Migração, uma questão universal!

Migração, uma questão universal!

Migração em Conselheiro Pena: a Volta.

Uma das principais questões de quem vai para os EUA é um dia voltar. Aliás, todos que saem de Conselheiro Pena, em geral, querem um dia voltar para a nossa querida cidade. A grande maioria pretende comprar uma terra, uma casa, carro, montar um negócio e ser feliz.
Esse desejo não é só nosso. Se formos na França, vamos encontrar lá nigerianos pensando o mesmo. No próprio EUA certamente os “penenses” encontram porto-riquenhos, cabo-verdianos, mexicanos que também tem esse desejo: voltar para casa. Aqui em São Paulo são os nordestinos, os bolivianos, os angolanos. Mas uma triste notícia: não é possível mais voltar.
Não sou um pessimista que fica rindo da dor alheia. Aliás, a dor não é tão alheia, já que eu também sou migrante. Mas é preciso ser honesto. Apenas alguns voltarão, mas todos não. Os motivos são vários. No meio caso, por exemplo, o que um Filósofo vai fazer por aí? Outros conhecidos que estão nos EUA também vão fazer pergunta parecida: quanto ganha um pedreiro aqui nos EUA e um em Conselheiro Pena ou no Brasil? (Aliás, tenho pensado muito em ser pedreiro nos EUA e não professor no Brasil)
Os motivos que não nos deixa voltar não só esses, mas a questão é: nos adaptamos a nova vida. Para quem reside nos grandes centros urbanos, como São Paulo, Boston, Miami, Lisboa, etc, acostumamos com a vida por aqui. Os grandes supermercados, os “shopping-center”, cinema, praças lindas, construções de obras públicas impressionantes como viadutos, obeliscos. Enfim, tudo isso condiciona nossa olhar e nos agrada. Aprendemos a consumir coisas novas, a conversar com pessoas de outras partes do mundo. Essa vida agitada cheia de possibilidades, cheia de promessas, nos prende e faz com que voltar para Conselheiro Pena possa ser um desastre. A vida pacata, de poucas opções de consumo, onde não há viadutos (apenas um), de poucas pessoas, de poucas possibilidades…. Tudo isso pode se tornar um tédio que não dá mais para suportar.
Claro que os problemas da volta são vários outros e não só os assinalados acima. O fato de o migrante apenas trabalhar, trabalhar, trabalhar, acaba por fazer com ele não se dedique tempo em aprender administrar o que ganha. Mesmo que ele seja um hábil guardador de dinheiro, ele não aprendeu uma outra lição: no capitalismo de mercado o que vale não é ter dinheiro guardando, mas circulando. O que exige de qualquer um conhecimento em economia, administração de empresa e por aí vai. E é esse conhecimento que faz com muitos que voltem não se dêem bem, pois uma coisa é a Economia dos EUA; aquela coisa louca, a “Meca” do consumo, onde se consome 60% de todo recurso do planeta.
Outra coisa é a economia de Conselheiro Pena, onde consumir é algo muito tímido, onde não se tem nem dinheiro para consumir cesta básica. Montar negócios em Conselheiro Pena é sempre arriscado. Ou se aplica milhões, ou qualquer outro negócio que não seja vender leite e carne de boi, corre o risco de estar fadado ao fracasso. Esse dois negócios que citei tem um motivo de darem certo: existe toda uma estrutura logística para que o produzido seja vendido em algum lugar.
Em termos de negócios o melhor é procura outras regiões de Minas, pois em Conselheiro Pena o que há é apenas superinflação de terra, de casa, etc. Seria eu pessimista? Penso que realista. Pois não é preciso voltar apenas para Conselheiro Pena ou região contaminada com a bolha dos EUA; existe vida além; é possível morar em Belo Horizonte, Juiz de Fora, Uberlândia.
Mas a volta é sempre uma tensão. Como disse, por um lado temos as coisas boas de onde estamos (emprego, praças belas, pessoas de toda parte do mundo) e por outro lado temos a realidade econômica de Conselheiro Pena que nos espera. Quem volta precisa sempre pensar esse dilema. Alguns já decidiram: não volta mais. Afinal, sendo legalizado, é melhor passear em C. Pena do que morar. Para aqueles outros, grande maioria de heróis, é bom pensar em outros lugares do Brasil no qual ele poderá abrir aquele negócio que tanto sonhou sem os problemas de uma pequena cidade. Penso que Belo Horizonte e região metropolitana é um lugar. Vitória no ES seria outro, meu receio é apenas com os índices de violência que faz da capital capixaba ficar em terceiro lugar no Brasil, atrás de Rio e Recife apenas. A vantagem dessas duas regiões metropolitanas é que ficam perto da cidade do coração: Conselheiro Pena. E nelas a vida se assemelha a uma Boston ou Maime. Claro que minhas análises não esgotam as possibilidades de Conselheiro Pena, afinal é um lugar que existe, está lá no mapa.Existem pessoas que vivem ali. É possível viver sim por aí, mas é bom pensar um pouco se cabem todos os que saíram de lá. (Penso que não!)
Por fim, o melhor é pensar sobre tudo isso e descobrir que viver é uma coisa que pode acontecer em qualquer lugar do planeta. O importante é você estar trabalhado e provendo suas necessidades; encontrando com os amigos, celebrando a vida. Isso pode ser muito bem nos Emirados Árabes Unidos, nos EUA ou no Brasil. O que não dá é estar em um lugar que não se encontra trabalho, não se é valorizado. Um grande abraço a todos.

Cídio Lopes


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