Palestina e Israel: o que nós brasileiros temos?

Palestina e Israel: o que nós brasileiros temos?
Já escrevi aqui sobre a dificuldade em formar uma opinião e mesmo um posicionamento acerca do Estado de Israel e do Estado Palestino. O primeiro obstáculo é das fontes de informação, se temos problemas até mesmo com nossa própria realidade política e social, na qual interesses econômicos levam os médias a produzirem uma realidade e não descreve-la, imagine sobre uma realidade que fisicamente é distante.

As fontes que nos chegam com certa frequência naturalizou que Israel tem sempre um atentando, uma guerra, uma…

Enfim, pensar Israel para nós brasileiros é algo difícil, pois não temos fontes adequadas e as que temos são poucas e estrategicamente “mediada” até nossos ouvidos. Porém, depois das questões envolvendo os cantores Caetano e Gil, acabei encontrando esse Vídeo no qual uma professora faz depoimentos sobre os livros didáticos de Israel. O que nos remete também aos nossos livros didáticos brasileiros e sua forma racista de representar os negros.

Desse vídeo e de outras questões cheguei a um posicionamento sobre o tema. Penso que Israel moderno e os judeus são parte de problemas que envolvem não só os aparentes atores, judeus e palestinos, mas é assunto para cristãos e mais precisamente cristãos europeus.

O Israel moderno é um problema que se vincula à cultura Europeia, precisamente a dois países: França e Inglaterra. Como a história nos oferece farto material, sabemos que Inglaterra e França atuaram ativamente no desmoronamento do Império Otomano. Não só dividiram o espólio territorial, no qual cada um ficou com uma fatia, mas interferiram nas políticas como recursos obrigatório para se usufruir os benefícios de tais ocupações.

Só nesse contexto será possível recomeçarmos a pensar a questão Israel-Palestina. E logo veremos que todo o resto do Oriente Médio também se explica por tal realidade histórica, concreta…

Em termos pragmático já pensei no seguinte. Sim, o Império Otomano se esfacelou, logo, os novos Estados que surgiram desse vácuo de Poder são méritos únicos de quem o conseguiu fazer. Assim, o mérito dos judeus foram transplantar uma classe medida Européia para uma terra sem dono e pronto. Eles conseguiram e pronto.

Mas me parece que não é tão mágico assim. No vácuo de Poder não houve lá tão vácuo assim. Ou seja, a derrocada do Império Otomano, estabelecido ali desde muito tempo, não lembro a data – mas certamente nos remete ao ano 1120 e alguma cosia – foi tramada pela França e Inglaterra de modo muito ativo. Aliás, o “Pai dos Turcos – Ataturque” é uma invenção inglesa como estratégia de quebrar o otomanismo. Assim, Inglaterra (veja mandato britânico da palestina) criou suas monarquias e a frança suas “democracias”. Siria, Libano, Jordânia, etc….

Voltando um pouco antes. A grande guerra foi o ápice de uma longa história Europeia. Na qual os judeus sempre foram privados. Seja em guetos da época de Napoleão, que os libertou na Itália(preciso conferir fonte) ou no contexto do nazismo… Os judeus foram o que ainda são os ciganos(romenos) na “união européia”. Sempre foram discriminados.

Nesse contexto, surge o sionismo (Theodor Herzl) como modelo de implementar uma liga, um motivo de fixar naquele lugar os judeus; Tal ideia também pode ser posto no contexto das motivações pelas colonizações na África. Pouco se pergunta em nossos dias como era a aura ideológica de tomar regiões da África e dizer que ela era agora um “algo da França, da Alemanha…”

Me parece que é nesse contexto que o judeus são postos novamente no local histórico. Não se trata aqui de defender as barbaridades que o negacionista ousam fazer.  Contudo, não podemos nos furtar de pensar que o atual Estado de Israel surge no contexto ideológico de Europa querendo e trabalhando em exportar seus modelos sociais/econômico para regiões que eles ousavam pensar que podiam e deviam ocupá-las. Um grupo etnico que também sofria discriminação em França. Que também não gozavam de estatuto igualitária na França em pleno década de 20 do século passado. Também não podemos deixar de esquecer que parte da França, como é muito bem conhecido entre os franceses de hoje, topou o projeto nazista.

