Morar em Portugal

 (Revisado dia 15; 20:21)
Guia completo
sobre morar em Portugal.
Excelente
trabalho feito por Carlos Batista
, no qual o autor nos
fornece informações preciosas sobre migrar para Portugal, tais como documentos necessários,
locais para se solicitar documentos, sites, etc
. No link você encontrará
mais informações e como adquirir o livro/video completo. 
Resumo:
Série de textos sobre migrar para Portugal.
Pretendo tratar dos problemas e das vantagens desse processo que me parecer ser
inerente à condição de nós humanos desde os primórdios.
 Uma reflexão breve. 
  
MORAR EM PORTUGAL
Introdução
Morar
em Portugal não é um fenômeno social recente, por mais que hoje exista na
internet uma alta na procura por textos, vídeos, entre outras informações, tal
fato vem de outras épocas.
                               
Existem
várias maneiras de abordar o tema. Vou dar preferência em começar pela
atual classe média interessada em migrar para Portugal. Sendo mais preciso,
espero, em linhas gerais, falar um pouco de quem são os atuais migrantes,
sobreuto os falados na internet. Na sequência desejo falar de outro perfil
social que migra para Portugal desde as decadas de 1980 e 90. Para o final,
dizer um pouco sobre o próprio interesse português em migrar, que pode ser
notada em várias épocas das história.
Adianto,
como uma hipótese, que no caso dos migrantes procedentes da região de
Governador Valadares, que vem desde os anos 1980, há algo de lusitano nesse
movimento. Aquela mesma região tem um forte elemento português, que ali se
instalaram nos fins dos anos 1890 até 1930, datas aqui escolhidas a partir de
algumas leituras, especialmente no livro Sertões do Rio Doce do Professor
Haruf. (Existe outra fonte, da Prof. Maria Rodrigues. Assim que estiver com o
livro em mãos farei a citação completa.)
Em
termos acadêmicos indico o link:
 https://journals.openedition.org/lerhistoria/1936 no qual temos um artigo bem elaborado sobre o
fenômeno da migração em Portugal, ao menos uma faceta desse fenômeno que
perdura desde os “descobrimentos”.
O
presente texto está mais para a divulgação científica, portanto, não espere
dele certos detalhes, ele é mais geral.
A
classe media ou Luana Piovani.
O
desafio de divulgar conteúdos científicos e fazer com eles
sejam “atrativos” é que nos leva a tomar alguém singular para introduzir
algo mais geral. Talvez seja por isso que uma personagem pública como Luana
Piovani apareça aqui, pois nas vagas de internet, que são no geral injustas, o
nome da atriz brasileira aparece como morando em Portugal. Se isso é verdade ou
não, teríamos que verificar ou “checar”. O fato que nos interessa é saber
que uma figura pública catalisa toda um traço de classe social. A
classe média brasileira dos grandes centros urbanos. Ademais, como pessoa e
cidadã a mesma tem direitos de morar onde a mesma escolher; não importando se
isso é “politicamente correto”.
Deixemos
Luana de lado, concentremos nos “novos migrantes”, pois será esse público
que penso ser os protagonistas de um tipo de “brasileiro trapaceiros” das filas
bem-comportadas dos “gajos”. (O que diria os Tupinambás dos Gajos?) Trata-se de
uma classe média-media que, como toda classe média, tem acesso a bens culturais
e uma certa renda financeira; além de um certo tipo de trabalho intelectual (mental).
Essa classe, que está entre o rico e o pobre, vive certos
augúrios, certos pavores. Vê o andar acima, mas sente concretamente o andar
debaixo. De um lado ela usufrui certos bens culturais e materiais e deseja
mais; doutro tem observado que tais “lugares” estão em risco.
Essa
sensação foi aumentada, curiosamente, por uma via que poucos compreendem. Foi
exatamente o aumento desse acesso, o aumento dos prazeres, que fezeram aumentar
o desespero. Portanto, o desejo dessa turma em migrar não foi por
uma privação, mas foi pelo aumento da experiência em ser classe média. Tal
experiência, entretanto, também a fez notar que num país tão injusto como o
Brasil não é algo estável possuir certos bens, acessar certos serviços. Pode-se
perder muito rápido vários “lugares”. Concomitante a isso, o aumenta da
sensação e da realidade de insegurança social generalizada colocou e coloca
sempre em evidência o risco e a tensão de que tudo pode acabar. E concretamente
muitos perderam tudo, pois foram vitimas de assassinatos, etc.
