A grande agricultura

A grande agricultura


Prof. Me. Cídio Lopes
https://profes.com.br/cidiolopes
(aula particular de filosofia)



Introdução

Esse texto dará umas voltas, mas no
final chega no problema da agricultura que não sabe observar a terra, mas se
fia unicamente na mente cartesiana associada a cabeças de financistas.
O erro de cálculo na Agricultura
Sobre agricultura em geral existe um
problema de linguagem semelhante á um problema da física. Na verdade, eu diria
que é mais uma metáfora o que vou comparar e como tal, tem seus limites. Em
física é escolar que no universo para além dos corpos celestes há a tal matéria
“escura”, isto é, corpos que não os notamos, mas que através de interferências
em cursos de outros corpos passamos a detectá-los. (Vera Rubin entre outros
astrofísicos como referência para o tema).
Dessa metáfora passo a duas outras e
ao final, dessa digressão, espero chegar ao tema da agricultura. Adotamos em
matéria de “Teoria do Currículo”, a área das ciências da educação destinada a
pensar o funcionamento de uma escola, a expressão “currículo oculto” para
denotar a existência de ações no ceio da comunidade escolar que fogem aos
registros. Elas existem, mas estão fora dos projetos, dos combinados nas
reuniões pedagógicas, do que se assume publicamente. Para quem conhece o
ambiente escolar sabemos que essa “matéria oculta” da escola é a arte de ser
professor.
O fato é que tanto em física ou em
ciência da educação sabemos que há algo que escapa ao pretenso poder da razão.
Nossa capacidade de pensar, gerir processos, escrever é uma parte importante,
mas não detém o poder total sobre as coisas.
Em agricultura temos o
desconhecimento de que há fatos que estão para além das palavras. E que a pretensão
de uma razão “cartesiana”, já em declínio de longa data no ceio de ciências
teóricas, tem seu valor histórico, mas deve ser equacionada. Deve ser
considerado no seu devido lugar, como parte de uma cosmologia que comporta
partes delimitadas e partes caóticas.
O erro comum em agricultura é
exatamente impor uma razão, especialmente a razão financista, a um universo
composto de muito mais matéria escura do que corpos celestes apreensíveis pelos
sentidos ou pelos instrumentos produzidos pela razão técnico-instrumental.
Não é raro encontramos bons
calculistas, exitosos sobretudo no famigerado “mercado financeiro”, querendo
capturar a totalidade da realidade pela razão calculista. E por isso mesmo
produtores dos problemas ambientais que todos sabemos que esse modelo social
produz.
Sendo mais preciso, querer impor à
terra regras da “grande agricultura” parece ser o fracasso mais colossal da
humanidade. Pois nesse espírito podemos, por mera inferência lógica, concluirmos
que o ciclo sempre crescente de “mais”, de que é preciso produzir mais,
consumir mais, teríamos que moer outros planetas atrás de insumos para que a
agricultura dessa conta dessa sanha.
Não se quer com isso cair noutra
vertente que também nos leva a concluir que o melhor era não existir humanos.
O fato é, a produção agrícola sustentável
consiste em ter zonas de falta de controle racional total. O melhor queijo, a
melhor receita, a melhor casa, entre outras coisas, consiste exatamente ao que
foge à razão total.  Produzir alimentos
sem “padrão de qualidade” (mas que não precisam serem ruins para atender
lucratividade), artesanal, é o que move os programas de TV e os deleites de
culinárias italianas, francesas, entre outras.

Para finalizar, é esse acaso, esse
elemento surpresa que a grande agricultura não suporta. Contudo, como a matéria
escura, há vetores que diuturnamente tergiversam as “megas” equações dos doutos
da grande agricultura.  A Índia é um bom
lugar para pesquisamos sobre isso. Sobretudo que naquele país de cultura
popular filosófica (segundo Zimmer e J. Campbell) houve uma “Revolução Verde”
nos anos 1950. E que após várias décadas dessa prática controlável, verificável,
tem colapsado. E não adianta chamar a “razão financista”, que no geral foge
para outros setores ou outros países, para solucionar o fato de que o uso de agrotóxicos
por longos anos envenenou a terra ao ponto de hoje não se conseguir produzir
mais mesmo adubando. Após o uso massivo dos megas tratores, das megas
adubações, algo está fugindo ao controle e o envenenamento da terra chegou num
beco sem saída. Nossa revolução quase verde, mas do uso dos grandes tratores é
recente, década de 1990. É só seguirmos pelo caminho dessa técnica que chegaremos
em breve onde parte da Índia chegou.

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