Ainda o começo do livro, na trama em que Espinosa se dispõe a dar aulas para dois primos, algo muito corrente acontece. Após demostrar contradições evidentes nos textos bíblicos, como um autor de Reis que deixa escapar que o livro foi escrito muito depois do ocorrido ou quando no “livro de Moisés” se fala de profetas que só viriam muitos anos depois, os dois interlocutores continuam com a ideia fixa de que que está errado é o “delator” das contradições. Isto é, Espinoso, o erético.
Sem continuar na trama, que pretendo abordar outros temas em outros “post’s”, quero fazer o recorte dessa cena e compará-la aos nosso dias.
Seja em sociedades fraternais, como maçonaria, nova acrópoles, teosofia, rosa cruz, etc, é muito comum encontrarmos os “esquisotéricos”, palavra inventada para dizer dos cultores de um certo tipo de auto-ajuda cheio de contradições, que praticam exatamente o mesmo ardil apresentado na trama literária criada por Yalom para nos colocar naquele contexto de Espinosa. A saber, mesmo diante contradições lógicas as pessoas preferem continuar a manter suas posturas contraditórias.
Nesse ponto a força da superstição consegue suplantar a da razão. E se pensarmos que a lógica é um instrumento válido estaremos fadados ao fracasso.
Nessa mesma base de uma leva emocional com mais poder do que a frágil razão, temos coisas ainda mais perigosa. Os posicionamentos políticos também estão configurados nesse pântano emocional. Adeptos da esquerda contra os da direita, mesmo que ambos não conhecem efetivamente seus fundamentos. Evangélicos defendendo as suas “casas de orações” praticam exatamente esses saltos por sobre a lógica, advogada como sendo umas das particularidades do humano. Marxistas que nunca leram marques, liberais que se esquecem que já foram “subversivos”, ou, para usar a palavra da moda, “terroristas”. Se alguém dúvida é só procurar saber quais eram as opiniões dos aristocratas franceses sobre a famigerada “Revolução Francesa”.
Enfim, Espinosa e o escritor Yalom, no seu trabalho de literatura filosófica, nos convida para o exercício da produção de nossas ideias. Da modéstia de dizer não sei, de saber que precisamos pensar antes de dizer; de reconhecermos as dificuldades que temos hoje em dia de obter informações fiáveis, que não estejam sendo marcadas de modo quase “invisível”, por essa ou aquele corrente política. Que minha opinião é formada por uma matéria prima, e a mesma tem suas origens nesse ou naquele lugar.
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