O culto, o sábado e os sacrifícios em Israel.

O culto, o sábado e os sacrifícios em Israel.

Prof. Me. Cídio Lopes de Almeida
Festas e Sacrifícios:
Nos dias de hoje só nos sacrificamos para uma boa festa.
A compreensão dos
temas propostos pela Unidade 3, que podem ser pensados em torno do termo
celebrar(celebração), nos exige antes de qualquer coisa conhecer dois modelos
de vida. Um urbano, no qual vivemos hoje, e outro, dos patriarcas aos cristãos,
que é o rural. Caso contrário a “Palavra” nas Escrituras parecem caricatura
incompreensível pela juventude e até mesmo pelos mais velhos.
Vivemos nos
dias de hoje um deslocamento profundo entre modelos de sociedade
rural(campesina é mais profícuo) e a vida urbana. É preciso desvencilhar do
modelo urbano,  que promove a alienação
dos indivíduos, e migrar para o campo e para a vida que se levava aí. Esse
exercício é profundo, pois precisaremos meditar sobre coisas triviais como a
importância de “guardar sementes” para o 
próximo plantio. Saber pensar como “arrumar carne”, locomoção a lombo de
jumento. Todas essas questões básicas precisam ser retomadas, pois com os
“CEASA’s”  perdemos a noção simbólica de
guardar uma boa semente para o próximo ano; ou tomar as melhores espigas de
milho e dela retirarem os melhores grãos, futuras sementes; a importância de
cuidar do carneiro, eliminar o ‘feio’, promover a procriação daqueles mais
bonitos… No caso dos cristãos a castração do porco, os cuidados de colocá-los
em local apropriado, etc.
Todo esse
processo de locomoção existencial do meio urbano para o rural se faz necessário
não só para compreendermos as festas e celebrações do povo de Israel, mas para
colocar novamente a questão entre nós nos dias de hoje: como pensar o descanso
na atualidade ou mesmo a palavra “sacrifício” nos dias de hoje?
Ao se despir
da modernidade urbana, parece-me que as festas e sacrifícios entre os judeus do
Testamento Antes da Era Comum (Primeiro Testamento) nos revelam sua capacidade
de celebrar a experiência de fé judaica e, posteriormente, a cristã. Celebrar
ou festejar é um “suspiro” da comunidade que por estar bem próximo da natureza
“vê” a presença do divino e se sente motivada a fazer algum tipo de gesto para
sinalizar, para dizer a percepção desse mistério(presença de Deus) na vida
cotidiana. Essa reflexão parece-me ser respaldada pela  prática de sacrificar um bode(carneiro) e
aspergir o sangue (sempre sinônimo de vida nas comunidades campesinas), queimar
a gordura e consumir em comunidade a carne. É um ato de comunidade, de
alimentarem-se juntos como ação de celebração e agradecimento.
Nesse sentido
é que podemos não só compreender as festas, todas ligadas a questões rurais
(colheita, plantio, criação de animais, etc), como o sentido que elas foram tomando
logo a seguir. Se em primeiro momento as festas eram vinculadas à colheita,
preparação da colheita,  posteriormente,
para comodidade do Poder, esses lugares comunitários foram centralizados em
Jerusalém e passaram a perder o caráter de celebração (jubilo). No lugar
inicial de celebrar agora toma caráter Legal, normativo. 
Aplica-se essa
metamorfose de algo destinado a celebração e alegria, para normativo ou outra
finalidade a idéia de descanso(sábado – shabat).   Oriundo da servidão, os hebreus foram
introduzindo na história vários elementos que os diferenciavam dos demais. O
descanso parece ser um elemento, em primeiro momento, fruto da experiência da
servidão no Egito, com implicações não só no descanso, mas em questões de posse
(cultivo da terra e seu descanso – doação aos necessitados das réstias –  libertação de escravos depois de um tempo;
devolução da terra quando adquirida de alguém que passava por necessidades).
Porém, essa característica também passa por transformação e ganha em épocas de
centralização e burocracia em torno do Templo outros ares. Não só entre os
judeus, mas a Igreja Católica Romana fizeram uso do “dia do senhor” para se
“assenhorear” dos filhos do Senhor, isto é, o dia para o descanso e contato com
o Divino  foi usurpado para interesses de
Poder do Templo(Igreja).
O desafio para
os dias de hoje são vários. Como propiciar que exista de fato uma “comunidade”,
elemento fundamental da cristandade e até onde podemos notar do próprio
judaísmo? Como construir comunidades em épocas de Shopping Center, da idéia de
“EU” autônomo? Ou seja, não só o Templo apossou das pessoas para fins do Poder,
mas os “Templos do Consumo” de nossos dias também o fizeram.
Qualquer idéia
terá que se vê com o árduo trabalho de sair da teoria e chegar à práxis. Penso,
contudo, que o caminho é o contato com a natureza. Palavra que logo nos faz
trazer a mente coisas ligadas a “new age” ou ao Romantismo, porém, após um
exercício de meditação, notaremos que se trata do “discurso ecológico”. Fé e
ecologia parecem-me a via real de podermos pensar e praticar o dia do descanso. Celebrar é retomar a
consciência ecológica ou o contato com a vida.
Enfim, sem
comunidade, como estamos na vida urbana, 
pensar sobre a palavra sacrifício,
festas e descanso
ganham outros ares, mais pertinentes a indústria do
entretenimento. Tomar contato com a natureza, no sentido da Ecologia moderna, é
o caminho para pensar uma comunidade cristã nos dias de hoje. Nesse sentido, as
palavras sem nexos propaladas nas mídias neo-pentecostais, especialmente para
os jovens, encheram de sentido, pois “texto e com-texto” serão reproduzidos.
Cídio
Lopes de Almeida
São
Paulo
Aproximadamente 20milhoes de
pessoas.
Ser comunidade, um desafio.  

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