Declínio do Ocidente

Declínio do Ocidente

RESENHA

SPENGLER, Oswald. Decline of the West: Volume 1 & Volume 2. Translated by: Charles Francis Atkinson. Based on the Alfred A. Knopf editions, 1926 (vol. 1) & 1928 (vol. 2). Random Shack, 2016.

Cídio Lopes de Almeida

[sem revisão por pares]

 

O Declínio do Ocidente de Oswald Spengler apresenta uma visão morfológica da história, comparando culturas como organismos com ciclos de vida predeterminados, distinguindo a fase criativa da cultura da rígida civilização. A obra explora as “almas” distintas das culturas, como a faustiana do ocidente, caracterizada pela busca do infinito e uma profunda consciência histórica, a apolínia da antiguidade clássica, focada no presente e na forma corporal, e a mágica do mundo Árabe, com sua visão dualista do espaço e do tempo. Spengler argumenta que o ocidente está em seu inevitável declínio civilizacional, comparável à Roma tardia, e que não há uma história linear da humanidade, mas sim ciclos culturais únicos, cada um com seu próprio destino, sendo a sua metodologia a morfologia comparada para identificar paralelos entre as diversas expressões culturais.

 Resenha de “O Declínio do Ocidente”, de Oswald Spengler

A obra O Declínio do Ocidente, escrita por Oswald Spengler, é uma análise que procurou apreciar de forma detalhada a história das civilizações. Dividida em dois tomos, a obra propõe uma visão não usual sobre o destino das culturas, em especial a ocidental-europeia-americana, e a ideia de que a história não segue uma linha reta de progresso, mas é formada por ciclos de vida que se repetem em diferentes contextos culturais. Spengler, desenvolvendo sua filosofia histórica antes e durante os anos de 1914 a 1917, não se baseia no estado da civilização após a Primeira Guerra Mundial, mas na forma como ela poderia ser afetada por um evento cataclísmico iminente.

Spengler propõe uma visão morfológica da história, contrastando com a concepção tradicional, que via o desenvolvimento humano como linear. Para ele, cada cultura possui sua própria alma, uma “ideia”, com características, paixões e ciclos distintos de nascimento, crescimento, maturidade, declínio e morte. As culturas são organismos vivos, cada uma seguindo seu próprio destino, e a história é uma biografia coletiva dessas culturas. Spengler rejeita a ideia de um “progresso” da humanidade e, em vez disso, vê a história mundial como uma série de dramas individuais, com cada cultura revelando suas próprias forças espirituais e históricas.

Volume 1: Forma e Atualidade

O primeiro tomo de O Declínio do Ocidente é dedicado à análise das formas culturais e suas raízes simbólicas. Spengler introduz uma nova abordagem para a história, diferindo das explicações causais e mecânicas, ao sugerir uma morfologia da história que trata os fenômenos históricos como organismos vivos. Ele propõe que, em vez de analisar a história como uma sequência de eventos casuais, é necessário observar os tipos repetitivos e as analogias que aparecem ao longo do tempo. Spengler também enfatiza a importância dos números, da matemática e das artes como expressões culturais, comparando o estilo matemático da cultura ocidental com as abordagens mais limitadas das culturas clássicas.

O autor discute ainda o conceito de “Destino”, que é central para sua compreensão de como as culturas se desenvolvem e entram em declínio. Ele afirma que a história é a atualização de uma alma cultural, governada por um estilo único e irrepetível, e que cada cultura tem sua própria forma de compreender o destino, como exemplificado pela diferença entre as culturas clássica e ocidental. Spengler explora o simbolismo das culturas e como ele se reflete na arquitetura, na música e na arte, revelando as distintas “almas” culturais: a apolínea, a faustiana e a mágica. 

Volume 2: Perspectivas da História Mundial

O segundo tomo de O Declínio do Ocidente expande a análise histórica, focando em aspectos concretos da vida das culturas e em como essas influências formam o futuro. Spengler examina as cidades como centros determinantes da história, argumentando que a história mundial é essencialmente a história das cidades. Ele também analisa a influência do ambiente cósmico na formação das culturas e as interações entre diferentes povos e civilizações.

Em relação à cultura árabe, Spengler dedica um capítulo para explorar a chamada “alma mágica” desta civilização, focando na dualidade espírito-alma e na importância do “Consensus” ([Ijma (إجماع) = expressão árabe para consenso da comunidade dos fiéis]) como uma força de unidade. Ele também aborda o papel do Estado nas culturas, contrastando as visões clássicas e faustianas da política, e analisa o papel do dinheiro e da máquina na vida econômica, associando-os ao espírito da civilização moderna. 

Conclusão

O Declínio do Ocidente é uma obra que, ao longo de seus dois volumes, oferece uma reflexão sobre o ciclo de vida das culturas e a inevitabilidade de seu declínio. Spengler apresenta uma filosofia da história que rejeita o otimismo do progresso linear e abraça uma visão cíclica e pluralista, onde cada cultura segue um destino único, com suas próprias características, forças e limitações. Sua análise comparativa das civilizações, com foco nas raízes espirituais que moldam os destinos culturais, oferece uma visão única sobre o passado, o presente e o futuro da civilização ocidental. A obra de Spengler continua sendo um estudo crucial para quem deseja entender as dinâmicas históricas e culturais que influenciam o curso das sociedades ao longo do tempo.

 

P.s.: O pensamento de Spengler influenciou gerações de pensadores dos anos 20, incluindo Agostinho da Silva, no qual a sua tese doutoral O Sentido histórico das civilizações clássicas [1929] expressa uma intensa interlocução, opondo-se ao pensamento spengleriano sobre cultura. Ousamos, aqui enquanto esboço hipotético, dizer que essa dialética irá seguir como Agostinho da Silva pelo resto da sua vida. Seus interesses por pensar a lusofonia como uma comunidade cooperativa global, o Brasil como um desdobramento cultural de portugal [para além das ideias simplistas sobre o tema], o sebastianismo associado à festa popular do Divino Espírito Santo, suas anotações sobre Literatura Portuguesa, e várias outras produções, carregam a marca desse debate, que ora concorda, ora discorda, etc. 


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