Ética, a Cultura e a Sociedade

Ética, a Cultura e a Sociedade

Síntese:
http://www.musee-orsay.fr/ Prof. Cídio Lopes de Almeida
Prof. Me. Cídio Lopes de Almeida
teologia/est-ead
Moral como conjunto de
valores que orienta o agir humana é uma construção desse mesmo humano. Como
podemos verificar no Texto didático –
Ética
do prof. Dr. Valério G. Schaper, a moral faz parte da cultura e está
imersa em todos os processos que denominados de cultura.
A cultura é a
referência de existência, somos por intermédio da cultura. Uma cultura
consolidada ganha ainda mais força quando seus princípios, que podem ser morais,
de gosto, religioso, ganham ares de que sempre foram assim. Como não somos
constituídos apenas de cultura, artefato simbólico produzido, mas somos dotados
de instintos orgânicos, “a cultura  é uma
segunda natureza que procura suprir a ausência parcial de estruturas
instintivas em nós”.[1]
O que nos garante consonância entre o valor da cultura e nossa ação cotidiana,
certeza fundamental para o existir humano que carece para ser em plenitude do
elemento segurança(abrigo).
A dimensão moral e
cultural é produzida pelos indivíduos e seu grupo. Como os valores são
instrumentos vitais, eles são produzidos e transmitidos nas mais variadas
instituições. A religião e a família parecem-nos serem os  mais antigos meios pelo qual se perpassa e
cultivam-se as regras do bem viver. A igreja e a escola compõem instituições
mais recentes em relação à religião e a família, mas de certo modo procuram
cumprir os mesmos objetivos de educar(escola) e cultivar a experiência humana
com o sagrado (religião-igreja).
Muito recente, podemos
adicionar os meios de comunicação como outro espaço vital na construção e
manutenção dos valores culturais e morais em nossa sociedade globalizada.
Porém, apesar de
naturalizados, os valores às vezes entram em crise. Provocadas por vários fatores
externos e internos à comunidade. Se o humano repassa as regras de “como as
coisas devem ser” a partir da experiência exitosa dos antepassados, essas
mesmas regras podem entrar em colapso quando não mais cumprir funções vitais ao
grupo. Revelando o caráter desafiante da cultura e dos valores morais que
precisam conciliar dois posicionamentos diante dos valores culturais e morais
que são aparentemente opostos. A necessidade de preservar os valores e de
mudá-los quando necessário, constitui o dilema de toda comunidade humana. Uma
cultura é, por esse motivo, algo dinâmico e vivo, pois não dá para ser calcada
unicamente sob a lógica do tradicional, deve estar também, aberta ao novo. Porém,
nesse exato ponto, não se tem uma fórmula que dê a certeza da qual os valores
morais e culturais são expressão da necessidade humana por um porto seguro. O
embate é certo, apenas muda as suas características ao longo da história
humana.
A tensão do
tradicional e do novo pode tomar, segundo o
Schaper, dois tipos de solução:
“técnicas(não-conflitiva)
ou paradigmática (conflitavas). A segunda tem o poder de alterar os principais
valores, princípios e modelos de funcionamento estabelecidos, enfim, a
cosmovisão e o sentido de vida dos membros do grupo.”(SCHAPER. Texto Didático –
Ética. p. 3)
O que podemos notar é
que a mudança radical é aquela que opta por mudar o paradigma. Esse ponto se
torna aguerrido por nos revelar que eles são como que as regras do jogo.
Fazendo uso da metáfora da brincadeira infantil, mexer nos paradigma não é
propor retomar a brincadeira, respeitando as mesmas regras, mas é começar a
brincadeira balizada por outras regras.
O embate entre
tradicional e moderno, ainda segundo Schaper, parece levar seus partidários a tomar
lados e romper a possibilidade de diálogo. De um lado temos o Tradicional para
quem “tudo é legitimado em nome da tradição”[2],
por outro, diante as mudanças técnicas e do mito do progresso, o indivíduo
progressista se indispõe a dialogar e “a tradição transforma-se em obstáculo”.[3]
O que assistimos nos
dias de hoje parece ser uma hegemonia do progresso. A força dessa proposição
que também é criada, certamente já figura como sendo natural, como mitológico.
“A religião e a moral tradicional são descartadas, pois a legitimação é interna
à própria sociedade: o mito do progresso e a progressiva eliminação dos
problemas”[4].
O progresso técnico propõe suplantar todos os medos, pois tudo será possível
ser resolvido por algum invento tecnológico.
Porém, todo mito esconde
suas contradições. Mesmo as sociedades tradicionais caíram no erro de se fechar
ao novo. O ideal, penso, será o que Leonardo Boff nos convida a fazer, um
equilíbrio entre razão e afetividade.
O equilíbrio entre
razão e afeto, como duas qualidades fundamentais dos seres humanos na produção
dos valores e da cultura, apresenta-se como ponto de contato entre Tradicional
e Moderno.  Leonardo Boff no artigo “A ética e a formação de valores na sociedade[5]
contextualiza o tema e a importância não só da ética, mas, sobretudo, de
partimos de uma reflexão ética para uma prática de valores éticos nos dias de
hoje.
Boff nos chama a
atenção acerca da profundidade do problema. “Essa crise não é conjuntural, é estrutural.
Isso significa que atinge os fundamentos da civilização que construímos nos
últimos séculos e que hoje é globalizada.”[6]
Ao apontar que passamos por crises estruturais, portanto, profundas,  capazes de gerar a produção de pobreza, a
crise dos sistemas de trabalho e a devastação ecológica sua proposição nos
encaminha para aquilo que ele considera como a base da produção de valores: a
razão e o afeto.
Como já havia aludido
nos parágrafos anteriores, Boff considera que somos feitos de razão e afeto,
não dá para excluir a afetividade, como tem feito a hegemonia tecnológica. Sob
essas bases é que será possível construir valores morais que atendam as
necessidades universais do ser humano.

[1]SCHAPER,
V.G. Texto Didático – Ética.
Faculdade  EST. p.2
[2] Schaper.
Idem. p. 6
[3] Schaper. Idem. p. 6
[4] Schaper.
Idem. p. 7
[5] BOFF,
Leonardo. A Ética e a Formação de Valores
na Sociedade
. Rev. Reflexão. Ano IX, nº 2
[6] BOFF.
Idem. p. 3

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