O grau de M.'. Maçom
Prof. Me. Cídio Lopes de Almeida
Citação:
ALMEIDA, C.L. O Grau de M.’. Maçom. AMF3. Acessado em: https://www.amf3.org/2018/10/o-grau-de-m-macom
Não é novidade ou mesmo mistério que qualquer sociabilidade procure organizar as etapas de aprendizado dos seus membros. Antes, sociabilidade é o nome que se dá para qualquer grupo humano que se aglutina em torno de princípios filosóficos ou outros tipos de ideias.
Distingue da aglutinação de pessoas em torno de princípios religiosos, pois a ideia da religião, especialmente os três “monoteísmos”, implica disposições que excede à razão humana, o que demanda, por exemplo, práticas não lógicas tal como a submissão à princípios que não se captam, em última instância, pelo intelecto. Não lógico não quer dizer “irracionais”, bestiais, etc.
Não lógico quer apenas dizer que escapa à lógica da linguagem e não quer dizer algo abjeto, etc. Ainda sobre sociabilidade, para se distinguir de encontros ao acaso, de confraternizações esporádicas, de encontros num bar ou em torno da “pelada” de várzea, os indivíduos procuram cultivar uma série de dísticos, de paramentos (vestes), de termos (palavras), de memória e de motivos (justificativas) e é exatamente por isso que se pode denominar tal agrupamento de sociabilidade “ilustrada”; sendo o adjetivo ilustrada para reconhecer que até o encontro regular de um bar é, em última análise, um tipo de sociabilidade. Sendo a distinção da maçonaria, ao lado de outras como Eubiose, Lions Club, Rotary Club, Sociedade Teosófica, Antroposofia, o adjetivo ilustrada.
Retomando o assunto/tema desse texto, a Maçonaria procura de modo muito didático organizar as etapas de formação inicial em três estágios, sendo a última o dito “Grau de M.`. Maçom”. Anterior a ele temos dois outros, o de Ap.’. M.’. e o de Comp.’. M.’., que tratarei em outro texto, mas em resumo, tem-se logo que o novato chega no grupo um grau dedicado a informar as coisas elementares, seu funcionamento, seus materiais didáticos, e um conjunto de símbolos que serão arrolados ao longo da formação no intuito de “deduzir desses símbolos” fixos vários arranjos possíveis na vida cotidiana e intelectual, mas eles serão primeiro apreendido de cor, no estilo de aprender a matemática básica para depois passar a matemática avançada.
O segundo grau de formação, ainda em resumo e como vestíbulo do Grau de M.’. Maçom, é o de Comp.’. M.’. etapa em que se aprofunda naquilo que é o cerne dessa sociabilidade, isto é, “as artes liberais”, o que marca de modo indelével o caráter “liberal” da Maçonaria. Ela é liberal no estilo da Revolução Francesa ou da “Revolução Gloriosa (Países Baixos – Holanda). Retomarei isso mais adiante.
Como estratégia didática, nessa etapa de formação se mantém símbolos anteriores e se adicionam novos. Os símbolos desse grau são os mais amplos possíveis, pois é necessário albergar nessa etapa de formação o acesso a conhecimentos como a Filosofia, a Matemática (sobretudo a geometria analítica entre outros desdobramentos de filosofia da matemática), a História, a História das Ciências, a Teologia (Gnose), ou seja, o que se deseja cultivar nessa etapa, como é bem explícito no material didático do grau, é aquela ideia de homem do “Renascimento italiano” do homem que transita em vários domínios, sendo sempre evocado a mítica figura de Leonardo da Vince. Esse homem completo que não só pensa os meandros complexo das teóricas, mas executam em artefatos técnicos tal saber e ainda se faz como objeto dessas ideias no campo da ação moral.
Essa articulação nos encaminha para duas ideias, a primeira é a de homem integral, a segundo é a do militar. Retomaremos adiante em que sentido o homem é integral e porque isso implica uma disciplina da caserna. Nesse momento, o que importa aqui é dizer que tudo isso é objeto de estudos do Grau de Comp.’. Maçom, como pode ser encontrado no manual do grau em forma de indicativos, tal como “estudar as artes liberais”, isto é, essa simples indicação contém um amplo desdobramento. Depois dessa digressão, chegamos ao Grau de M.`. Maçom que é o coroamento de tudo dito anteriormente e alguns avanços que é de grau no sentido de maturidade.
Para compreender o Grau de M.’. Maçom não se tem dúvida de que ele está imbricado com o grau anterior. O M.’. Maçom é antes de tudo uma etapa de maturidade em informações adquiridas no grau anterior. Qualquer adulto já sabe que na vida temos uma fase na qual adquirimos informações e vamos arrolando elas, fazendo comparações, observando de pontos diferentes, até um ponto em que “damos um salto” e dominamos o assunto para além dessa o daquela informação. É nesse estágio que chegamos naquele tema à maturidade.
Nesse sentido o Grau de M.’. Maçom é incompreensível se o seu momento anterior não for bem “assentado”. A metáfora da construção cai muito bem, se começarmos a fazer uma parede na qual os primeiros tijolos forem maus postos, depois de algumas “fieiras” de tijolas, a parece vai abaixo. Dessa ideia podemos passar ao processo educacional no geral, a base sempre contribui para os processos seguintes.
