A obra Filosofia e Poesia de Maria Zambrano explora a intrincada e muitas vezes conflitante relação entre a filosofia e a poesia, remontando às suas origens na Grécia Antiga com Platão, que via a poesia como uma ameaça à verdade e à justiça. A autora contrasta a busca filosófica pela unidade, razão e ascetismo com a natureza da poesia, que se apega à multiplicidade, à emoção e ao mistério. Argumenta-se que, enquanto a filosofia busca transcender a carne e o mundo sensível em direção a um ser imutável e absoluto, a poesia abraça a experiência humana em sua totalidade, incluindo suas contradições e sua efemeridade. A discussão se estende à evolução histórica dessa relação, passando pelo cristianismo, pelo Romantismo e chegando a pensadores modernos, questionando a possibilidade de reconciliação duradoura entre essas duas formas essenciais de compreensão e expressão humanas.

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O texto examina profundamente a fenomenologia do desejo e da experiência do Uno em Plotino, um conceito central no neoplatonismo. Explora a natureza da alma e do Uno (frequentemente referido como “Deus” ou “o Bem”) e como a alma o deseja como seu objetivo final. A discussão abrange a processão (como tudo emana do Uno) e a conversão (o retorno a ele), destacando a transcendência inefável do Uno que, embora seja a origem de tudo, está além de qualquer determinação ou pensamento. O texto detalha a jornada da alma através de diferentes níveis de realidade (natureza, alma, inteligência) em busca da unificação extática com o Uno, que é uma experiência interior e direta que transcende a dualidade sujeito-objeto. Finalmente, aborda a metamorfose da consciência e a redescoberta da verdadeira natureza da alma através da remoção de obstáculos e do retorno à sua origem.

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“O Filósofo Autodidata” (Risālat Ḥayy ibn Yaqẓān), obra seminal do polímata andaluz Ibn Tufayl (c. 1105-1185), representa um marco na literatura filosófica islâmica medieval. Este romance filosófico alegórico narra a história de Hayy, um indivíduo que, isolado em uma ilha deserta e sem contato humano, alcança o conhecimento da verdade e a união com o Divino através da observação empírica do mundo natural e da reflexão racional. A obra não é apenas uma narrativa envolvente, mas um profundo tratado sobre epistemologia, metafísica e a relação entre razão e revelação, que ecoou significativamente nos debates filosóficos de sua época e influenciou pensadores posteriores, tanto no mundo islâmico quanto no Ocidente. Esta resenha crítica explorará o conteúdo central da obra, seu contexto histórico-filosófico e sua relevância duradoura na tradição do pensamento humano.

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A análise feita pelo recolhimento das declarações do ex-presidente Jair Bolsonaro durante a pandemia de COVID-19 revela um padrão de minimização da gravidade da doença e de desdém em relação às mortes. As falas, muitas vezes proferidas em tom de deboche ou indiferença, contrastam drasticamente com a crescente tragédia humanitária que se desenrolava no país. Essa postura, amplamente divulgada por veículos de imprensa, contribuiu para a desinformação e para a polarização em um momento de crise sanitária global, gerando indignação e críticas por parte da sociedade e da comunidade científica. A insistência em tratamentos sem comprovação científica e a desqualificação de medidas preventivas, como a vacinação e o isolamento social, são exemplos claros de uma retórica que ignorou a ciência e os impactos devastadores da pandemia na vida dos brasileiros. Todo esse cenário é para termos em conta as atuais falas do ex-presidente no contexto dos “eventos em apuração do dia 08 de janeiro de 2023”.

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A resenha tem por objeto o livro “A Formação do Espírito Científico” de Gaston Bachelard, publicado pela Contraponto Editora. A obra, que teve sua primeira edição em 1996 no Brasil, explora a psicanálise do conhecimento, focado nos obstáculos epistemológicos que impedem o avanço do pensamento científico. O autor distingue três períodos no desenvolvimento do espírito científico — pré-científico, científico em preparação e a era do novo espírito científico a partir de 1905 — e analisa como intuições primárias, imagens mentais, crenças animistas e valores subjetivos (como o mito da digestão, o complexo do pequeno lucro ou a sexualização de fenômenos) atuam como barreiras para a objetividade e a abstração necessárias ao progresso da ciência. O texto critica a precisão excessiva e a valorização de sensações diretas (como cheiro e gosto) em detrimento da experimentação controlada e do raciocínio abstrato, ilustrando essas ideias com exemplos históricos da alquimia e da física do século XVIII.

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O texto explora o conceito de iniciação em diversas culturas e períodos históricos, desde ritos tribais até manifestações em sociedades modernas. Ele detalha as estruturas e simbolismos comuns aos ritos de passagem, como a morte ritual, o retorno ao útero e o renascimento, que transformam o iniciante de um estado profano para um sagrado. A obra compara rituais de iniciação de meninos e meninas, notando suas particularidades, e analisa a complexidade das iniciações heroicas e xamânicas, que envolvem provações e a aquisição de poderes sobrenaturais. Finalmente, o texto traça a sobrevivência de motivos iniciáticos no cristianismo e na cultura contemporânea, mesmo quando seu significado religioso original é atenuado ou esquecido.

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O texto apresenta um ensaio sobre a história do significado no Antigo Egito, distinguindo-se da história cultural ou de eventos. Explora como os egípcios construíram suas memórias e “ficções de coerência”, desde a formação do estado e a divinização do faraó, expressas em monumentos como as pirâmides. A narrativa detalha as dinastias e períodos, como o Reino Antigo e os Períodos Intermediários, analisando as transformações sociais, políticas e religiosas, incluindo o conceito de justiça conectiva e a ascensão da piedade pessoal. Finalmente, o texto aborda a influência da religião e da escrita hieroglífica na manutenção da ordem e na compreensão do divino, bem como as interpretações e redescobertas da civilização egípcia ao longo da história.

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