Fenomenologia: si
Não podemos falar de cuidado de si, pois esse si é problemático. Primeiro ele é compreendido nos termos de um egoísmo, depois, resta nos perguntar o que é ser um si. 
Se tomarmos a problemática da consciência na fenomenologia, que se define como não sendo nada(Sartre), mas apenas como um movimento para fora, onde se encontra o si, o ser propriamente, cuidar de si seria outra coisa e não o egoísmo reinante. Cuidar, por exemplo, de aspectos universais, como a cosia pública, seria um autêntico cuidado de si. 
Se si não pode ser preso a tradicional ideia de um ego, um existente que se direciona a todos e a si no intuito de ter poder sobre eles, como podemos então definir a propriedade do eu? 
Um eu sem propriedade e mero movimento, transitoriedade ou para-si,(Sartre) torna-se algo por demais gelatinoso e confuso em épocas que estamos tão habituados a possuir. A ter as novidades da Apple. 
Mas engana-se quem pensa que possui não só o famigerado iPhone 7(sim, 6s é coisa passada), mas se possui ou seja possuidor da sua história. Dono ou dona do seu destino. Podemos dizer que pode haver tal vontade, mas sua relação com a realidade é outra coisa. 
Por sermos consciência e por essa não ser(nada), estamos sempre indo, seja na direção das coisas e, mais radical, na direção de nós mesmos. E é por isso que se vende tantas coisas, mesmo que efetivamente não precisamos delas. Isso é a prova de que não somos definidos, pois se fossemos nos bastaria. Somos, então, esse eterno movimento de busca de nós mesmos; e a promessas das mercadorias se encaixam exatamente nessa condição de eternos buscadores. 
Nesse ponto lembro-me da ideia do ser lusitano. Aquele que se condenou a ir sempre; e talvez o povo que percebe coletivamente essa condição desde aquele movimento de melancolia nacional denominado de sebastianismo. 

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