Para
alguns “leitores do Brasil”, como Jessé Souza, ocorreu que ao ascender
socialmente várias classes subalternas em termos econômicos, tal feito socialista,
mexeu com um fantasma entre nós chamado “escravidão”. Nos governos de Lula, um
pobre e nordestino, houve ascensão econômica geral. Não só pobres
tiveram melhorias, mas certos setores da “classe média”
experimentaram ganhos. Mas foram ganhos provisórios, como agora
estamos vendo.
Mas
quando estava “quase todos ganhando”, um fantasma surgiu nesse
processo. O fantasma gestado e mantido dentro do baú de
nosso “pré-consciente” chamado de “escravidão”. Esse fantasma é
complexo, por aqui direi apenas que tal fantasma fez ressurgir a luz
do dia o “ódio de classe”. Ele sempre esteve ali escamoteado,
escondido. No qual pessoas se sentem “melhores” que outras
e é ultrajante ser misturado com elas. Viajar junto com um “negro”; ter
que enfrentar filas em aeroportos para voos nacionais; viajar para as praias do
Nordeste ao lago de “uma negra e emprega doméstica”. Esses fatos colocaram em
jogo algo que se mantinha de modo injusto e abafado. Essa classe média-media,
que na explicação de Jessé Souza, sempre fez de tudo para não ser confundida
com os escravos, não suportou estar ali lado a lado.
Vale
uma nota, apesar de ter havido um ganho financeiro no referido governo
Lula, setores inteiros ficaram de fora. Exatamente a classe média; naquela
festança toda, setores como professores de escolas públicas, que
juntos facilmente superam a população inteira de Portugal, não
experimentaram ganhos. O consumo como sinal de melhoria de vida na verdade
atuou como um desestimulador da “via dos estudos”, que é privação,
contenção, etc. Nada de deleite louco. Ademais, o “novo consumidor” não respeitou
aquelas regras de ouro da “classe média”, que é a aceitação de alguns jogos; de
fato, o planejar, o guardar, etc. Os “novos
classe média”
do consumo eram “desvairados”. (Em outro texto abordarei
melhor esse tema apresentado por Pierre Bourdie) Isto colocou em cheque a
mitologia de todo um setor que sempre acreditou que “há sim uma meritocracia”;
que “vale estudar para ascender socialmente”, que “fulano merece, pois ele fez
por onde”.
Pois
bem, é o setor mais privilegiado dessa classe média que deseja migrar, portanto
o mais crente nos jogos da classe media. Sobretudo aquela que tem empregos no
governo Federal, pois nesse setor dos serviços públicos se paga melhor do que
os demais. Dentre eles, destacamos que os ligados à Justiça pagam ainda melhor. (ver matéria aqui ) No computo geral, certamente dentre esses há um número elevado em migrar para
Portugal. Há, temos exceção. Professores de escolas públicas, especialmente dos
Municípios e dos Estados da Federação, são as profissões que menos pagam;
ganham menos em geral do que o setor privado; além de condições de trabalhos
semelhantes à de carcereiros prisionais, pois estão também sob constante ameaça
de violência, etc. (ainda sobre salários do judiciário aqui tem mais)
Resta
ainda explicar porque essa classe média procura Portugal. Sabemos que entre as
elites brasileiras o sonho de consumo é “Mime”, aquele
lugar “limpinho, organizadinho, que fala inglês, e até parece as praias do
Brasil”. Como, então justificar Portugal?
Se
formos fazer uma escala de preferência temos USA no topo, “aquele lugar
que é um paraíso na terra”. Frequentado pelas elites e
massivamente “idealizado por todas as classes” como um lugar muito
legal (bom). E a classe media é a que mais idealiza; fazendo até rifas para
viajar para a Disney.
Portugal,
ao lado do próprio escárnio cotidiano que a maioria dos brasileiros dispensam, não entra
nessa lista. Antes dela temos várias outras referências, como
a Itália, dado a presença de ítalos-descendentes, Alemanha,
Inglaterra. Outros países, por mais importantes em vários setores, como a
França, só interessa a um pequeno público; aos aqui moram e tem laços
históricos diretos, tais como russos, ucranianos, etc.
