Olavettes

Curso de Filosofia com o Prof. Cídio Lopes


Olavo de Carvalho e Jim Jones

Comparar pessoas A com B
no contexto de disputas de ideias no geral nunca é um
exercício positivo. Recentemente li algo
que compara Olavo de Carvalho a Jim Jones, aquele religioso de origem
norte-americana que fundou uma colônia religiosa onde hoje é a atual Guiana.

Olavo de
Carvalho, que é um sucesso em vendas de livros e de audiência na internet, pode
até ter traços comportamentais que leve a tal comparação, mas nesse sentido,
podemos comprar qualquer pessoa com outra. Seja para destacar semelhanças ou
dissonâncias.

Como já disse em
outro texto desse blog, quando inserimos Olavo em nosso site, necessariamente temos
certa audiência. O que é verdadeiro, pois se quero também ser visto e divulgar
minhas ideias filosóficas, parece-me estratégico colocar o meu livro, sobre
Estética e Educação em Nietzsche, ao lado das pilhas de livros do Olavo.
Tentativa de pegar carona nele.

Para além dessa “vibe”
comercial, a qual ao meu ver leva até um Felipe Pondé tecendo comentários sobre
Olavo de Carvalho, temos o fato ou fenômeno de comentar Olavo de Carvalho em
função de sua aparição na cena pública brasileira. Goste ou não, o moço que se
intitulou de filósofo e que se fia na sua produção teórica para tal, aparece e
faz parte do debate. Não aparece em vários lugares, mas com certa frequência em
lugares alguns jovens da Mackenzie, PUCSP, USP, etc.

Olavo corre por
fora do mundo acadêmico e em certa medida deixa com inveja os acadêmicos.
Afinal, vender 250mil títulos de um livro deixa os universitários mordidos. Até
onde sabemos, tal feito editorial difere dos Cury de Ribeirão Preto, pois o
campinense tem outros percursos, nomeadamente a internet.

E será em função
desse meio que me parece que a polêmica seja a gasolina a mover sua carreira de
professor “particular” e filósofo. Do ponto de vista lógico, para se lançar no
mercado de cursos e livros você procura se diferenciar; ser alguém que tem algo
de diferente, um saber específico que justifica adquirir um saber contigo. É o
que vemos nos milhares de site e comentários na internet acerca de Olavo. Ainda
que esse esforço leve até mesmo a um certo exagero de que não há uma filosofia
que não seja a dele, ou que só há uma meia dúzia de filósofos entre nós. Ou
ainda, que na USP só houve um livro bom desde a fundação do curso de Filosofia
naquela universidade.

Exageros que me
parecem mais estratégias de propaganda. Esses estereótipos e mesmo simplismos
generalistas funcionam muito bem como chamadores de atenção. O público leigo
que se interesse por ideias, se sente tocados por tais clichês. A problemática
disso é que em dado momento, para produzir bons efeitos em chamar a atenção,
você opta por tratar com os medos alheios. Uma instância humana que sempre é
terreno das ações políticas, seja elas de esquerda ou direita. E Olavo abusa
desse recurso da polêmica, do mistério, do inimigo oculto ou revelado como
comunismo, etc. Essa estratégia funciona bem, mas pode perder o rumo e produzir
efeitos colaterais que duvido muito serem desejado por qualquer pessoa em sã consciência,
incluindo o próprio Olavo.

 Por outro lado, a via da polêmica rende vendas
de livros e cursos; rende ter mais acessos na internet. Algo sedutor e produtor
de dependência econômica, o que pode gerar um circuito sem saída e com vida
própria para além do seu iniciador. Essa sedução econômica, essa jogada da
polêmica como estratégia para se vender parece ter motivado a filha de Olavo a
fazer recente entrevista comentando detalhes “ocultados” de seu pai. Revelando
fatos, etc… o que gera mais polêmica e, certamente, mais acessos. Tem pessoas
defendendo Olavo, outras justificando que ele foi sim mau pai, mas… e
amaciando os fatos escabrosos revelados; como outros atacando… O ponto comum
é que o mesmo está sendo posto em questão; alguém tá falado de Kant?

Na lógica da
polêmica tudo acaba por alimentar o objeto em debate. E isso é o que me parece
ser central nesse autor. Não posso afirmar até que ponto essa estratégia
externa interfere na própria estrutura do pensamento dele, pois como bom
polemista, conheço apenas a parte externa. Nunca li um livro seu.

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