O doença da decomposição

O doença da decomposição
A analise que uma formação em filosofia ou nos demais cursos de ciências sociais e humanas nos dão pode ter efeito perverso na vida de seus cultores. 
Esse gosto que é decompor realidades complexas, explicar quais são suas causas, desvendar as ideologias, denunciar os meios de comunicação que contam versões dos fatos que não coincide com os mesmos fatos percebidos pela maioria, etc… tudo isso dá uma sensação de poder fantástica. 
Porém, tal postura de investigação do real cria duas situações. A primeira me parece igual ao paradoxo de “Aquiles”, ideia levada a cabo por Zenão, na qual o hábil corredor e herói grego nunca sairia de um ponto A e chegaria ao ponto B, pois ele teria que percorrer o ponto médio entre A e B. E assim o paradoxo nos leva a se perguntar pela metade, até o infinito. O que impediria de Aquiles chegar ao ponto B. 
O excesso de analise que tais conhecimentos nos propiciam pode causar em nós tal paralisia. Não agimos, pois temos sempre que fazer uma analise… 
O segundo efeito do processo de excessiva analise é o desencantamento do real. Movimento notado por Max Weber sobre os efeitos da ascensão de um conhecimento técnico e de dominação da realidade.  O saber que nos importa a nós modernos é o saber que seja útil. E em nossos dias, de capitalismo ao extremo, o saber mais importante é o que “dá dinheiro”.  Ora, nesse contexto, os analistas tendem a não encontrar motivos para agir no real. O que gera uma paralisia por tédio. 
Quero lembrar sobre essa inação o filósofo Nietzsche e uma citação sua na obra “O nascimento da tragédia”. Nela o autor cita dois tipos de não ação. Uma de Hamlet e uma outra de um tal “João bobo”. Contudo o filósofo do grande bigode faz uma distinção dessas duas não-ação. Hamlet, a personagem de Shakespeare, não age por ter visto a natureza desoladora das coisas. Ao contrário, o João bobo não age por se ver imobilizado diante tantas possibilidades, que ele acredita serem todas suculentas. 
Hoje em dia temos esses dois modelos. O artista trágico, Hamlet, somos todos nós com formação nessas áreas “inúteis”, pois pela analise percebemos o vazio da sociedade técnica. Não vemos encantos na planilhas; não sentimos que seja um projeto humano decente se contentar com as ilusões e ideologias disseminadas. Portanto, nosso real é sem encanto, é destituído de todo sentido ordinariamente dado, pois todos eles são ideologias dos meios dominantes. Agir é se submeter a tais falsidades, é pagar tributo para o grande capital. 
Doutro lado temos outro tipo de não ação, que é a inação das massas de consumo. Paralisada diante das promessas do último “iPhone”(ou qualquer outro brinquedinho eletrônico), das miríades de consumo; paralisada para pagar os juros de cartão de crédito (que tem média de 400% ao ano; mas que em alguns casos chega a 700%; tudo isso naquelas eternas prestrações…) 
Assim, é preciso retomar aquele ímpeto do movimento filosófico em solo alemão denominado de Romantismo ou de “ímpeto e tempestade”. É preciso fazer o que  Tieck nos indica, “tornar estranho o comum”. Reconhecer o papel secundária da razão, a exemplo de Schopenhauer e Nietzsche…. mas isso é outra história, i.é. muito difícil levar uma vida irracional, da mesma forma que a cultura da paz de Gandhi não é mero aceitar as agressões de cabeça baixa. Precisamos de outra escola, pois não é mero contrário, pois as massas já vivem em uma irracionalidade e já sabemos quais são os efeitos. O caminho é outro…. apresentarei em outro texto. 
  


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