A afirmação acima vale
uma nota. Sim, como luso-descendente sei muito bem que ao dizer-se como tal a
primeira coisa que vem são as brincadeiras que sempre chegam no fato de serem os portugueses pessoas burras.  Claro, no Brasil você pode sair em praça pública a perguntar isso e não irá
obter respostas positivas. Como já foi feita
pesquisas com a pergunta: Você
é racista? Para surpresa ninguém assume como tal, no entanto, o
Brasil, especialmente grandes cidades, tem índices de
extermínio de jovens negros. A mesma questão pode
ser posta para os homossexuais, o machismo e teremos sempre pessoas dizendo que
não são; mas os números de violência doméstica, a violências contra travestis, etc, são
alarmantes. Parece que estamos a falar de dois lugares. Como num pais em que as
pessoas não são racistas, mas que sempre conhecem alguém que é, temos números escandalosos de assassinatos de negros?
Pois bem, avançando um
pouco mais, temos a certeza de que Portugal de fato
não é o lugar almejado por todos os brasileiros.
Pessoalmente ainda não teria uma opinião sobre porque
motivo esse súbito interesse daqueles que sempre sonharam com Mimi.
Enfim,
sobre essa classe e sobre o atual amor por Portugal são esses os
rabiscos.  Em conclusão podemos dizer que a classe
média desejosa de cruzar o atlântico é fruto de uma reação ou
emergência de um problema que nunca procuramos resolver. A saber, os efeitos
colaterais da escravidão entre nós. O tema é “raivoso”, levantará
rubores de ódio; peço calma e indico os livros de Jessé de Souza como forma de
aprofundarmos no tema. Dentre os títulos, indico, então, os seguintes: “Subcidadania
Brasileira”, “A elite do atraso: Da escravidão à Lava Jato”, a ideia não
culpar a “Luana Piovani” ou a “Maitê Proença”, não é assim que
se resolve questões de Estado. Questões de Estado se resolvem com “Políticas
Públicas”.
Livro
A elite do atraso…
Governador
Valadares e os migrantes
Governador
Valadares nos remete apenas à cidade no Leste de Minas. Não lembramos mais
em que foi o dito governador das Minas Gerais (Benedito Valadares). Sua
população chega aos 245mil habitantes. Para quem, incluindo os
conterrâneos, quiser conhecer a fundo essa região, sugiro o trabalho do
Prof. Dr. Haruf Salman Espindola. O Sertão do Rio Doce.
Sobre
essa região, para além do duro processo de “tomada das terras dos
indígenas”, há uma presença muito forte de luso-descentes. Os lusitanos tiveram
por aqui a característica de não se diferirem dos locais; são
totalmente assimilados e já na geração dos filhos tal
herança cultural tende a passar por não ser algo diferente; vira-se
brasileiro. O esquecimento segundo o filósofo Nietzsche (Alemanha +-
1870) é tratado como um bom traço cultural, pois é preciso esquecer
um pouco; para sobrar espaço para o novo. Além desse esquecimento, os lusitanos
que por cá chegara também detinham o traço de serem capazes do rotineiro e duro
trabalho rural.
           
Será
dessa cidade o núcleo inicial da migração para Portugal. A piada que a
cantora fadista Ana Bacalhau faz ( https://youtu.be/E5IyOAeJ5WE ),
remete a essas pessoas, pois não é a classe media que irá ser “doméstica,
garçonente, camarareira” lá em Portugal. 
A
região de “Valadares” é conhecida nacionalmente como o lugar dos migrantes para
os EUA (U.S.A.). Até houve uma propaganda em rede nacional que brincava com
esse fenômeno. Fato que fez a Prefeitura da cidade em solicitar na Justiça a
retirada da mesma.
Migrar
para Portugal nessa região apareceu como uma terceira via. Portanto,
migrar parece ser um traço que é compartilhado com Portugal.  Houve nos fins dos anos 70 e início dos 80 um
ensaio de migração para as regiões Centro-Oeste do Brasil. Na época foi
incentivado tal mobilidade dos nacionais por ideologias dos militares no poder.
Era preciso “colonizar o Oeste”. Havia muita gente sem terra no Leste e muita
terra sem gente no Oeste. Assim era o lema; que fez muitos gaúchos
(maioritariamente brancos) irem para Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rondônia
e Goiás. Nessa leva, tenho até parentes, além de amigos, que vivem no Mato Grosso
e Rondônia.
