Filosofia no Brasil

Filosofia no Brasil

Filosofia no Brasil. 



Existe uma crença naif que as ideias boas emergem e se colocam na praça. Não se faz outras perguntas, apenas se apaixonam por essa ou aquela ideia; e passa-se a tomar elas para si. 


Outro problema da filosofia existente por essas bandas dos trópicos é sua hierarquia, nesse vasto território parece existir uns 4 popstar filósofos e uma única escola que determina de norte a sul o que é filosofia. Seria como de Lisboa a Moscou só haver meia dúzia de pensadores a ter acesso a todas as instâncias de poder; das verbas públicas para se filosofar. Sim, de Porto Alegre no Rio Grande do Sul à Boa Vista em Roraima temos que percorrer 5225 km. Entre Lisboa em Portugal à Moscou na Rússia 4.557 km. 


Uma única escola que determina o que é qualidade e o que seja filosofia de norte a sul. E tal ‘ação’ não fica nas palavras, qualquer validação Estatal para se ter acesso aos “Olimpo” do que seja filosofia passa por comissões de avaliadores, que serão diretamente ligado a uma escola ou às suas satélites. 


Sem pensar essas estruturas de fluxos de poder, que significa salário e acesso aos meios de publicações, é por demais ingênuo e caricato pensar a filosofia nacional e puro fingimento, arremedo. 


Edward W. Said. Orientalismo: o oriente como invenção do ocidente, por exemplo destaca que lá pelo 1800 surgiu em França algo meio “industrial”, era o intelectual a produzir sobre algo, isto é, escrever sobre alguma coisa. No caso dele, a dizer o que era o oriente. Ignorar essa infraestrutura de produção é desconhecer o produzido. 


E no que toca a produção filosófica não só no Brasil, mas na lusofonia no geral, me parece ser o ponto mais fundamental suplantado ou encoberto no debate filosófico. Sem passar por ele, não dá para prosseguir. 

Se Heidegger se propõe a desencobrir o ser, a nós, anterior ao próprio problema do ser, temos que desencobrir os meios de produção filosófica no geral e em que medida o ser que ela pretende revelar é um mero arremedo de ser. Os regimes econômicos envolvidos na definição do que seja filosofia, de quem seja filósofo, nos revelam que não há filosofia entre nós, talvez filologia. 


A não existência de filosofia se dá pelo fato de as disposições econômicas confluírem para a existência do comentador de filosofia. Uma espécie de escolástica laica e tardia. 


É preciso rastrear em que medida os vários instrumentos de ação estratégicas de pais “ricos” colonizam o que se pensa por aqui. A título de exemplo, como um  “Chargée de mission audiovisuel et livre / Assessora audiovisual e livro Ambassade de France au Brésil / Institut français du Brésil”, dentre vários outros, determina que Foucault seja hoje mais citado que versos bíblicos por toda as ciências humanas e sociais. 


Prescindir da ação concreto desses órgãos de ação cultural, que se inserem nas políticas públicas daqueles países como ações de extrema relevância para a dominação cultural e, por consequência, econômica, é crer que é a “cegonha que trazem” os bebês.  


Autores, temas, livros, empregos, verbas públicas, devem ser vistos sob a pura dinâmica econômica e como tal dinâmica impõe sobre os produtos dinamizados suas marcas. 


É a dinâmica o que determina o dinamizado. 


E nesse contexto, o filósofo precisa descer do seu castelo de papel, do seu reino imaginário e da falta de universalidade de suas objetividade, que são meros ajeitamentos de realidades econômicas postas anteriormente, e aí começarmos a filosofar. 


 


 



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