Ocultismo, bruxaria, e Correntes Culturais

Ocultismo, bruxaria, e Correntes Culturais

RESENHA

ELIADE, Mircea. Ocultismo, bruxaria e correntes culturais: ensaios em religiões comparadas. Trad. de Noeme da Piedade Lima Kingl. Belo Horizonte: Interlivros, 1979.

Cídio Lopes de Almeida

Resumo

O livro “Ocultismo, Bruxaria e Correntes Culturais” do historiador das religiões Mircea Eliade é um conjunto de artigos que o autor colimou neste volume. Nele, o autor explora a presença do ocultismo e do esoterismo em diferentes culturas e períodos históricos. Ele analisa a influência dessas crenças em movimentos artísticos, sociais e religiosos, examinando a maneira como a tradição ocidental lidou com a magia, a astrologia, o xamanismo, a bruxaria e outras práticas esotéricas. Eliade se concentra na relação entre a luz, o espírito e o sêmen, e como esses elementos se manifestam em diferentes tradições espirituais e rituais, explorando a cosmogonia, a antropogonia e a morte em cada cultura. O texto também aborda a função de figuras míticas e rituais como os benandanti e as strigoi, e a busca por um retorno a uma fase primitiva de cultura, um estado de inocência e liberdade, geralmente associado com a nudez e a orgia ritualística.

O Interesse Ocidental pelo Oculto desde o Século XIX: Reflexo de Mudanças Sociais e Culturais

O interesse ocidental pelo oculto, a partir do século XIX, reflete profundas mudanças sociais e culturais, impulsionado por diversos motores e manifestando-se de múltiplas formas. As fontes fornecidas pelo usuário elucidam essa temática, revelando como esse fascínio pelo esotérico e pelo misterioso se entrelaça com a busca por novas formas de espiritualidade, a crítica aos valores tradicionais e o desejo de transcender as limitações do mundo moderno.

A Ascensão do Ocultismo Moderno e a Insatisfação com o Cristianismo: O ocultismo moderno, como termo e como movimento, emerge em meados do século XIX com figuras como Eliphas Lévi, impulsionado por um renovado interesse em tradições esotéricas como a Cabala, o Hermetismo e a Magia. Esse interesse pelo oculto se intensifica no final do século XIX e início do XX, tornando-se uma ferramenta de crítica e contestação aos valores culturais e religiosos dominantes do Ocidente, particularmente o Cristianismo.

Escritores como Charles Baudelaire [1821- 1867], Paul Verlaine [1844 – 1896], Rimbaud, J.K. Huysmans [Charles-Marie-Georges Huysmans, 1848 – 1907] e, posteriormente, André Breton [1896 – 1966] e seus seguidores, utilizaram elementos ocultos em suas obras como forma de rebelião contra o establishment burguês e a moral cristã.

Essa busca por alternativas espirituais se intensifica no século XX, com a proliferação de grupos e seitas ocultistas como a Sociedade Teosófica, a Antroposofia e outras, que prometiam uma renovatio pessoal e coletiva por meio da iniciação em conhecimentos secretos.

A insatisfação com o Cristianismo, seja por sua incapacidade de oferecer experiências místicas profundas ou por sua ênfase em questões sociais em detrimento da espiritualidade individual, impulsionou muitos a buscar no ocultismo uma forma mais completa de renovatio.

A Influência da Pesquisa Acadêmica e a Redescoberta do Esoterismo é outro fonte do estabelecimento do tema nas agendas de leituras em geral. A partir da década de 1940, a pesquisa acadêmica, impulsionada por descobertas como a biblioteca gnóstica de Nag Hammadi e os Manuscritos do Mar Morto, contribuiu para uma reavaliação da história e do significado de diversas tradições esotéricas. Estudos sobre a Cabala, o Gnosticismo, a Alquimia, o Hermetismo, a Ioga, o Tantra e o Xamanismo revelaram a complexidade e a riqueza dessas tradições, desafiando a visão reducionista que as via como meras superstições ou protociências.

Essa redescoberta do esoterismo por meio da pesquisa acadêmica contribuiu, ainda que indiretamente, para o aumento do interesse popular pelo oculto nas décadas seguintes.

A década de 1970 testemunhou uma verdadeira explosão ocultista, particularmente entre a juventude, com a proliferação de novos grupos e seitas que incorporavam elementos de diversas tradições esotéricas. Essa efervescência ocultista refletia uma profunda insatisfação com a cultura moderna e a busca por novas formas de significado e espiritualidade.

A Astrologia, a Magia, a Bruxaria, o Tarot e outras práticas ocultas se popularizaram, oferecendo aos jovens uma sensação de pertencimento, identidade e poder em um mundo cada vez mais complexo e incerto.

O anseio por iniciação, a busca por experiências místicas e a crença na possibilidade de transformação pessoal e coletiva por meio do conhecimento oculto impulsionaram essa explosão nos anos 1970.

É importante destacar que o movimento ocultista não é homogêneo. Existem tensões e contrastes entre diferentes correntes, como a visão otimista de renovatio da religião pop e a perspectiva mais crítica de autores como René Guénon, que via no ocultismo moderno uma degeneração das tradições esotéricas autênticas. A popularização do ocultismo também gerou preocupações quanto à banalização e à distorção de seus ensinamentos e práticas.

O interesse pelo ocultismo permanece vivo na cultura contemporânea, influenciando a arte, a literatura, a música e o cinema. A busca por espiritualidade alternativa, o questionamento dos valores tradicionais e o desejo de transcender as limitações do mundo material continuam a alimentar o fascínio pelo oculto no século XXI.

As fontes fornecidas pelo usuário demonstram como o interesse ocultista, desde o século XIX, reflete mudanças sociais, culturais e espirituais profundas. Esse fascínio pelo esotérico e pelo misterioso se entrelaça com a busca por novas formas de espiritualidade, a crítica aos valores tradicionais e o desejo de transcender as limitações da modernidade. A explosão ocultista dos anos 1970 e seu legado na cultura contemporânea revelam a persistência dessa busca por significado e por uma conexão com o transcendente em um mundo cada vez mais secularizado.

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