Mas nos
fins dos anos 80 e início dos 90 o assunto era só um. Talvez pelas notícias
de que a vida no Oeste era de fato mais dura do que se esperava; rendimentos
incertos; cobras que comiam gente, onça, etc. Foi aí que entrou outro vetor de
migração. Na verdade ele já existia ao menos desde os anos 1960 – 70; mas será
nos anos 1980, sobreuto na parte fina (1985-1989) que tomará força.
 Nos fins dos anos 80 e início dos 90 todos
tínhamos alguém da família lá. E todos lá estavam de modo ilegal. Era raridade
alguém ir “legalizado”. Por isso meso que ao consultar os dados na internet,
consta que nesse período havia meros 27 mil migrantes, não sei de onde são
esses dados; se são de pessoas oficialmente migrantes; sabemos, por sermos
da região,  que os números são
outros; sobretudo que “todos” temos a experiência de conhecer
alguém que “foi” ilegal. Lembro, de dados informais, que nos USA
haviam mais de 600 mil brasileiros, só na região de Boston. Logo,
esses migrantes ilegais não são os filhos da classe media em intercâmbio, que
já são fluentes em inglês; São pessoas ilegais, que vão “pelo México”, que lá
trabalham em dois empregos; na construção civil, de domésticos, jardinagem,
lavador de pratos, cortador de tomates para pizzas no “Pizza Uno”(Rede de Lojas
em Boston).
Portugal,
que é nosso tema central aqui, começou a ser cogitado nos anos 90 em
função de ser muito arriscado ir ilegal para os USA. E foi nesse contexto que
migrar para a Europa se tornou outro movimento; que ocorria junto ao de “ir
para a América”. O desejo verdadeiro era conseguir o “visto” para se ir legalmente
para os EUA. Conheço, aliás, brasileiros, amigos, que após uma longa temporada
em Portugal, obtendo a nacionalidade, a primeira coisa que faz foi migrar para
o Canadá ou os EUA.
O
movimento para os EUA era tão forte, que Portugal entrou na reta como, quem
sabe, um atalho. Nesse mesmo sentido é que podemos entender a brincadeira da
cantora portuguesa, na qual uma garçonete brasileira fala inglês. No fundo
ela queria estar em Boston, não em Lisboa. Claro,
Ana “Bacalhau” me parece ser uma excelente artista e que
tem um carinho muito especial por nós brasileiros. Sua brincadeira é
apenas uma brincadeira; claro, fica o convite para ela conhecer Valadares e
apreender de fato o “sotaque do Leste”. (Tô doido sô… rssss)
Quem
era esse migrante? Certamente ele não tinha e ainda não tem ligações com
aquele grupo da categoria Luana Piovani. Até mesmo o português falado tem
diferenças. Estamos “a falar” de pessoas viventes numa cultura regional; sem as
questões das grandes cidades. São, muito frequente,
trabalhadores rurais. A maioria, nunca havia viajado até Rio de
Janeiro e São Paulo ou mesmo Belo Horizonte. Quantos foram
conhecer “escada rolante” em Boston?
Estamos
falando de um processo de migração que rompe o fluxo mundial de migrantes, que
no geral obedece “sair de uma região nacional até uma metrópole nacional”.
E só depois, dessa cidade já grande, para fora do Estado.
O
fenômeno em Valadares não se restringiu a “princesinha do vale”.
Rapidamente passou para as cidades vizinhas e com um tempo, foi fazer eco entre
os migrantes do Leste de Minas que estavam lá em Goiás, Mato Grosso e Rondônia.
Todos esses migrantes são ou de Valadares ou dessa rede de valadarense
aqui no Brasil.
Hoje,
se eu fizer uma rápida lista de amigos que estudaram o Ensino
Médio (15 – 17 anos) comigo, entre os anos de
1993-1994; amigos que já havia estudado todo o Ensino Fundamental II
(10 – 14 anos); sem medo de errar posso dizer que 90% deles
moram nos EUA ou em Portugal. A moda mais recente é o Canadá.
Portanto,
a face da migração e o interesse em Portugal tem ao menos dois lados.
