Privacidade

Privacidade

O ser humano tem particularidades, entre elas, a privacidade
é uma das mais importantes. Sem vida privada notou-se que o ser humano perde
sua humanidade e pode mesmo entrar em estado de patologia.
A privacidade tem algo de interessante. Mesmo que se saiba
como se leva uma vida privada, afinal todos os humanos tem necessidades básicas
semelhantes, necessitamos de que ela se passe ao largo do conhecimento dos
demais. A família se constitui o lugar privilegiado dessa privacidade, mas é
preciso ainda uma vida mais reclusa que acaba por se limitar ao indivíduo. No
sentido mais radical o indivíduo precisa de uma vida pessoal que só cabe a ele.
Junto a vida pessoal também está a posse de coisas que o só
a pessoa compete utilizar. O computador pessoal é a máquina de processar dados
que leva no seu nome essa marca. A roupa, o quarto, livros, etc.
Porém, em dado momento algo de curioso se dá. Se há um
movimento na direção do indivíduo esse mesmo necessitará fazer outro movimento
em direção dos outros. A comunidade de indivíduos é tão necessária quanto a
privada. Os dois extremos são considerados problemáticos. Um comunitarismo que
nega a vida privada caduca; o individualismo, como vivemos hoje, faz cindir o fluxo
normal da vida humana, pois a pessoa se concebe sem o outro.
Nos dias hoje vivemos outro fenômeno curioso sobre a vida
privada. O desejo de consumir a vida privada alheia tornou produto rentável.
Existem os chamados programas em que a vida real se torna a grande iguaria.
Mesmo sabendo que a vida dos outros não “é da nossa conta” e que se assemelha
com a minha vida, as multidões procuram sempre “dá uma olhadinha” pelo buraco
da fechadura. Os psicólogos logo vão mobilizar suas teorias de costumes e dizer
que há desejo erótico e coisa e tal.
As máquinas de tirar fotos ou as de processar informações
serão os lugares para a propagação de cenas da vida íntima, preferencialmente
vinculadas ao corpo feminino. A divulgação massiva dessas informações, porém,
está longe de um interesse pelo coletivo e pela vida comunitária, antes, faz
parte de um egoísmo. Interessar pelo outro enquanto fonte de prazer pessoal não
é aquele caminho salutar que vai da privacidade a fraternidade. Ser um “voyer” está
mais para o individualismo contemporâneo que concebe como possível a vida
humana individual sem a necessidade do meio em que ele se encontra.
Precisamos procurar o meio termo. Não só a ética de
Aristóteles nos propõe isso, mas a lógica do bom senso assim nos adverte.

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