A Maçonaria no Brasil

A Maçonaria no Brasil

A Maçonaria no Brasil

RESENHA

KLOPPENBURG, Frei Boaventura. A maçonaria no Brasil. Petrópolis: Editora Vozes, 1956.

 

O texto é um ensaio de Frei Boaventura Kloppenburg (1956) sobre a Maçonaria no Brasil, focando em suas práticas, organização interna, e relação com a Igreja Católica. Kloppenburg examina a estrutura da Maçonaria, incluindo seus diferentes graus e ritos, suas divisões internas, e os rituais de iniciação, destacando seus aspectos secretos e juramentos. Ele analisa as alegações maçônicas de filantropia e tolerância religiosa, confrontando-as com documentos e práticas maçônicas que demonstram, segundo o autor, uma postura anticlerical e, em alguns casos, até mesmo anticristã. Finalmente, o texto aborda a incompatibilidade entre a Maçonaria e o Catolicismo, citando condenações papais e as consequências para católicos que se filiam à organização.

Resenha de “A Maçonaria no Brasil” (Frei Boaventura Kloppenburg)

Em “A Maçonaria no Brasil”, Frei Boaventura Kloppenburg apresenta uma análise crítica da Maçonaria Brasileira na década de 1950, destinada a orientar os católicos sobre a natureza e os perigos dessa organização. O livro, publicado em 1956, utiliza uma linguagem acessível e uma estrutura didática para desmistificar os rituais, símbolos e objetivos da Maçonaria, revelando seus princípios liberais e sua incompatibilidade com a doutrina católica.

A obra se inicia com uma introdução que contextualiza a relevância do tema para os católicos, destacando o contraste entre a condenação da Igreja e a propaganda maçônica que se apresenta como filantrópica e respeitadora da religião. Kloppenburg argumenta que a Maçonaria exerce influência significativa no Brasil, com milhares de membros ocupando posições importantes na sociedade.

O primeiro capítulo oferece uma visão geral da Maçonaria no Brasil, traçando um panorama histórico desde suas origens até a década de 1950. O autor destaca o crescimento da organização, com a fundação de Lojas e a expansão de sua influência, culminando em um exército de 150.000 membros cuidadosamente selecionados por suas qualidades morais, intelectuais, físicas e econômicas. Kloppenburg apresenta a estrutura organizacional da Maçonaria, com seus Ritos, graus e sistema de leis que a regem, enfatizando seu caráter internacional e secreto.

O segundo capítulo se concentra na Loja Maçônica, descrevendo em detalhes o funcionamento das “oficinas de trabalho”. O autor detalha os tipos de Lojas, seus deveres e direitos, a estrutura física dos “templos” e a organização das sessões. Kloppenburg expõe os diferentes tipos de sessões, incluindo as magnas e as econômicas, e descreve minuciosamente o ritual e as cerimônias que as compõem. O autor transcreve trechos do Ritual do Mestre, revelando o simbolismo, os juramentos e as etapas da cerimônia de iniciação, com o objetivo de desvendar o secretismo que envolve a Maçonaria.

O terceiro capítulo se dedica à figura do Maçon, analisando o processo de recrutamento, os compromissos assumidos e os direitos adquiridos dentro da organização. Kloppenburg expõe a propaganda maçônica, que se apresenta como uma instituição filantrópica, filosófica, educativa e progressista, prometendo apoio nos negócios e o fascínio do secreto. O autor descreve as etapas de ingresso na Maçonaria, desde os primeiros contatos com a organização até a realização de rigorosas sindicâncias sobre a vida do candidato. Kloppenburg transcreve os juramentos maçônicos, revelando o ambiente de ameaça e terror que envolve o processo de iniciação, e detalha os deveres e direitos dos membros, incluindo a obrigatoriedade do segredo e o auxílio mútuo entre maçons. O autor discute ainda a figura do “Lowton”*[p.109], o membro que se infiltra em outras organizações para defender os interesses da Maçonaria, e a questão da participação feminina na Maçonaria Brasileira, com a existência de Lojas de senhoras no passado.