Penso que muito importante notarmos isso. O que mais vejo em Portugal ou
nos vídeos sobre o tema é a reclamação de
um “brasileiro” que não é esse de Valadares. Habitualmente
certas descrições parecem mais caber à uma classe média arrogante;
que historicamente confundiu “direito” com
privilégio e desconhece o que é “dever”. Que por aqui sempre
teve “emprega doméstica”, essa prática com estreitos laços com
a escravidão. E sempre acha um “absurdo os ladrões do PT”,
etc.
Essa
classe que não consegue, por exemplo, ver a contradição de seus amores por
Portugal e ao fato de ser esse país governado por um socialismo igual
ao do PT entre nós.  Os valadarenses que foram para Portugal tem
perspectivas totalmente diferentes desses. Esses arrogantes lá estão para
viverem de “renda”, e preferencialmente manterem seus costumes de deleitar as
coisas boas da vida. Os outros estão lá porque cá tem pouco e quase nada. Detém
penas a força física de trabalho. Por lá encaram serviços de pedreiro,
garçonete, cozinha de restaurantes, etc. Mesma postura dos portugueses que ainda
hoje migram para França, Suíça, Alemanha, entre outros.
Exceções existem
em tudo que foi dito acima. É certamente todos nós conhecemos uma. Porém,
creio que os traços gerais auxiliam aos interessados a construir melhores
relações humanas entre as diferenças sociais. Não posso, por exemplo,
tomar um longo documentário da TV 5 Monde, francesa, sobre um caso de estupro
seguido de morte que ficou sem solução a muitos anos, creio que mais de 20, e
que foi solucionado; sabendo-se que o autor era um cidadão português. Ninguém
em França diz que português seja algo pejorativo, ao contrário, são muito bem
quistos e estão presentes massivamente na construção civil, nos hotéis de
Paris, etc. Portanto, o desejo do texto é indicar que é preciso ir um pouquinho
além dos estereótipos para estabelecermos relações culturais verdadeiras;
orgnânicas, autênticas. Ficar nas ideias gerais do que seja um português, um
brasileiro, um romeno, um polâco, não nos auxilia nisso. Ao contrário,
atrapalha.
Migração
em Portugal
Os
portugueses, ao lado de espanhóis, no contexto da Europa, parecem ser o povo
que mais migraram nos últimos 500 anos. Os motivos variam, pois, toda época
há um bom motivo para tal. Claro, tal ideia pode ser uma sensação. No
contexto da industrialização, que foi uma revolução a mexer profundamente em
toda Europa (+- 1845), temos modificações por todos os lados; como resultado
colateral temos amplos contingentes de pessoas a viverem de forma miserável nas
cidades. Nomes como Turim, Lyon, Manchester, etc nos lembra que houve aí
situações humanas muito deploráveis. O que motivou migrações para o “Novo Mundo”
de todos os lugares.
Os
cidadãos de Portugal migraram para o Brasil ao longo de 500 anos. Em cada época
temos um motivo e seguimentos da população. Se em primeiro momento era algo
mais rústico, mais exigente, ao passar dos tempos as cosias foram ficando mais
seguras. Podemos, sem medo de errar, dizer que nos últimos 300 anos houveram
sucessivas levas de migrações. Com o funcionamento regular do navio Inglês dos
Correios (+- 1900), que saia de Londres, passava em Lisboa, Santos (BR) Buenos
Aires e África do Sul, a comunicação era possível; e o ter notícias regulares
permitia o que hoje o “youtube” faz de modo intensivo, saber como “é lá”.
Segundo a Prof. Maria
Rodrigues(em breve citarei o livro) hoje podemos
dizer que 40 milhões de brasileiros são
luso-descentes.
Enfim,
como podemos notar, a migração de portugueses para o Brasil é um “trem grande dimais sô”. E tal fato
social não passa sem deixar problemas por lá. Tanta saída de gente uma hora
prejudica a vida do Estado. Mais recente, com a últimas crises econômicas esse
fato voltou a ocorrer. Saíram profissionais com “baixa qualificação”, pois como
pedreiro em France se ganha bem, como profissionais altamente qualificados,
pois existem oportunidades para esses em várias partes do mundo.
O
fato é que a saída de portugueses dentro do espaço europeu constitui algo que
afeta a economia portuguesa. Como diz o pensador Agostinho da
Silva, Portugal ofereceu a mão de obra necessária para que a Europa central
(Alemanha-França) avançasse economicamente, isto desde a entrada em vigor da
U.E. Quando andamos por algumas regiões da Europa, tais como Suíça e França,
notamos a presença de muitos “gajos”.
