Resumo: Este artigo realiza uma análise comparativa do conceito de liberdade na obra “A Liberdade Cristã” (1520) de Martinho Lutero e na filosofia de Baruch de Espinosa, particularmente em sua “Ética”. O objetivo é identificar os pontos de convergência e divergência entre a liberdade como dom da graça divina mediado pela fé (Lutero) e a liberdade como autodeterminação racional conforme a necessidade da natureza (Espinosa). Utilizando metodologia de análise bibliográfica e conceitual, o estudo explora o paradoxo luterano da liberdade interior e servidão exterior, a justificação pela fé e a libertação da lei, contrastando-os com a crítica espinosana ao livre-arbítrio, a liberdade como conhecimento adequado das causas e aumento da potência de agir. Convergências são notadas na ênfase na interioridade da liberdade e na crítica a concepções ilusórias. Contudo, as divergências são mais profundas, abrangendo os fundamentos (teológico vs. filosófico), as concepções de Deus (transcendente vs. imanente), a relação com a lei e a necessidade, o determinismo e o objetivo final (salvação vs. beatitude). Conclui-se que, apesar de compartilharem uma busca pela emancipação da servidão, Lutero e Espinosa oferecem caminhos e destinos radicalmente distintos para a liberdade humana, enriquecendo a compreensão de suas múltiplas dimensões.

Leia mais

A “Introdução à Filosofia da Mitologia” de Vicente Ferreira da Silva representa uma ruptura com o subjetivismo e o antropocentrismo filosóficos, propondo um novo objetivismo onde o mundo espelha uma constituição transcendental ligada a um projeto original. A obra argumenta que a compreensão da religião e da mitologia só é possível ao superar o pensamento ancorado na condition humaine, inserindo essa nas forças instituidoras do Ser. O autor introduz a noção de um Ser transcendente como Sugestor e Fascinator, fonte de todas as possibilidades e cuja manifestação primordial se dá na Mitologia, compreendida não como criação humana, mas como a vida prototípico-divina e a abertura de um regime de fascinação. Nesse contexto, o ente, incluindo o ser humano, é visto como sugerido e fascinado pelo Ser, sendo a própria ideia do homem uma sugestão aórgica [não posto pelo homem], ou seja, não posta pela liberdade humana. A verdadeira objetividade reside no reconhecimento desse oferecer transcendental do Ser, exigindo uma superação do hominismo para uma sabedoria do transumano.

Leia mais

2/2