O Declínio Inevitável da Maçonaria: Uma Análise sobre Desconexão, Envelhecimento e a Perda de Relevância no Século XXI

O Declínio Inevitável da Maçonaria: Uma Análise sobre Desconexão, Envelhecimento e a Perda de Relevância no Século XXI

O Declínio Inevitável da Maçonaria: Uma Análise sobre Desconexão, Envelhecimento e a Perda de Relevância no Século XXI

 

A maçonaria, como instituição, caminha rumo ao seu declínio, e é plausível prever que ela tenderá ao seu fim em não mais que 50 anos. Nos dias atuais, a maçonaria demonstra uma incapacidade de dialogar com o tempo presente, manifestada de duas formas principais: a falta de uma discursividade sintonizada com as questões contemporâneas, como se verifica na literatura produzida por seus adeptos, e a ausência quase total de jovens em seus quadros. Essa desconexão com o presente e com as novas gerações aponta para um futuro incerto e limitado.

Como forma de sociabilidade, a maçonaria também enfrenta desafios estruturais. Ela não possui uma fonte de renda própria, derivada de ganhos de capital, aluguel ou prestação de serviços à sociedade. Seus membros não constituem uma classe profissional de maçons; todos são amadores, participando da instituição como um hobby. Além disso, a maçonaria não mantém uma conexão significativa com a vida social por meio de obras sociais, educativas ou de saúde, o que a impede de estabelecer uma relação material e simbólica capaz de atrair e formar novas gerações de adeptos. O elevado número de membros acima de 60 anos é uma prova objetiva desse desligamento. Por exemplo, em uma potência maçônica como a GLESP (Grande Loja do Estado de São Paulo), a média de idade é de 60 anos. Considerando que a expectativa de vida média do homem brasileiro é de 74 anos, em aproximadamente 14 anos, metade dos membros atuais terá falecido. Isso coloca a maçonaria em uma posição frágil, tornando-a uma instituição voltada quase exclusivamente para idosos, sem projetos concretos para o futuro. Para esses membros, a fruição no momento presente é o que importa, e isso é compreensível e legítimo.

Esse papel humanitário de acolhida e sociabilidade entre pessoas seniores é, sem dúvida, nobre e elevado. No entanto, para a sobrevivência da instituição, seria essencial a presença de uma geração mais jovem, capaz de estabelecer uma solidariedade intergeracional. Sem essa renovação, os próprios idosos enfrentarão dificuldades, já que não haverá quem os auxilie nos limites impostos pela idade avançada. A maçonaria, portanto, corre o risco de se tornar uma instituição incapaz de sustentar até mesmo seus membros mais antigos.

Ao olharmos para o passado da maçonaria, especialmente nos últimos 100 anos, percebemos que ela se transformou em um bastião de sociabilidade conservadora, funcionando como uma plateia para pensamentos antiquados e desconectados do movimento dinâmico da vida. A instituição perdeu sua relevância como espaço de produção e troca de conhecimento de vanguarda. Ecoa todo tipo de pseudoconhecimento. É necessário investigar, para compreendermos essa modificação de um fenômeno de vanguarda no século XIX para o de conservador no século XX, em que medida a ascensão da elite industrial paulista e a criação da Universidade de São Paulo (USP), com sua influência intelectual ligada à pensadores de França e de Itália, contribuíram para marginalizar a maçonaria, que permaneceu vinculada às antigas oligarquias rurais. Esse deslocamento histórico parece ter deixado a maçonaria para trás, em um processo de decadência irreversível. Ser capaz de levantar essa hipótese e olhar para si, precisa romper o aguerrido espírito por vezes semelhante à disposição religiosa em geral de recém conversos, que não suportam qualquer tipo de questionamento da sua fé.

Hoje, a maçonaria tornou-se uma associação decadente e caricata, onde a celebração de figuras do passado ocupa um lugar central, em detrimento de uma realidade imediata na qual a discursividade franca entre os adeptos não consegue promover ações na realidade segundo os seus ideais iluministas e humanistas. A realidade imediata mostra-se distante das suas aspirações. Seus membros, em sua maioria, não são virtuosos em seus campos pessoais ou profissionais [essa própria escriba tem noção desse lugar marginal]. Afinal, se o fossem, estariam usufruindo os louros de suas conquistas, e a maçonaria provavelmente seria vista como um empecilho. Olhando para essa trajetória, é possível afirmar que a maçonaria terá um fim certo e inevitável. Nada parece capaz de reverter esse processo. No futuro, ela ecoará apenas como um fenômeno social que existiu, com seus rituais e práticas eventualmente estudados como objetos de interesse acadêmico. Um exemplo análogo pode ser visto na Igreja da Humanidade de Auguste Comte, no Rio de Janeiro, cuja sede hoje se encontra em ruínas, com o teto desabando por falta de manutenção e de pessoas que mantenham viva sua chama. A maçonaria, assim, parece destinada a seguir um caminho semelhante.

 

No século XXI, o conservadorismo que ainda conferiu algum fôlego à maçonaria ao longo do século XX perderá definitivamente seu lugar. A era digital, marcada pelo uso massivo da internet e pela transformação radical de como se estuda, trabalha, comunica e interage, criou um novo paradigma social e cultural, no qual instituições fechadas e hierarquizadas, como a maçonaria, não encontram espaço para se reinventar. A velocidade das mudanças tecnológicas, a democratização do conhecimento e a emergência de novas formas de sociabilidade, mais abertas e dinâmicas, contrastam profundamente com a estrutura rígida e ritualística da maçonaria. Novos rituais, novos símbolos, novas iniciações, irão surgir nesse contexto. Enquanto o mundo avança em direção a uma conectividade global e a uma cultura de inovação constante, a maçonaria permanece ancorada em práticas e valores que não ressoam com as gerações mais jovens. Assim, a combinação entre o envelhecimento de seus membros, a falta de engajamento com as questões contemporâneas e a incapacidade de se adaptar às transformações do século XXI selará, de forma irreversível, o destino da maçonaria como uma instituição cujo fim não é apenas provável, mas inevitável. Restará, talvez, apenas o seu legado histórico, como um objeto de estudo para aqueles que se dedicam a compreender os fenômenos sociais do passado, sobretudo dos aspectos que ligaram a maçonaria a ideais de democracia liberal, como o laicismo do estado. 


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