Em
França, no setor da construção civil é muito comum se ouvir o português
sendo falado. Em Genebra, o português é língua comum as ruas.
Conclusão,
os brasileiros e outros lusos-descendentes que chegaram nos anos 90 em
Portugal contribuíram fundamentalmente para que
tal déficit não abalasse a economia daquele país ainda
mais. O atual movimento de classe média cruzando o Atlântico também é recheado
da expectativa de que levem dinheiro; as Leis por lá andaram se acomodando para
tal. Assim também os aparatos legais, que é os tais “vistos”, de empreendedor,
de aposentado, etc.
Enfim,
Portugal é um Estado que tem muito a ensinar ao mundo sobre esses fluxos
migratório. Por mais que há tensões pontuais, creio que a diversidade cultural seja
o ponto mais forte de Portugal ao longo dos últimos 500 anos.
Conclusão – provisória.
Os
povos migram. Sempre houve migração e parece que isso continua a
ocorrer ainda hoje. Recortamos aqui Portugal e Brasil, mas algo muito
semelhante ocorre em vários lugares da terra.
O
que leva grupos humanos a migrarem? Segundo o professor Alfreo Bosi,
um problema interno leva a se procurar outros lugares. Parafraseando o
luso-brasileiro Agostinho da Silva, “acabando as frutas aqui, logo me
ponho a ver onde irei colher mais”.
As
condições de migração nunca serão aquelas ideais. Como em
vários vídeos vejo sendo dito, o ideal nesse caso é só ideal, pois o
real da migração é “salve-se quem puder”. Sim, é correto insistir que se
deve preparar para tal, mas isso me parece um desejo; na prática se migra
porque há um problema aqui e vou “prá
” justamente como último recursos na tentativa de resolver
isso. Portanto, com muita frequência não estou preparado.
E esse despreparo ocorreu em larga escala com os migrantes
portugueses vindo para o Brasil. Foi aqui que foram
se “ajeitando” como foi possível. Sem falar das migrações para os EUA,
muitas das vezes baseada até em sistemas de “servidão voluntária”.
Não
acho licito “demonizarmos” os migrantes nessas condições. Cabe ao
Estado deixar de ser cínico e atuar para que o processo seja
controlado. E isto vale para o Brasil com os atuais migrantes do Haiti,
entre outros. Controlado no sentido de tomar como princípio que o migrante não
é um problema; não é desonroso migrar; procurar lugares melhores; Posto esse princípio,
o Estado deve atuar para receber e inteirar tais migrantes; é uma Política
Pública. Não sejamos cínicos… como as vezes alguns países são no que toca a migração
recente de África para Europa. Isto agride a mínima compreensão de história.
Vejamos
outro lado dessa moeda. Com isso espero aprofundar a ideia de que é simplismo
ou cinismo acharmos que o migrante seja problema. Vamos falar da política de
Estado do Canadá, nominalmente da Província do Quebec, em “capitar” migrantes
de países como Brasil, Argentina, Venezuela, Colômbia, etc. Quais outros nomes
podemos dar a essa prática? Agências formais vem até São Paulo, vão até escolas
de classe media-alta, fazem palestras por dias, etc. Tem critérios, etc. Ou
fazem palestras em hotéis sobre “como é legal morar no Quebec”, antes, claro,
você precisa provar que não é um “pé-rapado”, tem que ter algo a oferecer. A
moda agora são os profissionais de T.I.
Seria
uma nova forma de “colonização”. Levando agora o produto que eles julgam
ser o melhor para eles, os filhos da classe média.
Portanto,
quando pensamos um pouco sobre o assunto, logo vemos que é preciso tomar esse
fato sob outra ótica. Se não podemos cometer o ridículo de um Trump a dizer
que “migrantes é isso ou aquilo”, sendo ele mesmo um migrante.
Do
ponto de vista prático, pois julto totalmente licito se desejar e de fato morar
em Portugal, recomento o trabalho de Carlos Batista. Nele temos informações muito
preciosa; práticas; onde fazer isso ou aquilo. Ademais, o mesmo lhe será o mais
honesto, sem fantasias; sem mágicas. Um excelente “cicerone”.


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