O quarto capítulo apresenta “Curiosidades Maçônicas”, revelando detalhes do simbolismo, da linguagem e das práticas da organização. Kloppenburg descreve as insígnias, jóias e emblemas maçônicos, além de explicar a linguagem cifrada utilizada pelos membros, incluindo abreviações e um alfabeto secreto. O autor descreve os banquetes maçônicos, com seus rituais e simbolismos, revelando detalhes pouco conhecidos do cotidiano da organização.

Os capítulos subsequentes aprofundam a análise dos princípios maçônicos, revelando sua incompatibilidade com a doutrina católica. Kloppenburg dedica um capítulo inteiro à figura do “Grande Arquiteto do Universo”, o princípio criador reconhecido pela Maçonaria, analisando a natureza desse conceito e sua relação com a crença em Deus. O autor argumenta que a Maçonaria defende um conceito vago e abstrato de divindade, que se afasta da concepção cristã de Deus.

Kloppenburg dedica um capítulo extenso aos “Princípios do Liberalismo Religioso na Maçonaria Brasileira”. O autor apresenta trechos de documentos maçônicos que defendem a liberdade de pensamento, de consciência, de culto e a separação entre Igreja e Estado. Kloppenburg argumenta que esses princípios liberais, embora aparentemente atraentes, são incompatíveis com a fé católica e conduzem ao relativismo religioso e à negação da verdade revelada por deus[sic].

O autor critica a defesa do “livre pensamento” pela Maçonaria, argumentando que a liberdade humana não é absoluta, mas limitada pela verdade. Kloppenburg defende a necessidade da fé e da revelação divina para alcançar a verdadeira sabedoria e critica a pretensão da Maçonaria de se basear apenas na “razão e na ciência“. O autor também critica a defesa da liberdade de consciência pela Maçonaria, argumentando que a consciência humana é falível e necessita da orientação da lei moral e da Igreja Católica Apostólica Romana [ICAR].

Kloppenburg analisa a posição da Maçonaria em relação à Igreja Católica, revelando uma postura de antagonismo e hostilidade. O autor apresenta exemplos de propaganda maçônica que distorcem a história da Igreja e acusam o clero de obscurantismo e fanatismo. Kloppenburg documenta as ações da Maçonaria Brasileira contra a Igreja Católica, como a “questão religiosa” de 1872, em que a imprensa maçônica atacou violentamente a Igreja e seus dogmas. O autor cita trechos de documentos maçônicos que revelam o objetivo de combater a influência da Igreja na sociedade, utilizando a educação, a imprensa e a política como instrumentos de ação.

O livro se encerra com a transcrição de documentos da “Alta Venda”, a cúpula da Maçonaria internacional, que revelam os planos da organização para dominar o mundo e destruir a Igreja Católica. Kloppenburg apresenta trechos de cartas e instruções secretas que demonstram o caráter subversivo da Maçonaria e seu objetivo de minar os valores cristãos e a ordem social.

Em suma, “A Maçonaria no Brasil” de Frei Boaventura Kloppenburg é uma obra importante para compreender como a ICAR percebe a natureza e os objetivos da Maçonaria. Em apreciação crítica da obra, podemos indicar alguns limites. Os mais flagrantes é a forma como ele trata a ideia do Lawtos, a qual não compreende que se trata de uma pedagogia de aproximação de um menino, filho de maçom, do circuito maçônico, onde o pai é adepto. Apesar do livro apresentar uma boa documentação maçônico, indo além dos estereótipos alucinados de outras obras de adeptos cristãos-católicos, ele mostra-se desconhecedor da ideia contemporânea da tolerância. Ele faz uma opção que é intolerante, pois avança para além dos aspectos privados de uma fé, que pode estabelecer para si valores aceitáveis e outros a serem evitados, e preconiza que detém o direito de valorar outros fenômenos sociais com opções distintas às suas. Coloca-se como tribunal que tem o papel de aferir julgamento de validade para outros fenômenos, postura que era o seu lugar histórico até os séculos XIX. Ainda pensa e arroga-se o direito de ser a única visão de sentido do mundo, ao estilo da hegemonia da ICAR ao longo da Idade Média. A obra pode servir a Católicos con um certo limite e numa visão pré-concilio Vaticano II. Ademais, apesar de bem elaborada, carrega uma visão a qual é incompatível com a ideia de democracia em geral e segundo a Constituição Federal Brasileira de 1988.

 

 

 

 


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