Nesse sentido de que o Grau de M.’. Maçom depende do grau anterior, o mais apropriado é uma salutar demora no Grau de Comp.’. E mesmo que a curiosidade deseje nos jogar para o que tem depois, devemos compreender que se chegarmos lá, no grau 3, sem sedimentar vários aspectos formativos aqui, daremos um salto que irá nos cegar; chegaremos na nova etapa, mas deixaremos de ver vários elementos.
E esse “castigo” destinado aos apressados é o que mais motiva a deserção da Maçonaria. Aliás, como os entendidos já sabem, a parlenda envolvendo H.’. A.’. é exatamente isso. A curiosidade humana às vezes o leva a querer dar saltos falsos. Ao invés de querer ir para o grau seguinte a todo custo, como é relatado na lenda de H.’. A.’., tal desejo de saber mais deve ser voltados para dentro do próprio grau. O desejo de saber mais não pode querer falsificar a condição ou o estado em que se está.
Esse desejo quando mau trabalhado, perverte-se e passa a querer falsificar situações, a frustração gerada por ainda não ocupar aquele cargo ou estar apto a ser M.’. Maçom. Compete ao tutor do Comp.’. Maçom orientá-lo para que observando seus estados emotivos consiga associar tudo isso aos instrumentos do grau 2; operando um controle dessa “vontade” ou uma espécie de equilíbrio; trato provisório, com a vontade enquanto força “pulsional” (sic) existente em todos nós. Como é dito habitualmente nas reuniões, a “vontade” não se domina, mas no constante exercício vai-se criando uma disposição na qual a vontade manifesta em representações sociais.
Chegamos, finalmente, ao que é propriamente o grau de M.’. Maçom. Uma etapa na qual se tem por tarefa acompanhar e ser responsável pelos dois graus anteriores. Essa estratégia acaba por propiciar um segundo momento de revisão de conteúdos que definem o que é a sociabilidade Maçonaria. O participante desse grupo social se coloca em processo de aprendizado em dois movimentos.
No primeiro como sendo do grau, depois como sendo responsável por ele. Como é habitual na cultura vulgar, habitual, popular, se aprende ensinando. (ideia que apesar de sua nobreza é utilizada equivocadamente no que toca ao magistério; que o professor é um “folgado” que ao trabalhar “aprende” mais, como se isso fosse injusto.)
Espera-se do M.’. Maçom certo domínio do que vem a ser maçonaria, isto é, conceitos de liberalismo, filosofia, modelos de Estado, formas políticas, humanismo, iluminismo, certo cultivo de informações históricas, ou seja, domínio das “artes liberais”. Outros saberes que se espera do M.’. Maçom são da ordem prática vinculadas à organização social, que se dá, em primeiro lugar, na dinâmica da própria unidade local da Maçonaria, denominada de Loja. O M.’. M.’. deve ser aquela liderança capaz de aglutinar pessoas, administrar burocracias como conta de luz, água, aluguel, mensalidade, etc.
Como tutor dos novatos e Comp.’. Maçom ser capaz de solicitar trabalhos, portanto saber o que se pede; orientar a forma de ser feito, indicar bibliografias a serem lidas e, o que é mais importante, ser capaz de “projetar, implementar, executar e avaliar” um projeto pedagógico para cada grau de formação maçônica no âmbito da Loja.
Destarte, o presente texto, sintético, apenas indica. A título de comparação, no âmbito da formação eclesial da Igreja Católica em nossos dias, esse percurso dura, com dedicação exclusiva do candidato, algo em torno de 8 a 9 anos, isto tomando o que é de menor tempo vinculado as Dioceses (regiões administrativas da Igreja Católica que se inscreve em dada circunscrição geográfica, isto é, todas as igrejas dentro de 10 municípios). O crítico, com certa razão, logo dirá, “mas isso não forma “santos”.
Superando as emoções negativas que tal percurso longevo pode provocar aos leitores de primeira viagem, vamos verificar que é corrente entre teóricos da educação e dos mais recentes “gestores do conhecimento” ou ainda dos “Planejamentos de neurolinguísticas”, que a marca de 10 anos para se “formar” é corrente. Não se tem dúvidas de que para se “formar” é preciso, antes, se informar. E estamos em época de informação farta, porém, não basta informação. No caso as Igreja Católica, um contexto que conhecemos também, a complexidade que comporta a Igreja Católica, suas várias instituições e todos os processos humanos envolvidos nelas, exige que se tenha quadros muito qualificados, sem o qual seria impossível a gestão desses processos e sua amplidão em termos de lugares e de tipos de serviços prestados aos mais variados contextos sociais no mundo se reduziriam drasticamente.
O M.’. Maçom não pode se contentar com uma rotina simplista e às vezes “externa” do que é ser maçom. Seu ponto de referência não será o vulgo, mas uma teia articulada de saber que é apresentada de modo sintética em manuais; utilizados em formas de pílulas semanais e que devem ser aprofundadas ao máximo. Sob pena de um M.’. Maçom ser um externo a algo que se diz ser membro privado.
E por essa superficialidade não conseguir nunca compreender em que sentido os saberes dessa sociabilidade poderão auxiliar na vida cotidiana. Não só no que toca às coisas da vida cotidiana, mas o viver no cotidiano; os dilemas da existência não só do ponto de vista de “qual instrumento” utilizar para essa ou aquela situação, mas quais aspectos da minha existência precisam ser investigados ou mobilizados nessa ou naquela situação.
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