A Maçonaria, a linguagem, a curiosidade

A Maçonaria, a linguagem, a curiosidade

A Maçonaria, a linguagem, a curiosidade

 

Professor Me. Cídio Lopes de Almeida.

 

Citar:

LOPES DE ALMEIDA, C. A maçonaria, a linguagem, a curiosidade. São Paulo: AMF3. 2010. (Acessado em http://amf3.com.br/maconaria-linguagem-curiosidade )

 

O título do presente texto é curioso. Ele pode querer apenas chamar a atenção do leitor. Inflando o ego do escritor, pois contará com muitos acessos, que comumente não se consuma em leitura de fato. Porém, minha intenção não é essa. Procuro nesse pequeno texto articular os três temas que coincidem com o título.

 

Meus textos para o CPnoticia são pensados como diálogo com a sociedade “penense”, presentes ou ausentes (USA). Sendo assim penso partilhar meus incipientes conhecimentos com todos os conterrâneos e provocar outro tipo de olhar sobre temas ligados à Teologia, Filosofia, Cultura, entre outros dos quais tenho formação acadêmica. Proponho, então, novos argumentos que possibilite a prosa cotidiana sair do “eu acho” para um “eu penso” como sinônimo de sistematicidade do pensar; do pensar complexo.

 

No exercício de ser agradável com as palavras, de produzir um texto que irá prender o leitor nas suas linhas, encontra-se um dilema ou obstáculo a ser pensado seriamente. Qual linguagem fazer uso? Convenhamos, há o riso de utilizar o palavreado corrente, imposto pelos bordões da TV e outros meios de comunicação de massa, e não comunicar nada de novo.

 

A problemática de qual linguagem utilizar para comunicar-se melhor é desafiadora, pois não se advoga o uso de palavreado rebuscado e desagradável. É dá natureza humana desejar falar (escrever) e ser compreendido. Seria estranho e no mais doentio alguém que tem prazer em escrever coisas incompreensíveis. Para resolver esse dilema e manifestar algo que me parece ser pertinente vou recorrer a GURDJIEFF. “Não vale a pena falar na linguagem comum, porque nela é impossível compreender-se. […] Para chegar a compreender, deve-se aprender outra linguagem. Na linguagem em que falam, as pessoas não podem se compreender”[i][i].

 

Com essa citação pretendo dizer que há o risco de pensarmos que só se for dito de modo fácil é que se diz algo. Penso que isso não pode ser verdade, pois a linguagem corriqueira, funcional para algumas coisas, não serve para pensarmos coisas mais complexas. Não dá para pensar que saber as quatro operações de matemática seja o suficiente para ser engenheiro e construir um prédio inteiro. Devemos, então, reconhecer que é preciso de outras habilidades e conhecimentos matemáticos para ser engenheiro, o mesmo se dá quando pretendo comunicar o que faz a Maçonaria. Não dá para explicar algo filosófico com um palavreado simplista.

 

Chegamos ao ponto do texto de relacionarmos as temáticas lançadas no início. A dificuldade de falar de maçonaria encontra-se exatamente na linguagem que fazemos uso para expressá-la. A grande maioria das pessoas está acostumada com um palavreado simplificado e, muitas das vezes, simplista. Dificultando e até mesmo impossibilitando qualquer convite reflexivo que necessite de um olhar mais refinado e perceptivo de uma gama enorme de elementos que constitui o real à nossa volta.

 

Para ilustrar os perigos da simplificação linguística quero recordar um pensamento clássico do escritor Oscar Wilde. Segundo ele, em um de seus romances, um Rei, para dominar seus súditos, decretou que a cada dia iria retirar uma palavra do vocabulário. Reduzindo ao mínimo de palavra a língua de seu povo. O resultado certamente foi uma nação de pessoas que não conseguiam se expressar, de dizer sobre si, de responder perguntas como “quem sou?” “para onde vou?”.

 

Uma população de palavreado tosco e chulo será lançada fatalmente na condição de repetidores de clichês ou serão os famosos “papagaios de pirata”. Essa mesma massa de pessoas sem cultura elaborada, e vivendo com uma cultura simplista, é a mesma que lançará na praça os bordões mais horripilantes de qualquer coisa que ela não compreenda. Mas como ele tem esse direito?

 

O curioso ou a curiosidade é nosso último tema. A curiosidade não é igual àquele pendor salutar para a investigação científica, filosófica ou contemplativa (dos místicos).  Amplamente valorizada no seio da Maçonaria na forma de culto à Verdade.  Ao contrário da boa investigação, o curioso é um tipo desprezível da sociedade de cultura de massa. O curioso não produz conhecimento, ele “bisbilhota”, ele tem vontade de conhecer, mas não quer ter o trabalho de apreender uma nova linguagem; é como se ele quisesse ser engenheiro, mas não quer aprender matemática.

 

São esses curiosos que produzem e distorcem o que é Maçonaria. Distorcem também, várias outras coisas.  Propagam uma falsa humildade, e, assim que oportuno, são capazes de construir complexos ataques difamatórios acerca dessa ou daquela Instituição. Aliás, Jesus Cristo foi vítima dos curiosos, daqueles que queriam receber pronto e não fazer nada. Mesmo fazendo uso de parábolas, que é um modo amigável de se conversar com as massas, foi compreendido de modo diverso de sua intenção.

 

Enfim, o propósito do presente texto foi articular os temas Maçonaria, linguagem e curiosidade. Destacando que não é possível conhecer Maçonaria sem obter uma polidez no trato da linguagem. Sem linguagem não é possível comunicar o que é Maçonaria e o que ela faz. O curioso, por não querer ir mais além, acaba não compreendendo o que é a Ordem e por falta de linguagem, conclui que se trata de algo sinistro ou que um bom texto, com propósitos claros (inicio, meio e fim), mentiu e não cumpriu seu propósito de apresentar o que é a Maçonaria.


Destarte, a Maçonaria é uma Instituição que busca a Verdade e o aprimoramento humano. Sua via de conhecimento de Deus é pela via da razão, faculdade que nos foi concedida pelo divino e que tem papel relevante na busca de uma vida melhor. Para os incautos e não dispostos a crescer, pratica-se a caridade ou filantropia e roga a Deus para que esses indivíduos, prisioneiros da ignorância, possam ser iluminados pela luz divina. Para isso, promove, e deveria promover muito mais, a cultura esclarecida.


 

[ii][i] GURDJIEFF In: OUSPENSKY, P.D.. Fragmentos de um ensinamento desconhecido. Trad. Eleonora Leitão de Carvalho. Ed. Pensamento: São Paulo. s/d. p. 38

 



 

 

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