Fazer um recorte da história e observar apenas uma delimitação fragmentada pode nos gerar vários problemas. No caso da atual “crise” de migração para a Europa é um exemplo profundo desse erro.
Oras, é sabido, para citar um exemplo mais próximo aos meus conterrâneos de Governador Valadares, que em Portugal ou Espanha se olha torto para nós brasileiros.
Pois bem, nesse caso é grotesco o recorte que se faz, pois não muito longe na história ambos nacionais se aportaram por aqui. Vejamos, não quero falar dos últimos 500 anos; podemos tomar os anos 60, 70 e agora, com a mega crise do Estado português e espanhol. O Brasil é um porto seguro para todos eles. Quantos portugueses não estão em Fortaleza(CE) e outros pontos próximos?
Sendo ainda mais específico, espanhóis e portugueses aqui chegaram fugindo de Franco ou de Salazar. E chegaram aos montes.
Se recuarmos um pouco mais na história e tomarmos algo pelos fins de 1890 até a Segunda Grande Guerra, aí teremos fartos exemplos de italianos, alemães, portugueses, espanhóis, tchecos, húngaros, austríacos, etc….
E aí retomamos a crise da Europa como um todo nos dias de hoje. Quando migrantes aportam por lá, fugindo da guerra. Mas os franceses não fugiram para o norte da África?
Ou seja, é uma ironia cínica e perigosa o que tem alimentado o pensamento de extrema direita em França, Portugal, Espanha, Alemanha, Italia, entre outros. É um cuspir na história, é um egoísmo que só se explica na redução à mercadoria pela qual passamos nos dias hoje. São jovens que estão negando a história dos seus avós, que passaram o maior “perrengue” em decorrência da guerra, das perseguições políticas e que encontraram não só o Brasil como guarida, mas vários outros países da America Latina. E que aqui compõe no geral, exceto os portugueses, uma classe média muito bem integrada na cultura e economia brasileira.
Para não esquecer, aqui no Brasil temos uma das maiores comunidades libanesa. Sendo o prefeito da maior cidade do país, Fernando Haddad, um filho de libanês. Portanto, recusar brasileiros é um cinismo que só se explica pela memória fugaz que o consumo de massa e convulsivo nos impõe. Sem falar, que os fatores da guerra na Síria tem implicações econômicas com a crise por que passa a Europa e os EUA.
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