O Pobre de Direita: A Vingança dos Bastardos de Jessé Souza

O Pobre de Direita: A Vingança dos Bastardos de Jessé Souza

RESENHA*

SOUZA, Jessé. O pobre de direita: a vingança dos bastardos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2024. [recurso digital].

Resumo

Resenho sobre o livro “O Pobre de Direita: A Vingança dos Bastardos”, de Jessé Souza, que analisa as raízes da ascensão da extrema direita no Brasil, explorando as causas sociais, psicológicas e políticas que impulsionaram esse fenômeno. Souza argumenta que a extrema direita se aproveita da fragilidade social e da humilhação experimentada por certos setores da população, particularmente brancos pobres, para promover um discurso de ódio e discriminação contra minorias e grupos vulneráveis. O autor também discute o papel da mídia, da indústria cultural e das igrejas evangélicas na perpetuação de preconceitos e na manipulação da opinião pública, além de analisar a influência de figuras como Edward Bernays e os irmãos Koch no desenvolvimento de estratégias de propaganda e controle social.

Resenha de “O Pobre de Direita: A Vingança dos Bastardos”

O livro “O Pobre de Direita: A Vingança dos Bastardos” de Jessé Souza busca desvendar as razões pelas quais uma parcela significativa dos pobres apoia a extrema direita, um projeto político que, em teoria, prejudica seus interesses. A obra argumenta que essa adesão não se explica pela mera irracionalidade ou por fatores superficiais como conservadorismo religioso. Em vez disso, o autor propõe uma análise profunda das raízes históricas e sociais desse fenômeno, com foco na construção de uma dominação simbólica que perpetua a desigualdade e a humilhação social.

O livro utiliza o racismo como conceito central para explicar a dinâmica social brasileira. O autor argumenta que, embora o racismo explícito tenha sido mitigado após a era Vargas, ele se mantém presente de forma cordial e dissimulada, manifestando-se como preconceito regional e cultural. Essa forma de racismo, que se esconde sob o véu da superioridade cultural branca e europeia, é fundamental para a legitimação da dominação de classe no Brasil.

A obra se estrutura em torno de alguns conceitos chave:

            Dominação simbólica: O livro explora como a elite brasileira, em especial a paulista, construiu uma narrativa histórica que a coloca como superior e legítima detentora do poder. Essa narrativa, disseminada através da educação, da mídia e da cultura, naturaliza a desigualdade e a marginalização dos pobres, especialmente negros e nordestinos.

            Racismo cordial: O autor argumenta que o racismo no Brasil se manifesta de forma sutil, disfarçado de preconceito regional e cultural. A elite branca do Sul, por exemplo, se coloca como superior aos nordestinos, associando-os à preguiça, à corrupção e à falta de inteligência. Essa oposição, que mascara o racismo racial, é fundamental para a manutenção da hierarquia social.

            Excepcionalismo Paulista: O livro analisa como a elite paulista, desde o século XIX, construiu um mito de superioridade baseado na figura do bandeirante. O bandeirante, associado ao pioneirismo e ao trabalho duro, seria a versão tropical do protestante ascético americano. Essa narrativa justifica a hegemonia paulista no Brasil e alimenta o preconceito contra outras regiões.

            Pobre remediado: O autor se concentra neste segmento social, que se situa entre a classe média “real” e a “ralé”. O pobre remediado, embora tenha acesso a algum conforto material, vive em constante insegurança social e busca, através da adesão à extrema direita, uma forma de compensação moral e distinção social.

            Moralismo regressivo: O livro examina como a religiosidade evangélica, especialmente a neopentecostal, oferece ao pobre remediado uma forma de compensação moral e autoestima. A rigidez moral e a demonização de grupos minoritários, como a comunidade LGBT+, fornecem um senso de pertencimento e superioridade a indivíduos que se sentem marginalizados e desprovidos de reconhecimento social.

A obra se aprofunda na análise da influência do neoliberalismo e do capitalismo financeiro na ascensão da extrema direita. O autor argumenta que a desregulamentação do mercado, a precarização do trabalho e o ataque à esfera pública criaram as condições para a disseminação do discurso de ódio e da manipulação.

“O Pobre de Direita” utiliza entrevistas com indivíduos de diferentes classes sociais para ilustrar os conceitos discutidos. Através dessas histórias de vida, o autor revela as motivações, frustrações e ressentimentos que impulsionam a adesão à extrema direita.

A obra conclui que o combate à extrema direita exige a desconstrução da dominação simbólica que a sustenta. A crítica ao racismo, a promoção da igualdade social e a reconstrução da esfera pública são apontadas como medidas necessárias para a construção de uma sociedade mais justa e democrática.

Em suma, “O Pobre de Direita” é uma obra instigante que desafia o leitor a repensar as raízes da desigualdade e da violência no Brasil. O livro oferece uma análise complexa e multifacetada do fenômeno da extrema direita, lançando luz sobre as motivações e frustrações que impulsionam sua ascensão.

* Cídio Lopes de Almeida, doutorando Ciências das Religiões, Faculdade Unida de Vitória, Bolsista FAPES.


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