Balta, espião-infiltrado ou voyeur?

Balta, espião-infiltrado ou voyeur?
Como foi noticiado pelos sites x e y tivemos um episódio que nos remete em cheio à épocas de governos ditatoriais. Trata-se do caso de “infiltração” de um agente militar em eventos de protestos sociais. O caso é sintomático de varias causas. Em primeiro, vigiar movimentos sociais por militar, depois, tal vigília no contexto de disputa política e, por fim, o método do “vigiador”. 
O Prof. Dr. Jessé Souza tem utilizado o termo “fulanização” do debate político como forma de denunciar que tal expediente não nos leva a lugar algum. Talvez apenas agudiza a crise e o choque de afetos reprimidos da luta de classe. Por isso, o que me importa não é a pessoa do Balta ou de sua real identidade. Existem coisas para além disso. 
Espionar certamente é uma função relevante dos militares. Espera-se com isso a antecipação de qualquer investida contra um povo, do qual o Exército, nas suas três variações modernas, é por definição protetor da violência externa, utilizando para tal a inteligência (astúcia) e a força. Logo, somos e devemos ser levados a considerar que o aparato militar sempre estará antecipando informações e para tal o termo é “espionagem”. 
Fiz alusão a três tópicos importantes no início do texto. Espionar movimentos sociais por militares indica que tais movimentos não são considerados algo apenas interno, já que o militar atua predominantemente contra o inimigo externo ao povo do qual pertence. Tecnicamente o guerreiro não tem como preocupação o seu povo, mas os “outros”. Ocupar de seu próprio povo implica que não se considera ele como sendo propriamente povo e por isso mesmo que um seguimento do povo está contra o Estado e um setor desse  “povo”. Tal expediente em que parece estranho em termo lógicos, não o é na prática. Infelizmente é comum Exércitos nacionais defenderem a figura do Estado e daquela classe de humanos que compõe a elite do Estado. O compromisso do Exército não é com o povo ou com todos os cidadãos registrados dentro desse ou daquele Estado, mas com uma fração diminuta das pessoas que compõe esse Estado. 
O cenário de um Exército contra o seu povo ou mesmo contra seus praças, os menos qualificados dentro do aparato de guerra, não é novidade. De Napoleão na sua campanha no Egito, quando o mesmo perdeu as batalhas e abandonou seus solados, retornando a Paris para contar outra história e ainda tomar o poder, à governos latinos americanos, será frequente a desvirtuação do princípio de que um Exército defende seu povo. E haverá mesmo a tese de que o seu compromisso é o com o Estado e não com o povo. 
A segunda temática é a vigília em contexto político. O que relaciona tal ideia com a primeira, pois fica claro que se espionar é para interferir no processo político, o aparato militar, que detém prerrogativas legais e materiais para espionar no contexto da guerra, está sendo desvirtuado. Outro termo apropriado é a “covardia”, pois sendo militar se tem e é mantido todo um aparato para guerra, usar esse mesmo aparato contra os seus que não detém os mesmos aparatos, pois são proibidos, é a capacidade de se vangloriar de ter vencido falsas batalhas. Entre os gregos antigos seria uma hybrys. 
Por fim o método de espionagem do Balta. Seu método de assediar sexualmente seus alvos nos revela algo de longa história. A violência erótica, como alguns analistas na Rede Voltaire tem discutido, não é subproduto das guerras, mas uma arma de guerra ou um método de fazer a guerra. Há violência sexual, por exemplo, entre os solados dos Estados Unidos que estão no Afeganistão, isto é, entre eles mesmos – solado homem contra as soldados mulheres. 
Como muito bem nos diz Enrique Dussel, a violência das armas passa imediatamente à violência erótica. A dominação se consolida através da violência sexual dos invasores europeus sobre os nativos das Américas. O que nos faz passar automaticamente à dominação erótico-pedagógica na sequência, pois o filho da violada com o violador será posto condicionamento no meio do caminho. Seu duplo pertencimento será utilizado para o resto da vida como estratégia de dominação. 
Enfim, Balta querendo imitar o James Bond dos filmes não nos revela nada de novo. A tristeza é perceber que a humanidade anda em círculos, especialmente nos seus aspectos desprezíveis. 


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