Fenomenología de la religión

Fenomenología de la religión

RESENHA CRÍTICA

 

VAN DER LEEUW, G. Fenomenología de la religión. México–Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica, 1964.

 

Cídio Lopes de Almeida

[notas de estudos]

 

 

INTRODUÇÃO E METODOLOGIA FENOMENOLÓGICA

No Prefácio, Van der Leeuw reconhece o caráter esboçado de sua exposição, dado o vasto campo da fenomenologia da religião, mas enfatiza seu esforço de oferecer “uma guia útil para a compreensão do material histórico” e valoriza a apresentação direta dos fenômenos, mantendo a “luta em comum” pela correta apreensão dos fenômenos religiosos (p. 9–12). No Epílogo (§ 109–112), desenvolve a fundamentação metodológica: diferencia o dado empírico do “fenômeno” mediante redução fenomenológica (p. 642–644); define religião como relação com o “totalmente outro” e a fenomenologia como acesso reflexivo a essa experiência (p. 645–652); e traça a história da disciplina de De Brosses a Husserl e Scheler (p. 653–658).

PARTE I – O OBJETO DA RELIGIÃO

1. Poder (§ 1, p. 13–17): Conceito primordial de poder (Mana, orenda, wakanda, manitú), apreendido pela eficácia extraordinária de pessoas ou objetos. 2. Poder teorizado (§ 2, p. 18–25): Evolução da experiência empírica para leis universais como Tao, Rta, Ma‘at. 3. Coisa e poder (§ 3, p. 26–32): Fetiche como objeto portador de eficácia própria, iniciando a transição para representações divinas. 4. Potência, medo e tabu (§ 4, p. 33–40): Tabu como proclamação do limite sagrado e medo como fascínio-horror. 5–6. Ambiente sagrado (§ 5–6, p. 41–54): Elementos naturais como mediadores da presença divina. 7–8. Mundo superior e circundante (§ 7–8, p. 55–73): Esferas hierárquicas do poder divino. 9–11. Vontade e figura (§ 9–11, p. 74–95): Base psicológica da experiência religiosa nas imagens arquetípicas.

PARTE II – O SUJEITO DA RELIGIÃO

A. O Homem Santo (§ 22–31, p. 182–231): Vivência da sacralidade e representações coletivas de reis, sacerdotes e santos. B. A Comunidade Sagrada (§ 32–38, p. 233–265): Estruturas sociais e a communio sanctorum como unidade mística. C. O Sagrado no Homem: a Alma (§ 39–47, p. 266–312): Diferenciação entre alma vital e alma impessoal, com tópicos de alma externa e escatologia.

PARTE III – OBJETO E SUJEITO EM INFLUÊNCIA RECÍPROCA

Comportamento e ritos (§ 48–52, p. 326–360): Purificação, sacrifício e oferendas como manutenção da relação com o poder. Espaços e tempos sagrados: Construção de santuários, templos e calendários litúrgicos. Representações simbólicas: Mitos, oráculos e liturgias como transmissão do poder.

PARTE IV – EL MUNDO

§ 83. Caminhos ao mundo. Domínio criador (p. 517–529): Mundo e homem são criação, e o sujeito deve imitar a ação criadora divina. § 84. Caminhos ao mundo. Domínio teórico (p. 529–533): Teoria retém vida onírica e sentimento primitivo. § 85. Caminhos ao mundo. Obediência (p. 533–538): Fé como obediência à vontade divina. § 86. Finalidades do mundo. Revelação. A finalidade no homem (p. 538–545): Experiência do oculto divino. § 87. Finalidades do mundo. Revelação. A finalidade no mundo (p. 545–549): Revelação cíclica em mitos e astrologia. § 88. Finalidades do mundo. Revelação. O objetivo em Deus (p. 549): Emanção ou sacrifício de ser primordial.

PARTE V – FIGURAS RELIGIOSAS

Tipologias de religião (§ 89–102, p. 407–547): Tipos de vivência do poder divino – afastamento, luta, tranquilidade, amor, humildade. Funções do fundador: Reformador, Mestre, Filósofo, Mediador, Exemplo.

EPÍLOGO E CONCLUSÕES

No Epílogo (§ 109–112, p. 642–658), Van der Leeuw retoma a urgência de acolher o fenômeno religioso em sua alteridade, unindo rigor descritivo e abertura ao mistério, e aponta caminhos para futuras investigações da religião como fenômeno essencial.

APRECIAÇÃO CRÍTICA E ARTICULAÇÃO COM A HISTÓRIA DAS CIÊNCIAS DAS RELIGIÕES

A fenomenologia de Van der Leeuw representa um marco ao deslocar o estudo da religião do âmbito puramente histórico-crítico para uma abordagem que valoriza a experiência religiosa em sua dimensão vivida. Criticamente, embora seu método privilegie a descrição fenomenológica, pode-se questionar sua relativa abstração teórica, que por vezes distancia a análise das dinâmicas sociais e de poder ressaltadas por Durkheim (1912) e Mauss (1902). Por outro lado, a ênfase na fenomenologia como suspensão de pressupostos anticipatórios dialoga com Husserl (1913), integrando a disciplina de Ciências das Religiões ao legado da fenomenologia transcendental europeia. Adicionalmente, Van der Leeuw antecipa discussões contemporâneas sobre o caráter construtivista do símbolo, influenciando correntes como a antropologia simbólica de Geertz (1973) e os estudos de ritual de Turner (1969). Em relação à história da disciplina, sua obra preenche a lacuna entre a tipologia evolucionista de Tylor e Frazer e as abordagens sociológicas posteriores, consolidando a fenomenologia como lente hermenêutica primordial no estudo acadêmico da religião.

REFERÊNCIAS

VAN DER LEEUW, G. Fenomenología de la religión. México–Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica, 1964.

DURKHEIM, É. As Formas Elementares da Vida Religiosa. Edições Loyola, 2018 (1912).

MAUSS, M. Ensaio sobre a Dádiva. Ed. 34, 2007 (1925).

HUSSERL, E. Investigações Lógicas. Vozes, 2001 (1900-1901).

GEERTZ, C. A Interpretação das Culturas. LTC, 1989 (1973).

TURNER, V. The Ritual Process. Aldine, 1969.

 


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