RESENHA
[anotações de estudo pessoal, sem revisão por pares]
Cídio Lopes de Almeida*
HIVERT-MESSECA, Gisèle; HIVERT-MESSECA, Yves. Femmes et Franc-maçonnerie: Trois siècles de franc-maçonnerie féminine et mixte en France (de 1740 à nos jours). 2. ed. Paris: Éditions Dervy, 2015.
Resumo
A obra examina a história das mulheres na Maçonaria francesa, desde o século XVIII até o século XX. Diversos artigos acadêmicos, conferências e documentos históricos são citados, abordando a criação e evolução de lojas de Adoção, rituais específicos para mulheres e o debate sobre a inclusão feminina na maçonaria. A pesquisa explora diferentes abordagens, incluindo a análise de rituais, a participação de mulheres influentes e as reações da sociedade e da própria Maçonaria masculina a essa presença feminina. O texto também aborda a criação de obediências maçônicas mistas, explorando a trajetória dessas organizações e suas implicações sociais e políticas. Finalmente, a análise se estende até a formação de organizações exclusivamente femininas, mostrando uma evolução complexa e multifacetada da participação das mulheres na Maçonaria francesa.
A Obra
O livro “Femmes et Franc-maçonnerie: Trois siècles de franc-maçonnerie féminine et mixte en France (de 1740 à nos jours)”, de Gisèle e Yves Hivert-Messeca, publicado em 2015 pela Éditions Dervy, oferece um estudo aprofundado sobre a história da participação feminina na maçonaria francesa ao longo de três séculos. A obra explora as complexas relações entre mulheres e a maçonaria, desde as primeiras tentativas de participação até o estabelecimento de lojas mistas e femininas.
O livro aborda inicialmente as origens da maçonaria e as razões da exclusão feminina, destacando as Constituições de Anderson e outras obrigações antifeministas que definiam os membros das lojas como homens “de boa reputação”, livres e de idade madura. A curiosidade feminina em relação aos segredos maçônicos e as tentativas de ingresso, muitas vezes através de subterfúgios, também são exploradas. A obra examina as primeiras manifestações de maçonaria feminina, como as Lojas de Adoção, que representaram um primeiro passo para a emancipação feminina dentro do contexto maçônico. Essas lojas, embora inicialmente limitadas em seu escopo e função, proporcionaram às mulheres um espaço para rituais e sociabilidade, e são vistas como um prenúncio de movimentos mais igualitários.
A obra discute o papel de figuras como o Chevalier Ramsay, cujos discursos inicialmente sugerem a necessidade de manter a pureza das lojas masculinas, impedindo a entrada de mulheres. No entanto, o livro também destaca que as ideias de Ramsay influenciaram o desenvolvimento de uma visão mais inclusiva da maçonaria, onde as mulheres poderiam ser vistas como participantes de pleno direito. Paralelamente, são analisados os diversos sistemas de adoção, como o rito dos Mopses [vidente mítico da Grécia Antiga], que atraiu tanto homens quanto mulheres e apresentava rituais mais flexíveis e com aspectos mais lúdicos, como a utilização de adereços caninos nas cerimônias.
A análise continua com o desenvolvimento da maçonaria mista, com foco na criação do “Le Droit Humain” por Maria Deraismes e Georges Martin. A obra detalha a luta pela igualdade de gênero dentro da maçonaria, opondo-se à visão de uma maçonaria exclusivamente masculina. As contribuições de Deraismes, suas conferências sobre temas feministas e sua iniciação são analisadas, mostrando seu papel pioneiro na luta pela inclusão das mulheres na maçonaria. O livro também debate a questão dos graus maçônicos recebidos por Deraismes, argumentando que ela teria recebido apenas o grau de Aprendiz, apesar do reconhecimento como Mestra.
O livro também aborda as diferentes visões e as divergências entre as obediências maçônicas sobre a admissão de mulheres. É discutida a criação da Grande Loja Simbólica Escocesa (GLSE), que, embora inicialmente resistisse à iniciação feminina, acabou por se tornar um importante centro de pensamento feminista dentro da maçonaria. As análises de outras obediências, como a Grande Loja da França (GLDF) e o Grande Oriente da França (GODF), também são apresentadas.
Além disso, o livro explora a evolução da maçonaria de adoção, seus rituais, seus símbolos e sua importância como espaço de sociabilidade e emancipação para as mulheres. O papel da família e a educação das mulheres também são temas recorrentes ao longo da obra. A obra discute o “Temple des Familles“, uma iniciativa maçônica que buscava integrar as famílias nas atividades maçônicas, mas que também gerou controvérsias.
O livro também trata da influência do Iluminismo e dos ideais republicanos na emancipação feminina dentro da maçonaria francesa, mostrando como os valores de liberdade, igualdade e fraternidade se estenderam à causa da igualdade de gênero. Além disso, a obra discute os desafios e os conflitos enfrentados pela maçonaria mista, incluindo o cisma na GLSE e o surgimento de novas obediências. É abordado o papel das mulheres no desenvolvimento de debates sobre laicidade e igualdade social dentro das lojas.
Finalmente, o livro conclui com uma análise das transformações na maçonaria feminina e mista no século XX, com um olhar sobre as figuras femininas que tiveram um papel fundamental na história da maçonaria feminina e mista, como Louise Michel e outras. A análise da obra demonstra como a maçonaria foi um espaço de luta e debate em torno da participação feminina, e como as mulheres, gradualmente, construíram um lugar institucional enquanto fenômeno maçônico, influenciando os rumos da sociedade onde estavam situadas.
Em suma, “Femmes et Franc-maçonnerie” apresenta uma análise da história da participação e construção do que seja o fenômeno maçonaria feminina em França, explorando as complexidades, os desafios e as conquistas desse processo ao longo de três séculos. A obra é um ponto inicial para compreender a relação entre maçonaria e feminismo na França, mostrando como a busca por igualdade de gênero foi um tema constante e presente desde os primórdios desta construção da maçonaria mista.
*Doutorando em Ciências das Religiões, Faculdade Unida de Vitória, bolsista FAPES.
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