O que a Maçonaria faz?
Prof. Me. Cídio Lopes de Almeida
LOPES DE ALMEIDA, C. O que faz a maçonaria? AMF3: São Paulo. 2021. Acessível em:https://amf3.com.br/o-que-maconaria-faz
A maçonaria tem sido objeto de especulação e ilações diversas há muito tempo. Uma coisa é preciso dizer acerca dessas fantasias sobre ela. O foco inicialmente deve ser direcionado para a mente humana, que tem necessidades peculiares e uma delas é a de que há um fim para tudo que nos rodeia. Por exemplo, quando pensamos a terra, logo vem outra questão que é perguntar pelo espaço dentro do qual ela está. E com isso não paramos, logo pensamos o universo onde ela está. E não paramos, somos levados na sequência a pensar que há algo além dele.
Temos necessidades de pensar o fim de algo, mas nunca paramos. Estabelece-se uma cadeia de perguntas para o que há depois. No geral não nos damos conta desse processo que não acaba nunca. Construímos castelos imaginários que sempre nos providenciam ao menos uma sensação de solução. Dentro dessas soluções é que podemos localizar a necessidade de fantasiar acerca não só do que seja a Maçonaria, mas sobre um “algo secreto” que espreita a vida.
Outro ponto que joga lenha na fogueira da especulação do que seja a Maçonaria provém justamente de alguns maçons. Que fazem a opção de não responderem as pessoas sobre o tema. A opção deles até se justifica, pois como as fantasias destoam tanto do que seja Maçonaria e como é trabalhoso ser didático e convidar as pessoas a saírem das fantasias para a realidade, o silêncio acaba sendo o que é possível.
Ter fantasias para resolver questões de ordem existencial não é um ultraje. Trata-se de nossa condição humana. O risco é quando essas fantasias perdem a consciência de que são apenas isso. É salutar para qualquer cultura a produção de artes, (teatro, literatura, religião), mas perder a noção onde começa a fantasia e onde termina a realidade podem ser coisas perigosas.
Alguém pode dizer que meus argumentos não são verdadeiros e que a aura da Maçonaria nos dias de hoje não se beneficia de fantasias, mas de algo real. Discutir o que é real e o que é ficção é um longo assunto. Aliás, atualmente atuo como pesquisador do tema “Ficções Jurídicas e suas relações com a Filosofia de Nietzsche.” (A obra em questão é: Filosofia do Como si de Hans Vaihingers) Nossas reflexões nesse trabalho procura exatamente pensar o que é realidade e ficção na empresa jurídica. Mas nosso propósito aqui não é falar da empreitada jus-filosófico e sim da fantasia que faz orbita a Ordem Maçônica e que é possível determinar sobre esse tema as vastas divagações que pululam na internet. Podemos dizer que criamos a realidade, mas esse exercício não se dá sem regras e, sobretudo, de intercâmbio com outros indivíduos no complexo tecido social.
Não dá, portanto, para alguém sentar no computador e criar realidade. Apenas um coletivo pode fazer isso e ao longo do tempo. O virtual certamente marcará nossa sociedade; dirá muito de como levamos a vida; de como, inclusive, fantasiamos o que é a vida.
Nesse contexto encontram-se, então, as fantasias acerca da Maçonaria. Teorias da conspiração; longos textos de péssimo gosto, provando isso ou aquilo. Indivíduos que se intitulam “O Cristão” a defender a boa moral.
Mas para todos esses quero destacar alguns dados. Grosso modo, sem um rigor acadêmico necessário, pesquisas do IBGE diz que no Brasil 80% da população é considerada analfabeta funcional; 15% analfabeto total; o que nos resta 5% de pessoas que poderiam ser consideradas alfabetizadas. Esses dados são assustadores e minha intenção não é essa. O que eu espero é indicar o quão importante é para nossa cultura o empenho de todos e todas com a vida cultura do nosso país. E com isso quero dizer que em contexto de uma cultura não escolarizada, uma cultura privada da noção de ser cidadão, o que se compreende sobre a Maçonaria será muito limitado. A falta de uma certa cultura escolar, compromete a vida nos modelos sociais como vivemos hoje. Afeta não só uma Instituição como a Maçonaria, mas a própria vida das pessoas no geral.
Em conclusão, o maior projeto no qual a Maçonaria se engaja é justamente em levar cultura filosófica para as pessoas. Uma cultura cidadã, baseada na democracia. Essa é sua origem lá no movimento cultural Iluminista. Podemos e fazemos críticas à sua história, cheia de pessoas humanas e mortais como todos nós, mas o legado dos Estados Modernos, que implica a ideia de que nele há cidadão com direitos e deveres, encontrou na Maçonaria uma defensora de sempre.
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