Transpor judeus de seus territórios para fora certamente foi uma tese corrente entre vários países das Europa; não foi uma coisa exclusiva da Alemanha. E o sionismo caiu bem, pois era uma ideologia que propunha juntar um bando de gente de um lugar, Europa, e mete-los noutro; tal ideia andava ao lado das ideias de ocupar partes da África, como de fato ocorreu tanto antes da Segunda Guerra como da Primeira.

Não podemos deixar de lado tal contexto ao investigar sobre o estatuto de Israel hoje, pois tais ideias explicam muitas coisas e esclarece que é possível pensar um outro caminho. O caminho mais plausível é de um único Estado laico que trate todos como cidadãos. O desafio é esse e não tem como ser outro. A existência de um Estado Judeu, declaradamente étnico e religioso, não tem espaço. Ao contrario, um Estado Civil que seja formado por etnias e que elas sejam tratadas como iguais me parece ser necessária e justa.

Admitir um Estado Judeu é assinar e corroborar com o último libélula de um projeto colonial e com tudo que há de malvado em tal projeto. Ademais, é esconder o fato histórico que o povo cristão e seus Estados sempre perseguiram os judeus. É empurrar esse fato histórico para a conta dos islâmicos.

O problema histórico dos judeus sempre foram os cristãos, mesmo que há exemplos aqui e acolá de expurgos sob governos islâmicos ou outros governos anteriores ao Profeta.

Não se pode, portanto, admitir a existência de um Estado religioso que mistura tais coisas. O justo, e não é o fim do mundo, é um Estado, que pode sim chamar-se Israel em homenagem ao lugar histórico, que comporte todos os tipos de culto. Preservando, inclusive os locais fundamentais dos Três Monoteísmo. Essa é uma saída segundo os parâmetros democrático.

No atual estágio, especialmente nos argumentos que hoje se mobilizam para justificar a presença dos judeus naquele território, poderíamos fazer algo semelhante entre os cristãos. Por exemplo, poderíamos dizer entre os brasileiros que Roma é nosso lugar natural, pois temos vínculos históricos com Roma; nosso catolicismo aliás tornou tal relação tão natural que até não a percebemos no cotidiano. Por algum problema poderíamos ocupar Roma, retirar os que lá estão e nos instalar. Isso poderia ter ocorrido no pós guerra, quando a Italia perdeu a guerra; poderíamos ter cogitado a total substituição dos mandatários italianos por cristãos de várias partes do mundo ocidental.

Tal ideia não pega por não haver uma produção ideológica em massa que assim advogue. Mas ela tem todos os elementos necessário para que possamos fazer o mesmo que hoje é feito em Israel. Podemos alegar ligação, podemos alegar que os Estados Civis não nos protege, podemos dizer que temos não só cristão mas italianos descendentes diretos(no caso Brasil são muitos), etc…..

Mas não temos as condições ideológicas e de disseminar tais asneiras. A ideia que os judeus eram mal tratados esconde os vários judeus que tinha boas condições. Nos dias hoje, quantos cristãos não são os pobres entre nós? Em termos de quantidade, porque Italianos e Portugueses vieram para o Brasil? Sim, existiam os montes de cristãos pobres em condições piores do que as da escravidão(não defendo a escravidão).

Assim, o mote de um povo judeu espoliado também pode ter sua parcela de ideologia. Vejamos, conheço judeus e sou próxima a famílias que tiveram dezenas de parentes(tios, primos…) assassinados pelo nazismo, portanto não quero com isso mitigar, acenar, flertar com a barbárie. E exatamente por isso que escrevo, pois hoje o Estado de Israel faz uma barbárie com os palestinos. Vejamos, isso não implica que sou ingênuo e não saiba quais são as condições de vida na Arábia “Saudita”; isto é, árabes que também são islâmicos governando os seus, são estranhos à democracia.

O Estado de Israel tem o direito de existir; não tem o direito de continuar a ser um estado religioso, mas um ente civil, que seja capaz de permitir a existência entre os seus cidadãos, como em qualquer outro Estado Moderno, a pluralidade de crença e todo o mais que somos acostumados.

   

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