que não seja a do cartão de crédito ou dinheiro vivo?
O
segundo bloco de uma filosofia trágica, de uma tragédia filosófica (exercícios
filosóficos), e as entranhas do particular aludido no início desse texto nos
leva a Filosofia Clínica ou à Psicanálise. Sem a compreensão da psique e seus pontos cegos não vamos muito adiante. A sonhada revolução, a
libertação, só se dá de dentro para fora. Do indivíduo particular para o
objetivo/comunitário. E aqui não interessa esquerda ou direita; liberal ou
aristocrático, a questão é a dinâmica do psiquismo.
Sem inventar a roda, a psicanálise a que a Escola de Frankfurt nos indica
parece-nos já ter somado um bom percurso reflexivo e prático sobre o tema do
psiquismo. Se considerarmos a proximidade das ideias e dos métodos da
psicanálise com a filosofia, sobretudo com a
fenomenologia, creio que Filosofia Clínica não será uma novidade radical, mas
apenas um desdobramento profícuo que pode ser posto a serviço dessa
“terrificação” da filosofia.
segundo bloco de uma filosofia trágica, de uma tragédia filosófica (exercícios
filosóficos), e as entranhas do particular aludido no início desse texto nos
leva a Filosofia Clínica ou à Psicanálise. Sem a compreensão da psique e seus pontos cegos não vamos muito adiante. A sonhada revolução, a
libertação, só se dá de dentro para fora. Do indivíduo particular para o
objetivo/comunitário. E aqui não interessa esquerda ou direita; liberal ou
aristocrático, a questão é a dinâmica do psiquismo.
Sem inventar a roda, a psicanálise a que a Escola de Frankfurt nos indica
parece-nos já ter somado um bom percurso reflexivo e prático sobre o tema do
psiquismo. Se considerarmos a proximidade das ideias e dos métodos da
psicanálise com a filosofia, sobretudo com a
fenomenologia, creio que Filosofia Clínica não será uma novidade radical, mas
apenas um desdobramento profícuo que pode ser posto a serviço dessa
“terrificação” da filosofia.
Filosofia
Clínica, como podemos verificar nos escritos de brasileiros dedicados ao assunto, também não cresce na negação de
lacaniamos ou freudianos. Apenas guardas algumas distinções, alguns trajetos
distintos, mas não há uma mútua negação. Porém é fato que esse cuidado do
particular, do singular, é uma aterrisagem da filosofia
sobre uma parte do real. Cuidar para que a filosofia possa promover a vida
humana não a reduz a esse método, vale notificar. As pesquisas e os demais
labores da filosofia me parecem necessários, só não podem serem tomados como
senso a única forma, sob pena da total inutilidade ou
subordinação às modas de época.
Clínica, como podemos verificar nos escritos de brasileiros dedicados ao assunto, também não cresce na negação de
lacaniamos ou freudianos. Apenas guardas algumas distinções, alguns trajetos
distintos, mas não há uma mútua negação. Porém é fato que esse cuidado do
particular, do singular, é uma aterrisagem da filosofia
sobre uma parte do real. Cuidar para que a filosofia possa promover a vida
humana não a reduz a esse método, vale notificar. As pesquisas e os demais
labores da filosofia me parecem necessários, só não podem serem tomados como
senso a única forma, sob pena da total inutilidade ou
subordinação às modas de época.
Enfim,
encerro esse micro-ensaio retomando o problema da universalidade dos discursos
filosóficos e sua incongruência com o particular. Mesmo que em filosofia temos
sempre o cuidado de verificar que nossos
“universais”, análise da grande política por exemplo, tenham sempre vínculos
com o real, através de uma sucessão de causas e efeitos, minha ideia, contrário
a esse desejo otimista, é que nossas análises filosóficas, (sobretudo junto aos
alunos para quem ministramos aulas) se passam ao
largo do singular; levando-nos, sem nosso consentimento é claro, a produzir uma
parafernália quem nem mesmo nos serve para acessar o real. Não só nossos alunos
terão dificuldades em conectar tais abstrações à
realidade deles, mas nós mesmos, professores de filosofia, temos sentido a
frustração de não conseguirmos acessar a realidade de nossos alunos, que é
nossa realidade de trabalho docente. Pois se conseguirmos falar à essa
singularidade, se compreendermos ela e, a partir
dela, conseguirmos convidá-la à filosofia, certamente teremos sucesso;
romperemos a inércia; promoveremos ação filosófica. Por esse caminho de certo
que estaremos exercitando a filosofia.
encerro esse micro-ensaio retomando o problema da universalidade dos discursos
filosóficos e sua incongruência com o particular. Mesmo que em filosofia temos
sempre o cuidado de verificar que nossos
“universais”, análise da grande política por exemplo, tenham sempre vínculos
com o real, através de uma sucessão de causas e efeitos, minha ideia, contrário
a esse desejo otimista, é que nossas análises filosóficas, (sobretudo junto aos
alunos para quem ministramos aulas) se passam ao
largo do singular; levando-nos, sem nosso consentimento é claro, a produzir uma
parafernália quem nem mesmo nos serve para acessar o real. Não só nossos alunos
terão dificuldades em conectar tais abstrações à
realidade deles, mas nós mesmos, professores de filosofia, temos sentido a
frustração de não conseguirmos acessar a realidade de nossos alunos, que é
nossa realidade de trabalho docente. Pois se conseguirmos falar à essa
singularidade, se compreendermos ela e, a partir
dela, conseguirmos convidá-la à filosofia, certamente teremos sucesso;
romperemos a inércia; promoveremos ação filosófica. Por esse caminho de certo
que estaremos exercitando a filosofia.
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